Thursday, April 22, 2010

Villa da Macumba


Villa curtia mesmo era um bom saravá!! Olha só o charutão do homem!!

Villa Lobos, nosso maior músico era um daqueles "meninos" - tais como Pixinguinha, Donga e outros bambas - que frequentavam a casa de Tia Ciata, mãe de santo famosa no Rio. Bom, é claro que ninguém divulga isso, mas nós não podemos ficar calados frente à essa ignomíniosa questão e botamos o berro, pois muitas de nossas maiores pérolas musicas surgiram ali, no terreiro da Yiá Omin.

Mestre Villa possui em seu repertório belíssimos cânticos inspirados nas melodias de terreiro e nos cânticos religiosos de nossas Umbandas, Candomblés, Encantarias etc.

Xangô é um canto de macumba escrito em 1919, com texto de autor desconhecido. É uma das Canções Típicas Brasileiras de Villa-Lobos e integra o segundo volume de Canto Orfeônico, coletânea de marchas, canções folclóricas e hinos, publicada em 1950 e destinada à educação musical. A primeira execução desta obra foi em 1930, em Paris, sob regência de Villa-Lobos.

Aqui ouvimos essa maravilha com o coral da Osesp:


Para ouvir "Xangô" clique abaixo:







Em 2000 fomos convidados a participar - tocando percussão: congas, apito, cowbell, blocks, bumbo, pratos e carrilhão - de uma apresentação com o Coral e a Orquestra de São José do Rio Preto, numa homenagem a Villa Lobos. Encontramos em nossos arquivos a gravação daquele dia (que pensávamos ter perdido). "Estrela do céu é Lua Nova" é uma das mais conhecidas canções "macumbísticas" de Villa Lobos.
Saravá Villa Lobos!!


Para ouvir "Estrela do céu é lua nova", clique abaixo:





Monday, April 19, 2010

Tam... tam... tam... 1958 (?)

Tam... tam... tam... - LP - Polydor - 1958 (?)

01.Imbarabo; 02.Imbaê Sofá; 03.Nanã Imborô; 04.Fá-eu-á; 05.Oniká; 06.Ogum olojô; 07.Maracatu de Dona Santa; 08.De Luanda ô; 09.Maracatu Elegante; 10.Nêga Zefinha; 11.Tem Brabo no samba;

Disco raríssimo, uma preciosidade praticamente perdida e desconhecida no Brasil. Também conhecida como Brasiliana, peça do escritor polonês Miécio Askanazy, de muito sucesso nos anos 30 na Europa. A orquestra é excelente, com vocais e solo de Ivan de Paula, cantor muito requisitado no período quando se tratava de executar pontes musicais entre música de terreiro, música erudita e música popular com orquestra. A gravação da época deixa um pouco a desejar, e com o estado do disco o resultado sonoro não é muito bom (apesar da recuperação que fizemos).

Com arranjos e direção de José Prates, o lado A é essencialmente baseado em música de terreiro, conforme está descrito nos rótulos do disco, são Macumbas, Candomblés e um Batuque no lado B. As outras faixas são composições regionais, Maracatus, Sambas e Lamentos. Percebe-se que a estética da época (veja a foto da capa) tenta imitar a concepção americana de "South Music", que mais tarde derivou na conhecida "Salsa", um estilo surgido da pobreza auditiva norte-americana que não sabia diferenciar rumbas de sambas, boleros de xotes, nem merengues de maracatus. Para a indústria era tudo a mesma coisa e a estética visual também pegou por lá, mas no Brasil bem menos, felizmente.




Aqui apresentamos a interessantíssima faixa 3, "Nanã Imborô", música obviamente baseada em alguma canção de terreiro, mas que mais tarde gerou a canção de Jorge Ben, "Mas que Nada", sucesso atual no batidão eletrônico da banda Black Eyed Peas. Ou não???
Para ouvi-la clique abaixo e tire suas conclusões:


