Wednesday, February 25, 2009

LANÇAMENTO DO CD "VAMOS SARAVÁ"!!

Dia 13 de fevereiro de 2009 foi realizado o lançamento do cd histórico "Vamos Saravá" da Tenda de Umbanda Caboclo Caramã e Pai Cesário de Olímpia, um resgate da história da Umbanda, já que trata-se de um templo cuja origem de fundação remonta a mais de 100 anos atrás.
O lançamento se deu no TEV - Templo da Estrela Verde do Caboclo Trovão em São José do Rio Preto e contou com a presença de mais de 30 terreiros da região, que vieram prestigiar àquelas que são carinhosamente chamadas por todos como "as meninas de Olímpia".


Mãe Jesuína com o disco "Vamos Saravá" em mãos

Representantes dos vários templos que compareceram no lançamento


Mãe Jesuína e sua descendência, netas e bisnetos

Lançado pela gravadora Ayom Records, a confraternização se deu num clima de muita paz e harmonia entre todos os presentes. Logo em seguida, mestre Obashanan deu início ao rito de caridade onde todos os templos trabalharam juntos, sob uma mesma bandeira, a bandeira da branca da Umbanda.

Tuesday, February 17, 2009

BOUBACAR TRAORÈ


Boubacara Traorè - Cassete - 19? - Syllart Production - Lado A - 01.Mariama; 02.Benidmamogo; 03.Mantjini; 04.Diarabi; LADO B - 01.Kele; 02.Kayes Ba; 03.Khobe Natuma; 04.Pierrete;

Boubacar Traorè: um pequeno motivo para entender porque a África é tão importante!

Vasculhando nossa coleção musical para catalogar, digitalizar, acoplar ao acervo ou simplesmente para jogarmos fora, nos deparamos com algumas fitas que adquirimos quando de nossa estadia na África, em um intercâmbio. Estivemos em cinco países e ao passarmos pela Nigéria, encontramos vendedores ambulantes que comercializavam fitas cassete. A indústria de vinis na época (ainda não existiam mp3 ou cds, moçada, é... faz tempo isso...) era muito fraca nos países centro-africanos, por isso o mercado de fitinhas era bem intenso e porque não dizer, gigantesco. Sabemos hoje que na verdade o povo africano (de qualquer país ou etnia) tem uma verdadeira paixão por fitas cassete. Uma das alegações - bem discutível - é que elas funcionam melhor nos carros em locais inóspitos, por causa de poeira e calor, mas a verdade é que os africanos têm um verdadeiro xodó pelas enroladinhas e hoje há, inclusive muitos colecionadores de fitas e – pasmem – até mesmo artistas que se recusam a entrar no mercado de cd ou mp3 oficialmente, tal como aconteceu no início da decadência dos LPS, em que algumas gravadoras tentaram heroicamente resistir à invasão digital.

Tínhamos 19 anos na época e compramos bastante música num mercado de Lagos, em especial algumas fitas de canto dos versos do Ifá (diga-se logo de péssima qualidade sonora), algo raríssimo e completamente esquecido, uma vez que os versos devem ser cantados e não somente recitados. Babalaôs eram verdadeiros Griots, pessoas especializadas em contar histórias através do canto e mais do que isso, preservar a memória de seu povo e da humanidade, relembrando fatos heróicos e fatalidades que devem ser evitadas. Na Nigéria eram iniciados em Ayan Poolo, o deus da música de cordas.


A importância dos Griots era tanta, que no século 13, Sundiata Keita lutou contra o tirano Suamoro Kantê, que dominava região localizada na Costa Oeste do continente africano. Da batalha de Kirina, como ficou conhecida, surgiu o poderoso Reino do Mali, do qual Sundiata foi o primeiro Imperador. Para que essa história pudesse chegar aos nossos dias, foi sendo ininterruptamente transmitida oralmente pelos griots, os guardiões da memória histórica nessa região da África. Por sua importância, os griots eram os únicos que não poderiam ser mortos durante uma batalha. Eles seguiam à frente dos exércitos, cantando e tocando, ajudando na sua condução, observando a tudo e a todos para guardar os feitos e os fatos.

Foram os griots que chegaram ao povoado anunciando a vitória de Sundiata que também foi responsável por encontrar uma saída para que o seu exército poupasse a vida dos subjugados, promovendo, por meio de um pacto, a conciliação entre ganhadores e perdedores. Os griots puderam narrar então não apenas a vitória contra o opressor, como também o bom convívio instaurado por Sundiata ao fim do conflito armado.

Mas este nosso artigo visa tratar de uma das fitas que compramos naquele mercado, um dos mais belos achados que já tivemos o prazer de escutar em nossa existência (aos 19 anos nossa vida era praticamente voltada em sua grande parte para atividades menos nobres do que lidar com música). Foi uma emoção muito grande recuperar essas gravações, fui às lágrimas quando a ouvi novamente. Suas canções estavam esquecidas em minha alma e é sempre bom nos reconhecermos novamente através de uma canção...

Ele se chama Boubacar Traorè, um antigo artista de Mali, um Griot. É praticamente desconhecido no resto do mundo. A língua Fula é utilizada por ele para cantar as tristezas e glórias de seu povo, apenas lembrando que a língua Fula é oficial no Senegal, Mali, Mauritânia, Nigéria e outros países ao norte e centro-africanos.

Traoré nasceu em 1942 e começou a ser conhecido em 1962, quando cantava contra as injustiças de seu país. Sua música é classicamente pentatônica, como é comum na região em que vive e em vários países do mundo em que a estrutura modal ainda é a força musical das comunidades humanas tradicionais. Os tempos são em 2/4, 4/4 e algumas canções em 5 e 7 tempos, evidentemente devido à conexão com o mundo árabe. Mas Traorè traz mais do que som em sua música, traz a dor de todo aquele que é oprimido e traz a alegria e o alívio de quem se livra da opressão. Seu timbre lembra alguém velho, mas ainda com força para procurar novos tempos. Escute uma das faixas que recuperamos da fitinha, “Diarabi”: se prestar atenção, sentirá porque a raça negra foi quem, na verdade, conquistou o continente americano e não o branco europeu. Praticamente toda a cultura musical de nosso continente está ali! Escute e ouvirá em algum lugar naquelas notas sobrenaturais o canto triste do bluesman americano, os timbres e cores da música sertaneja, do Baião e da Milonga Rio-grandense. Lá dentro daqueles timbres está o passado de Bob Dylan, estão Cartola, Piazzolla e Tom Jobim, estão Rolling Stones, Beatles, Led Zeppelin e Pink Floyd, estes, ingleses que se renderam ao Blues americano, herdeiro direto do modo como Boubacar faz o glissando no violão. Lá estão a música árabe e o Klezmer judaico, juntos, sem conflitos, tão antigos quanto a música milenar africana. Escute Boubacar, sem preconceitos. Lá estão o Candomblé e a Umbanda, minha gente, naquela voz cansada e naqueles dedos antigos e desconhecidos, a cor-sem-cor de um espírito africano que abraça o mundo, que herdamos e ainda não entendemos, infelizmente, mas que pela beleza e senioridade, devemos sempre pedir a benção, respeitosamente...

Para ouvir a faixa 04, "Diarabi", clique abaixo:

Monday, February 02, 2009

LANÇAMENTO!! VAMOS SARAVÁ!!



VAMOS SARAVÁ - TENDA DE UMBANDA CABOCLO CARAMÃ E PAI CESÁRIO


Uma família de negras que cantam e tocam seus tambores como índias, mostrando o poder de síntese da Umbanda e sua capacidade de interrelação cultural e racial. Gravado ao vivo, este cd é um importantíssimo registro de uma antiga escola ritual de canto e toque que se espalhou pelos quatro cantos do Brasil. E o mais importante: um templo que é origem de várias manifestações culturais - tais como o Terno de Congada Chapéu de Fita - de Olímpia, a Capital do Folclore e que faz seus ritos em silêncio, humildemente e sem alarde desde 1897.

Série Umbanda: 100 anos... ou mais?