Os Afro-Sambas - Baden Powell, Quarteto em Cy e Vinícius de Moraes - LP- 1966 - Forma/Philips
01- Canto de Ossanha; 02- Canto de Xangô; 03- Bocoché; 04- Canto de Iemanjá; 05- Tempo de amor; 06- Canto do caboclo Pedra Preta; 07- Tristeza e solidão; 08- Lamento de Exu;
Músicas e letras da autoria de Baden e Vinícius
Ficha Técnica:
Produção e direção artística: Roberto Quartin e Wadi Gebara.
Técnico de gravação: Ademar Rocha;
Contracapa: Vinicius de Moraes;
Fotos: Pedro de Moraes;
Capa: Goebel Weyne;
Arranjos e regência: Maestro Guerra Peixe;
Vocais: Vinicius de Moraes, Quarteto em Cy e Coro Misto;
Sax tenor: Pedro Luiz de Assis;
Sax barítono: Aurino Ferreira;
Flauta: Nicolino Cópia;
Violão: Baden Powell;
Contrabaixo: Jorge Marinho;
Bateria: Reisinho;
Atabaque: Alfredo Bessa;
Atabaque pequeno: Nelson Luiz;
Bongô: Alexandre Silva Martins;
Pandeiro: Gilson de Freitas;
Agogô: Mineirinho;
Afoxé: Adyr Jose Raimundo;
No início dos anos sessenta Vinicius de Moraes foi presenteado pelo baiano Carlos Coqueijo Costa com um exemplar do LP Sambas de Roda e Candomblés da Bahia, disco esse que impressionou profundamente o poeta descortinando para ele uma vertente da música popular que ele ainda não havia descoberto. Vinicius então mostra o disco a Baden Powell seu parceiro mais constante na ocasião e este também se encanta.
Em 1962 Baden visita a Bahia para apresentar um show com Silvia Teles no Country Club, familiariza-se com artistas e intelectuais baianos, demonstra seu interesse pelas tradições afro baianas e acaba sendo apresentado ao capoeirista Canjiquinha que o leva a terreiros, rodas de capoeira e o mais importante interpreta para ele os cânticos e sons do candomblé. Baden fica fascinado, não propriamente pelo sentido místico do que vira, mas sim pela beleza das harmonias do que ouvira.
Ao se reencontrar com Vinicius compõe o samba Berimbau e resolvem iniciar uma série de canções sobre a cultura afro brasileira. Nessa época Baden Powell estava estudando canto gregoriano com o maestro Moacyr Santos e percebeu que eles tinham semelhança com os cânticos afros que havia ouvido na Bahia e inspirando-se nessas duas influencias resolve então compor uma série de temas mesclando-os com a batida do samba (que na verdade é um ritmo oriundo dos terreiros) surgindo assim uma nova modalidade musical, os afro sambas no dizer de Vinicius de Moraes e que seria uma característica inconfundível na obra musical de Baden.
Passados os momentos de estudo e assimilação da temática os dois parceiros estavam prontos para iniciar a realização das canções e assim surge “Canto de Ossanha”, “Canto de Xangô”, “Bocoché”, “Canto de Iemanjá”, “Tempo de amor”, “Canto do caboclo Pedra Preta”, “Tristeza e solidão” e “Lamento de Exu”. Findo o trabalho partiram então para a gravação das músicas num LP intitulado de Os Afros Sambas, produzido por Roberto Quartin dono da etiqueta Forma e com arranjos de Guerra Peixe.
Gravado nos dias 3, 4, 5 e 6 de janeiro de 1966, o disco conta com a participação do Quarteto em Cy e com um coro misto formado por amadores ligados por amizade aos autores, aliás como bem definiu Vinicius, um “coro da amizade” pois a intenção apesar dos arranjos elaborados, era dar um tratamento simples, despojado e espontâneo a gravação. Nesse coro estão presentes Eliana Sabino, filha do escritor Fernando Sabino, Bety Faria, iniciando sua carreira artística no teatro e na dança, Tereza Drumond, namorada de Baden, Nelita, então esposa de Vinicius, Dr. César Augusto Parga Proença, psiquiatra e o medico Otto Gonçalves Filho.
Baden sempre reclamou da qualidade de gravação deste disco. Guerra Peixe rebatia, dizendo que queria recriar a atmosfera de "terreiro", com a qualidade sonora um tanto quanto precária. Aparentemente, nos parece que não foi possível realizar a captação de um modo mais limpo devido ao grande número de instrumentos de percussão... Baden estava certo: as vozes se embolam e não dá prá entender muito bem o que Vinicius canta em algumas faixas... sorte que as músicas são excelentes, verdadeiros diamantes da MPB: eternos e indestrutíveis!
Apesar de já estar definitivamente inserido como um dos mais importantes discos da música popular brasileira, o comentário de Vinicius de Moraes na contra capa do LP é mais elucidativo do que qualquer outra observação que se queira dar ao trabalho: “Essas antenas que Baden tem ligadas para a Bahia e, em última instância para a África, permitiram-lhe realizar um novo sincretismo: carioquizar dentro do espírito do samba moderno, o candomblé afro brasileiro dando-lhe ao mesmo tempo uma dimensão mais universal (...) nunca os temas negros de candomblé tinham sido tratados com tanta beleza, profundidade e riqueza rítmica (...) é esta sem dúvida a nova música brasileira e a última resposta que da o Brasil, esmagadora à mediocridade musical em que se atola o mundo. E não digo na vaidade de ser letrista dos mesmos; digo-o em consideração a sua extraordinária qualidade artística, à misteriosa trama que os envolve: um tal encantamento em alguns que não há como sucumbir à sua sedução, partir em direção ao seu patético apelo”.
Palavras proféticas as do poeta, pois, parece-nos cada vez mais distante e difícil produzir-se obras tão magníficas em função da “mediocridade musical em que se atola o mundo”.
Para ouvir a faixa 6, "Canto do Caboclo Pedra Preta, clique abaixo:
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