Tuesday, April 06, 2010

Os Negros do Rosário


OS NEGROS DO ROSÁRIO - LP - SONHOS & SONS - 1988

01.Abá Cuna Zambi Pala Oso (Pedrinha de Lourdes Santos); 02.Nêgo véio / Ela que mandou (Hélio Evangelista do Carmo); 03.1888 (Domínio Público); 04.Beija-fulô/ ai, pavão...Quando Deus andou pro mundo (Domínio público); 05.Ô, minha mãe / Meu coração está doendo(José Manoel)/ ( Maria das Graças de Morais, Celso Dimas Pinto,Francisco Machado da Silva)06.Tamborim / Balaim de fulo/ Vamos coroar (Domínio Público); 07.Toque de Catupé (Lázaro da Silva); 08.Vilão de Nossa Senhora do Rosário; 09.Vilão de Santa Efigênia; 10.A volta do mundo/ Dói coração / Chorei chorar (Domínio Público); 11.Mariazinha (domínio público adp. Pedro Aponízio dos Santos); 12.Ê, princesa/ Beira –mar-ô (Valdemir de Souza); 13.Ê, minha mãe / Virgem mãe das Mercês / Eu sou de voto / Venha ver (Antônio Eustaquio dos Santos); 14.Engoma / Olé-Oleleô/ Taquaia; 15.Na (Sebastião Pinto de Souza ,d.p. adapt);

Grupos que participam do disco:

Lado A: 01 – Moçambique de Nsra das Mercês; 02 – Moçambique de São Benedito; 03 – Catupé de Nsra do Rosário; 04 – Catupé de São Benedito; 05 – Moçambique de Santa Efigênia, Catupé de Nsra das Mercês; 06 – Moçambique de Santa Efigênia, Catupés de Nsra do Rosário e Santa Efigênia; 07 – Catupé de São Benedito;

Lado B: 01 – Moçambique de Nsra Das Mercês; 02 – Vilão de Nsra. Aparecidade; 03 – Catupé de N.Sra. do Rosário (Bairro da Graça); 04 – Catupé de N.sra. do Rosário (Rua da Preguiça); 05 – Moçambique de N.Sra. Aparecida; 06 – Vilão de N.Sra. do Rosário; 07 – Moçambique de N.Sra. do Rosário;

Este disco foi gravado entre setembro de 1986 e setembro de 1987 nas ruas de Oliveira/MG durante a Festa de Nossa Senhora do Rosário.

A música e a cultura Bantu ainda hoje permanecem um mistérios para nossa gente, quer seja pelas inúmeras nações que aqui aportaram, com suas variadíssimas manifestações de religiosidade, quer seja pela presença portuguesa que já era forte em terras de Angola/Congo desde o século 16. Desde que os portugueses chegaram ao Golfo da Guiné, o cristianismo entrou lá e pegou. Em 1533, foi criada a diocese de Cabo Verde e Guiné. Outra diocese fundada no reino do Congo já celebrou os seus 400 anos de existência, assim, muitos escravos bantos do Brasil já eram cristãos na África. Assim, muitos povos Bantu já chegaram ao Brasil catequizados, ou trouxeram suas manifestações religiosas e culturais já sincretizadas com os sistemas católicos e/ou mesmo muçulmanos e judaicos, expressos fortemente no Congado Mineiro, essa manifestação que já existia em Portugal - celebrada pelos negros - antes mesmo da descoberta do Brasil.

No Golfo da Guiné, a recepção do cristianismo não foi passiva. No reino do Congo, surgiram algumas manifestações afro-católicas. A jovem Beatrice Kimpa Vita liderava um movimento de Sto. Antônio, que africanizava o cristianismo, procurando fazer retroceder, de forma inteligente, a dominação religiosa. Ela encarnava Santo Antônio e disse que Jesus e muitos santos nasceram no Congo. Beatrice foi condenada pela inquisição e morreu na fogueira, em 1706. Curiosamente, no Brasil, encontramos Luiza Pinta, escrava de Angola e devota de Santo Antônio em Sabará (MG), que foi torturada pela inquisição, em Lisboa no ano de 1742. Quem sabe, a Luiza tenha pertencido ao movimento da Beatriz? E quem sabe, o sincretismo de Santo Antônio com as divindades guardiãs (os Njilas, Baras e Exus), não tenha se iniciado já na África e não no Brasil, assim como outras divindades Jeje e Yorubás?


Em 1526, já havia na ilha de São Tomé a irmandade dos "Homens Pretos". Outras irmandades do Rosário existem no Congo, na Angola e em Moçambique, desde o séc.XVII. Antes de 1552, já existia no Brasil uma irmandade para os escravos da Guiné, segundo Frei Odulfo van der Vat e outros historiadores. Em 1610, o rei do Congo entrou na irmandade do rosário fundada por Fr. Lourenço O.P., em Mbanza, capital do Reino do Congo. Assim, as irmandades do rosário surgidas no Brasil, não vieram só da Europa, mas também da África. Provavelmente, houve escravos africanos que já vieram para cá como irmãos do rosário.

