Sunday, September 13, 2009

Pontos da Jurema - 2008


Pontos da Jurema - cd - Capitania das artes - 2008

01.Depoimento; 02.Abertura; 03.Abertura; 04.Abertura-Jurema; 05.Rei Tupinambá; 06.Saudação a Caboclo; 07.Cabaclo Aracati; 08.Caboclo Saraputinga; 09.Rei Salomão; 10.Mestre José Pelintra; 11.Mestre José Pelintra; 12.Cibamba; 13.Mestre Zé da Virada; 14.Zé Bebinho; 15.Saudação a Codó; 16. Mestre Antônio Olímpio; 17.Mestra Joaquina de Aguiar; 18.Malunguinho; 19.Luziara; 20.Luziara; 21.Mestre Manoel Maior; 22.Mestra Maria do Acais; 23.Mestre Benedita; 24.Mestre Germano; 25.Jurema, ponto de defesa; 26.Jurema pau de ciência; 27.Jurema, pau sagrado; 28.Candeinha; 29.Subida dos Mestres e Caboclos;

A prática da Jurema nordestina, também conhecida como Catimbó, é parte de um longo processo de transformação e assmilações culturais que se difundem pela região, sendo encontrada nas comunidades indígenas e no interior de diferentes religiões afro-brasileiras. A Jurema compõe um complexo de concepções e representações em torno da planta Jurema e se fundamenta no culto de possessão aos mestres, cujo objetivo é curar os doentes e resolver os problemas práticos da vida cotidiana, como os infortúnios amorosos e profissionais. Além dos mestres, outra categoria de espíritos é significativa, o Caboclo, ao qual se atribui identificação indígena e conhecimento de ervas e raízes. Esse complexo inclui ainda a bebida preparada com a casca da Jurema e o uso da fumaça dos cachimbos nos rituais.

A organização interna do culto pod eser dirigida por homens ou mulheres. Os objetos litúrgicos, denominados de marcas, resumem-se no Maracá (uma espécie de chocalho), no cachimbo e na Princesa (uma bacia de louça com fumo). O acompanhamento faz-se por meio de instrumentos de percussão (Maracá e palmas), podendo ainda serem acrescidos os tambores Ilus. A cerimônia ritualística principal, do culto é a denominada mesa, realizadas em sessões reservadas de consulta ou durante as festas públicas de consagração dos juremeiros. A cerimônia mais frequente, no entanto é o Toque da Jurema, sessão pública destinada á consulta verbal ás entidades, por ocasião do transe mediúnico, para atender aos pedidos dos interessados. Em forma de roda, gira, os integrantes cantam e dançam, ao som dos Maracás e Ilus; bebem jurema, consomem bebida alcoólica e fumo, num continuum entre ordem e desordem, marcando o caráter lúdico e transgressor do ritual.

Este registro é belíssimo, trabalho ímpar de nosso mano, o mestre Luiz Assunção (veja a capacidade do homem aqui: http://lassuncao.blogspot.com/ ). Um disco muito bem produzido, com um cuidado poucas vezes visto na escolha de repertório, onde imperou principalmente o respeito incondicional à característica do canto e da interpretação ritual.

Olha Luiz, cabra da peste, que venham mais trabalhos como este do vasto mundo da Encantaria (quem sabe sobre o Baião de Cura, a Barquinha, da Baía do Lençol, do Sebastianismo - origem de tudo - ou as inúmeras manifestações do Daime?), pois é gente como você que traz de volta a unidade perdida das legítimas manifestações religiosas brasileiras, cada vez mais à sombra dos edifícios do nazismo neopentecostal.

Para ouvir a faixa 26, "Jurema, pau de ciência", clique abaixo:




Agora, o especial do Fantástico sobre Jurema!!

Wednesday, September 09, 2009

Bezerra da Silva - O rei do Coco - 1975

Bezerra da Silva - O rei do Coco - LP - Tapecar - 1975

01 - O Rei Do Côco; 02 - Língua Grega; 03 - Valente Na Boca Do Boi; 04 - Côco De Itambé; 05 - Rapa Cuia; 06 - Côco Do Tato; 07 - A Coisa Mudou; 08 - Côco Do B; 09 - O Catimbozeiro; 10 - Vai Chover Hoje, Urubu; 11 - Lei De Bahia; 12- Rima de doê;

Bezerra da Silva (Recife, Pernambuco, 23 de fevereiro de 1927 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 2005) foi o cantor, compositor, percussionista e violonista brasileiro, considerado o embaixador dos morros e favelas. Cantou sobre os problemas sociais encontrados dentro das comunidades, se apresentando no limite da marginalidade e da indústria musical, pois seus principais temas foram os problemas sociais dentro das comunidades. É considerado um dos principais expoentes do samba do estilo partido alto, embora em seu início de carreira tenha começado a cantar cocos e forrós - foi o primeiro zambubeiro da banda de Zé Ramalho.

Desde sua infância foi ligado à música e sempre “sentiu” que tinha o dom de tocar, causando atritos com a família, principalmente com seu pai, da Marinha Mercante que saiu de casa quando Bezerra era pequeno, vindo morar no Rio de Janeiro. Bezerra, depois de também ingressar - e ser expulso - da Marinha, descobriu o paradeiro do pai e veio atrás dele, com o qual foi morar. Após muitas brigas, foi morar sozinho, no Morro do Cantagalo, trabalhando como pintor na construção civil, trabalhando a noite como percussionista. Logo entrou em um bloco carnavalesco, onde um dos componentes o levou para a Rádio Clube do Brasil, em 1950.

Nos anos sessenta, ficou sem emprego e durante sete anos viveu como mendigo nas ruas de Copacabana, onde tentou suicídio e foi “salvo” por um caboclo da Umbanda de um terreiro onde se tornou seguidor. A partir daí passou a atuar como compositor, instrumentista e cantor, gravando seu primeiro compacto em 1969 e o primeiro LP seis anos depois.

Inicialmente gravou músicas sem sucesso, cocos e forrós. Mas a partir da série Partido Alto Nota 10 começou a encontrar seu público. O repertório de seus discos passou a ser abastecido por autores anônimos (alguns usando codinomes para preservar a clandestinidade) e Bezerra notabilizou-se por um estilo Sambandido (ou Gangsta Samba), precursor mesmo do Gangsta Rap norte-americano. Antes do Hip Hop brasileiro, ele passou a transmitir do outro lado da trincheira da guerra civil não declarada: “Malandragem Dá um Tempo“, “Seqüestraram Minha Sogra“, “Defunto Cagüete“, “Bicho Feroz“, “Overdose de Cocada“, “Malandro Não Vacila“, “Meu Pirão Primeiro“, “Lugar Macabro“, “Piranha“, “Pai Véio 171“, “Candidato Caô Caô". Gravou ainda alguns discos de Exu pela antiga gravadora Tapecar e Cáritas, mas sem serem creditados seus vocais.

Morreu em 2005 após virar evangélico (já não estava mais lúcido!), aos 77 anos de idade, perto de completar 78, eternizando-se no mundo do samba.

Para ouvir a faixa 09 "O Catimbozeiro" clique abaixo:



Tuesday, September 01, 2009

Raul Seixas - Krig-Ha, Bandolo! - 1973


Raul Seixas - Krig-Ha, Bandolo! - LP - Phillips - 1973

01-Introdução_Good Rockin' Tonight; 2-Mosca Na Sopa; 03-Metamorfose Ambulante; 04-Dentadura Postiça; 05-As Minas do Rei Salomão; 06-A Hora Do Trem Passar; 07-Al Capone; 08-How Could I know; 09-Rockxixe; 10-Cachorro Urubu; 11-Ouro de Tolo;

Raul Santos Seixas (Salvador, 28 de junho de 1945 — São Paulo, 21 de agosto de 1989), conhecido por "Maluco Beleza", foi um dos maiores gênios da música brasileira, pioneiro do Rock no país. Filho do casal Raul Varella Seixas e Maria Eugênia Seixas, Raul cresceu na cidade de Salvador um tanto estagnada, alheia aos progressos de uma modernidade que passava ao largo da capital baiana. Tinha um irmão, quatro anos mais novo, Plínio Seixas. Em casa obtém uma cultura que o faz adiantar-se àquilo que era ensinado nas escolas, mergulhando nos livros que tinha à disposição, na biblioteca do pai. Até o final de sua vida, sempre foi avançado para sua época, o que é comprovado pelas músicas por ele compostas e que até hoje são executadas. Como seu parceiro musical Paulo Coelho já disse: "Raul Seixas não é passado, é presente! Futuro!".

O público que se acostumou a ouvir no rádio sucessos como "Lágrimas Nos Olhos", com José Roberto, "Ainda Queima A Esperança", com Diana, ou ainda "Playboy", com os Blue Caps e "Doce Doce Amor", com Jerry Adriani (seu grande amigo), nunca imaginaria que todos este hits eram da autoria daquele baiano magérrimo e torto que aparecia sem camisa, costelas à mostra, na capa daquele LP de título estranho (na verdade, "Krig-Ha-Bandolo" era uma frase dita por Tarzan, nos antigos gibis), cujo sucesso, "Ouro De Tolo", estava nos primeiros lugares de todas as rádios do país. A letra desta canção, além de muito inteligente, mostrava a realidade de um cidadão classe média que "devia estar alegre e satisfeito por morar em Ipanema depois de ter passado fome por dois anos na Cidade maravilhosa".

A sonoridade da música se assemelhava a um sucesso de Roberto Carlos da mesma época, "Rotina". Embora o arranjo fosse parecido, a letra não tinha nada a ver com as imagens poéticas da canção do rei. A letra de "Ouro de tolo", na verdade fazia um contra-ponto com outra letra de Roberto, "A Montanha", do ano anterior, 1972. Roberto cantava "obrigado, Senhor, que o Sol nasceu, obrigado Senhor, eu agradeço...". Raul: "...eu devia agradecer ao Senhor por ter tido sucesso na vida..." Devia, mas não agradecia.
Por estas e outras - principalmente pela faixa que nos interessa mais diretamente -, "Krig Há, Bandolo!" foi um dos mais enigmáticos e misteriosos álbuns quando do seu lançamento, em 1973. Repleto de parcerias com Paulo Coelho, este disco lançava também os primeiros sinais da Sociedade Alternativa, com seu repertório de rocks, baladas, gospel, baião e ponto de Umbanda, no clássico "Mosca na sopa", uma verdadeira salada que marcava a estréia em carreira solo daquele que se tornaria a maior lenda do rock nacional. Raul tinha muita informação esotérica e dos cultos afro-brasileiros, claramente influenciado pelos cultos de sua terra natal. Além desta, cita ainda a lei de pemba na música título do álbum "Eu nasci há dez mil anos atrás", onde diz: "Eu vi os símbolos sagrados de Umbanda, eu fui criança prá poder dançar ciranda".


Influenciado por vários setores da cultura - dos quadrinhos a clássicos da filosofia e do ocultismo (Veja a presença constante da cruz ansata que aparece na capa do disco, na palma da mão direita de Raul, ícone que ganharia ainda mais destaque nos discos seguintes.). A letra de "Mosca na sopa" é Schopenhauer: "Se a mosca, que agora zumbe em torno de mim, morre à noite, e na primavera zumbe outra mosca nascida do seu ovo, isso é em si a mesma coisa", mas para não deixar dúvida sobre sua fonte mais rica, em 1983 pegou do filósofo um trecho do capítulo "Morte" - do livro "Dores do Mundo" - para usar na música Nuit: "Quão longa é a noite do tempo sem limites, comparada ao curto sonho da vida".
Raul morreu aos 44 anos em 1989, de diabetes por complicações no fígado devido ao alcoolismo.

Para ouvir a faixa "Mosca na Sopa", clique abaixo:









Aqui, o raríssimo vídeo original, podraço e funhanhado, mas importante: