Precisar o que se recebe e o que se doa durante um rito através da música de terreiro é extremamente difícil. Em jogo estão as possibilidades de quem se emociona, de quem se entrega pela devoção e pela curiosidade e ainda, todos os questionamentos acerca da vida, da morte e do sobrenatural... Há um verdadeiro ato coletivo de amor num ritual, onde os envolvidos são assistentes e médiuns, sacerdotes e leigos, encarnados e desencarnados... E este é o motivo central da existência da música nos ritos: é o que faz as pessoas se aproximarem e nessa conexão sem parâmetros em nenhuma outra religião surgem os mistérios da conexão com o mundo antigo.
Sem amor este mundo é vazio e quase sem propósito, assemelhando-se a uma sepultura. Somos movidos pelo amor e pelas questões oriundas de sua órbita e mesmo desde o início de nossas vidas, nossas relações giram em torno do amor dos pais e de como obter amor das outras pessoas. Na fase da pós-adolescência quando do surgimento da maturidade sexual o amor é o principal canal rumo à compreensão do mundo, pois os sonhos acordados, e a mágica complexidade das conquistas preenchem a vida. Mais tarde vem o amor aos frutos de nossas relações, ao cônjuge ou amante, aos filhos e netos.
E quase não se pensa sobre isso, mas o ser humano não sabe o que fazer do seu tempo se lhe roubam a capacidade de amar. Não há gratificação que a riqueza, a comida ou mesmo a saúde possam trazer se nelas não existir a experiência profunda do amor em todos os seus sentidos e amplitude. Enfim, nada custa fazer um balanço do quanto a sua vida está neste instante embebida em amores para saber o quão parecido ou distinto é seu mundo de um sepulcro.
Comparativamente tanto a música quanto o amor se encontram paradoxalmente, na periferia de seus próprios limites, pois tanto em um caso como no outro qualquer segurança só é possível no risco. Pois tanto a música quanto o amor não são experiências que se fortalecem no controle, mas sempre na liberdade.
Caso contrário começa-se a se preocupar mais com o que se vai receber do que com aquilo que se vai oferecer. Tal é o equilíbrio da ritualística musical: duas pessoas só se amam quando ambas querem se doar, o que permite a ambas receber. Músico e ouvinte estabelecem sempre a relação de quem quer ouvir e de quem quer ser ouvido, num pacto não verbal de querer sentir o coração bater num mesmo sentimento e nisso, o tambor e canção organizam a coletividade terreiro no sentido pleno da celebração ritualística - um só caminho comum para todos, em comum acordo: o despertar para o espiritual. E apesar de muitos hoje quererem “elitizar” a espiritualidade, entendendo a Umbanda como um caminho para os mais abastados, muitos dos filhos de Orixá permanecem pobres, pois sua presunção de riqueza é tão somente a caridade aos que têm fome de luz espiritual nas agruras da matéria... Pois a Umbanda nasceu entre os humildes, entre os que encontraram a glória no desprezo e a justificação do trabalho na calúnia que é movida contra eles... Assim, o que o espírito é no corpo, os filhos de orixá são no mundo: sementes distribuídas no físico para o renascer de uma celeste ascendência na música, na dança e no amor entre pai e filho, homem e mulher, Orixás e humanidade.
Sacerdote Obashanan
Sem amor este mundo é vazio e quase sem propósito, assemelhando-se a uma sepultura. Somos movidos pelo amor e pelas questões oriundas de sua órbita e mesmo desde o início de nossas vidas, nossas relações giram em torno do amor dos pais e de como obter amor das outras pessoas. Na fase da pós-adolescência quando do surgimento da maturidade sexual o amor é o principal canal rumo à compreensão do mundo, pois os sonhos acordados, e a mágica complexidade das conquistas preenchem a vida. Mais tarde vem o amor aos frutos de nossas relações, ao cônjuge ou amante, aos filhos e netos.
E quase não se pensa sobre isso, mas o ser humano não sabe o que fazer do seu tempo se lhe roubam a capacidade de amar. Não há gratificação que a riqueza, a comida ou mesmo a saúde possam trazer se nelas não existir a experiência profunda do amor em todos os seus sentidos e amplitude. Enfim, nada custa fazer um balanço do quanto a sua vida está neste instante embebida em amores para saber o quão parecido ou distinto é seu mundo de um sepulcro.
Comparativamente tanto a música quanto o amor se encontram paradoxalmente, na periferia de seus próprios limites, pois tanto em um caso como no outro qualquer segurança só é possível no risco. Pois tanto a música quanto o amor não são experiências que se fortalecem no controle, mas sempre na liberdade.
Caso contrário começa-se a se preocupar mais com o que se vai receber do que com aquilo que se vai oferecer. Tal é o equilíbrio da ritualística musical: duas pessoas só se amam quando ambas querem se doar, o que permite a ambas receber. Músico e ouvinte estabelecem sempre a relação de quem quer ouvir e de quem quer ser ouvido, num pacto não verbal de querer sentir o coração bater num mesmo sentimento e nisso, o tambor e canção organizam a coletividade terreiro no sentido pleno da celebração ritualística - um só caminho comum para todos, em comum acordo: o despertar para o espiritual. E apesar de muitos hoje quererem “elitizar” a espiritualidade, entendendo a Umbanda como um caminho para os mais abastados, muitos dos filhos de Orixá permanecem pobres, pois sua presunção de riqueza é tão somente a caridade aos que têm fome de luz espiritual nas agruras da matéria... Pois a Umbanda nasceu entre os humildes, entre os que encontraram a glória no desprezo e a justificação do trabalho na calúnia que é movida contra eles... Assim, o que o espírito é no corpo, os filhos de orixá são no mundo: sementes distribuídas no físico para o renascer de uma celeste ascendência na música, na dança e no amor entre pai e filho, homem e mulher, Orixás e humanidade.
Sacerdote Obashanan
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