E como Nossa Senhora do Rosário entrou na devoção dos negros, em Portugal, na África e no Brasil? Uma lenda contada em todas as irmandades coloca a Senhora do Rosário como sendo a origem do congado (assim, há que se verificar as origens de cultos no Brasil, tais como o Omolokô, que têm relação profunda com as festas do Congado Mineiro). A irmandade do rosário (dos brancos) fundada na Alemanha em 1409, chegou a Lisboa em 1478. A mais antiga menção a uma “Confraria de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos” encontramos em 14 de julho de 1496, portanto quatro anos antes da chegada dos portugueses ao Brasil. Esta informação consta num alvará dado à dita confraria, sita no mosteiro de S. Domingos de Lisboa, "para poderem dar círios e recolher as esmolas nas caravelas que vão à Mina e aos rios da Guiné". Para quem gosta de comprovações acadêmicas, encontra-se este importante documento no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa: Confirmações Gerais, L.2 fls.107v.-108.


Chegando aqui, os Lunda, Kassange, Kongos, Angolas, Moçambique e tantos outros, ao se relacionarem com seus aparentados sudaneses fizeram uma nova conexão cultural, que resultou nas várias formas de culto e musicalidade que vemos hoje no país.
Um exemplo disso é a faica de abertura do disco, onde se ouve na voz de dona Lourdes, um dialeto curioso, onde a mistura de Yorubá, Umbundo além de palavras em Tupi e Português resulta numa sonoridade suave e tão brasileira que dá gosto de ouvir. Os tambores são executados em células simples, mas com um peso hipnótico, sendo tocados por horas a fio, talvez lembrança das festas intermináveis dos povos Lunhaneka e Kikongo.
Para ouvir a faixa 01, "Abá Cuna Zambi Pala Oso", clique abaixo:





Monday, April 05, 2010

Sons e Vozes do Brasil - AFOXÉ FILHOS DE GHANDI - 2006

Sons e Vozes do Brasil - AFOXÉ FILHOS DE GHANDI - 2006 - CD - Atração

01.Cântico para Exú; 02. Hino de Saudação: Cântico de Ogum; 03.Cântico de Elevação; 04.Cântico de Elevação II e III; 05.Romaria de Gandhi (Dia de Romaria): Cânticos de elevação IV e V; 05.Cântico de Elevação VI: Cântico de Descanso; 06.Cântico de Despedida;


Em 1948 os estivadores eram tidos como privilegiados, dadas às condições econômicas da época que lhes favorecia e ao fato de não terem patrões. O trabalho era fiscalizado pelo próprio sindicato dos estivadores, o que lhes conferia um certo status. Data desse ano a fundação do bloco "Comendo Coentro", composto de um caminhão em que se instalaram vários instrumentos musicais, seguido dos estivadores, trajados finamente com o que de mais elegante existia: roupas de linho importado, chapéus "Panamá" e sapatos "Scamatchia".

A festa era regada a muita comida e bebida e os estivadores chegavam a alugar barracas para a farra carnavalesca. Em 1949 com a política de arrocho salarial, numa verdadeira economia de pós-guerra, o Governo Federal interviu nos sindicatos, inclusive no sindicato dos estivadores, o que fez decair a renda dos sindicalizados. O "Comendo Coentro" não pode sair às ruas devido à crise financeira que se abateu sobre os estivadores e porque eles não queriam desfilar em condições inferiores as do ano anterior. Surgiu, então, a idéia de levar um "cordão", ou bloco de carnaval, idealizado por Durval Marques da Silva, o "Vava Madeira", com o apoio dos demais estivadores arrecadaram dinheiro e foram às compras, adquirindo lençóis para serem utilizados na confecção dos trajes, barris de mate e couro, com os quais construíram os tambores utilizados no acompanhamento do cortejo. O nome do bloco foi sugerido por "Vava Madeira", inspirado na vida do líder pacifista Mohandas Karamchand Gandhi, trocando-se, entretanto, a letra "i" por "y", com a intenção de evitar possíveis represálias pelo uso do nome de uma importante figura do cenário mundial. Batizou-se então o bloco com o nome "Filhos de Gandhy".

Ouve-se aqui a mais característica derivação do ritmo Ijexá (um dos ritmos sagrados dos cultos afro-brasileiros) na música popular: o Afoxé. Interessante reparar na afinação dos agogôs e gans que fazem uma combinação harmônica que dá a base para os cânticos e os clarins. Embora o disco não consiga captar a força do afoxé ao vivo (dificilmente se consegue captar o poder da percussão em estúdio), ainda assim o cd é muito bom, um ótimo registro de uma de nossas mais importantes tradições de raiz e ancestralidade.



Para ouvir a faixa 01, "Cântico de Exu", clique abaixo: