Sunday, July 29, 2007

Welcome to terreiro - 1993


Welcome to terreiro – LP - Rock It! - 1993

1.Troops of Olodum; 2.Gangrena Gasosa; 3.Saravá Metal; 4.Pegue Santo or Die; 5.Fist Fuck Agredi; 6.Protesto Concreto; 7.Welcome To Terreiro; 8.Exú Noise Terror; 9. Thraxangô; 10.Gangrena Venérea; 11.Despacho From Hell; 12.Pomba Gyra;


Já há muito tempo, a umbanda encontra expressão nos mais variados estilos, durante a história fonográfica brasileira. Ela esteve presente no Samba, Baião, Jazz, e até mesmo no rock, quando os mutantes gravaram “Bat Macumba” e “Sarava”. Isso sem falar nos outros tropicalistas, como Caetano, Gil e outros.




E não poderia deixar de ser diferente com o surgimento de estilos mais pesados, a partir dos anos 80/90, como o Thrash Metal e o Death Metal. Apesar de polêmica, chocante e nada espiritualista a visão que os músicos do Gangrena Gasosa tem das coisas do terreiro tem de ser respeitada, pois alguns deles eram de terreiros de quimbanda. A formação da Gangrena Gasosa data de 1990, e o objetivo inicial era tocar até conseguir abrir um concerto do Ratos de Porão. Ao mesmo tempo, era preciso arranjar alguma coisa que chamasse mais a atenção do que a qualidade técnica do grupo, e assim nasceu o saravá metal.

O primeiro álbum da Gangrena, Welcome To Terreiro, foi lançado em 94 pela Rock It!, e trazia canções com inusitados títulos, como "Despacho From Hell" e "Pegue Santo or Die", chamando a atenção da mídia. Os questionamentos aos dogmas do metal, com deboches e detonação geral mexeram com a cena, e a mistura de pontos de macumba, atabaques e berimbaus acabou abrindo caminho para que outras bandas fizessem o mesmo. E isso muito antes do Sepultura lançar Roots, álbum considerado de vanguarda em todo o mundo justamente por misturar raízes brasileiras com o barulho do heavy metal. Lançado em LP/CD a tiragem inicial de Welcome To Terreiro desapareceu rapidamente, e a partir daí a Gangrena encarou um longo período de negociações com sua antiga gravadora, para dar seqüência à sua carreira. Capitaneados em 98 pela Tamborete Entertainment, e com várias mudanças na sua formação, a Gangrena voltou com Smells Like a Tenda Spírita, título que por si só já vale o álbum.

Da formação original, permaneceram Chorão (vocal), Vladimir (guitarra) e Felipe (baixo), entrando para o grupo Angelo Arede, ex-Dorsal Atlântica (vocal), Mutley (bateria) e Fábio Lessa (percussão). Terreiro, para eles, apesar do ar um tanto quanto controverso, típico do rock, é coisa séria. É como eles dizem na letra de uma de suas músicas: “Não me traia, por favor/Praquele que cumpre com a obrigação/A vida não desanda/Porque terreiro de macumba/Não é a casa de Mãe Joana.” Mesmo assim, é preciso muita cautela pra ouvir o som deles, pois tanto música quanto letra não é são recomendados para ouvidos sensíveis...


Para ouvir a faixa 8, "Exu noise terror", clique abaixo:

Cigano - Minha mãe! - 1974


Cigano - Minha mãe - CID - CS -1974
Lado A - Simplesmente mãe;
Lado B - Yemanjá;
Compacto raríssimo deste cantor obscuro dos anos 70. Imitava Roberto Carlos e provavelmente era sua intenção se colocar na mídia religiosa (assim como Roberto faz até hoje com o catolicismo) através da Umbanda. Não temos registros de mais nenhuma outra gravação dele, mas vou lhes dizer: essas duas músicas são demais!! A banda é absurdamente boa, bateria, baixo, metais, percussão, orquestra, backing vocals, guitarras, tudo bem gravado, com o Ciganão mandando muito nos vocais. O percussionista da música Yemanjá quebra tudo nas congas. Considerando tudo que surgiu na cola do Rei nos anos 70, o "Cigano" até que merecia um reconhecimento maior da indústria fonográfica e do público em geral...


Para ouvir o lado B, "Yemanjá", clique abaixo:

Batuques e Pontos de Macumba – 1950


Batuques e Pontos de Macumba – LP – Odeon – 1950

Com Sussú e João da Baiana

1.Acorda, acorda; 2. João da Baiana no seu terreiro; 3.O Cachimbo da Vovó; 4.Nanan Boroquê; 5.Capaxá de Umbanda; 6.Amalá de Xangô; 7.Ogun Rondeiro;

Sussu e João da Baiana foram dois expoentes pioneiros na gravação da música umbandista. Já colocamos outros discos dos dois intérpretes aqui no acervo e não é preciso dizer da capacidade, do cuidado e da alegria que se ouve nas 7 faixas deste disco, uma compilação interessante dos discos solo que são da mesma época (anos 40/50).
Talvez este LP tenha sido uma tentativa de acender e movimentar o recém inaugurado mercado dos Lps em 33 rotações que estavam surgindo. Na parte musical, os músicos são excelentes, executando sambas ainda vinculados aos Congos de Ouro e Cabulas dos terreiros cariocas.

Este é um disco raríssimo, quase impossível de se encontrar e faz parte daqueles discos de umbanda com “capas politicamente incorretas”, pois como os irmãos podem ver, mostra o sacrifício de um galo, o que produz uma expectativa infundada sobre o que se encontra na parte sonora e a foto deve ter sido escolhida por causa da letra da faixa 6, de João da Baiana, “Amalá de Xangô”, que diz a certa altura: “Obinrin, meu Obé que tu levou, foi Xogum que apanhou, prá matar Akikó Cocorôcô. E cadê o o Akikó que tu matou?”. Aqui, uma mistura de Yorubá com português. Obinrin significa filha, Obé, faca, Xogum – de Axogun, é o ogã responsável pelos sacrifícios rituais – e Akikó, galo.

Aliada a cena da capa ao nome “Macumba” – que significa tambor, mas que adquiriu mais tarde uma conotação pejorativa – deve ter arrepiado de medo, na época, muita gente preconceituosa com as coisas do santo. Há ainda um outro disco igualmente raro (que conta com a presença do grande Ataulfo Alves) com a mesma sequência de fotos, com a mesma mãe de santo, mostrando uma cena ainda mais forte. Cabe aos irmãos julgar, nos dias de hoje, a valia e a importância desta seqüência histórica de fotografias que foram usadas nestes excelentes trabalhos.


Para ouvir a faixa 2, "João da Baiana no seu terreiro", clique abaixo:

Thursday, July 26, 2007

Encontros de curimbas - Campinas 2005 / São José do Rio Preto - 2006

Fotos: Vivian Lerner (Yatacyara)

I Encontro de Curimbas 05/11/2005 - Campinas


Casa cheia na Casa do Lago em Campinas para o Encontro de Curimbas

O I encontro de Curimbas aconteceu no Espaço Cultural Casa do Lago da Universidade de Campinas, uma realização da Unicamp, PREAC e FTU – Faculdade de Teologia Umbandista.
Pai Roger (Araobatan) Diretor da FTU - Faculdade de Teologia Umbandista
O evento foi aberto por Pai Roger (Araobatan), diretor da FTU, que discorreu sobre a importância do respeito à pluralidade e às diferenças entre todas as escolas umbandistas e da necessidade em se preservar o elo de ligação que une todos os cultos, que são os pontos cantados.

Palestra de Hilário Bispo de Jesus, o Babalarena. Ao lado, a Curimba da FTU.

Em seguida, a palavra foi passada a Hilário Bispo de Jesus, o Babalarena, que abordou o dia da Consciência Negra e a posição do negro nos cultos afro-descendentes, além da lembrança de que o Brasil é um país msicigenado e essa mistura é importante para que haja a tolerância entre todas as raças.

A primeira Corimba a se apresentar foi a do templo de Umbanda Vovô Serafim e Ogum Três Espadas, da cidade de Rio Claro, comandado por Pai André e conforme anunciaram os próprios integrantes da Corimba, não tocaram nem cantaram pontos de raiz, mas composições próprias de louvação aos Orixás, a maior perte delas cantadas em Yorubá; trouxeram instrumentos variados, entre eles dois batás nigerianos e um Ntama, um tambor falante. O coral era muito bem afinado e os alabês muito bons. Executaram na maior parte das cantigas os toques de Ijexá, Cabula e Barravento.

Curimba de Pai André de São Carlos


A segunda Corimba foi a do Templo de Umbanda Mamãe Oxum, Caboclo Sete Pedras e Caboclo Itajaé, comandado por Pai José Carlos, que apresentou alguns pontos de louvação entoados em seus ritos. A apresentação contou com um coral de senhoras e os alabês executaram toques de Cabula e Toruá.


Yaô da casa de Pai Toloji


A terceira Corimba foi a da Comunidade da Tradição do Culto Afro Ilesin Ogun Lakaiye Osinmolé de Campinas, comandada por Pai Toloji. Apresentou-se em duas partes: a primeira com vários toques e orikis da Nação Ketu, com a especial perticipação de suas Iaôs dançando com as interpretações característcas de cada Orixá; na segunda parte, Pai Toloji apresentou pontos que entoa em seus ritos de Candomblé de Caboclo. Os alabês executaram com precisão inúmeros toques, tais como Cabula, Barravento, Congo de Ouro para o Candomblé de Caboclo e Alujá, Aguerê, Daró e Opanijé para o Candomblé Ketu.

Fechando o evento A corimba da FTU apresentou explanações sobre o porquê da Percussão Sacra. Pai Roger, Ogã da FTU apresentou um cada um dos cânticos que seriam executados e Obashanan discoreu sobre os mistérios do Orixá Ayom, o orixá da música e dos tambores. Apresentaram cânticos de Encantaria, das Nações Ketu e Angola e da Umbanda em seus vários aspectos. Executaram os toques em Adarrum, Barravento, Cabulas, Congo de Ouro, Toruá, Batá e Aguerê. Ao final todos os alabês tocaram juntos, encerrando as atividades...



I Encontro de Curimbas - São José do Rio Preto


Realizou-se em São José do Rio Preto, no dia 05/11/2006 o I encontro de Música Sacra Brasileira da região Noroeste, uma realização da FTU, CONUB e do Templo da Estrela Verde.

O evento ocorreu em comemoração ao mês da Consciência Negra e pela primeira vêz em 7 anos, templos Umbandistas foram incluídos no calendário das atividades, uma vêz que a diretoria do Conselho Afro de São José do Rio Preto, por ser evangélica proibía a participação de terreiros nos eventos, numa demonstração de paradoxal intolerância.

O Templo da Estrela Verde durante um ano entrou em negociações para preservar o direito dos Umbandistas a participarem de um evento ligado às tradições Afro-Brasileiras. Finalmente, a diretoria evangélica do Conselho Afro cedeu e no calendário das comemorações foi incluído o II Encontro de Curimbas. Ainda assim, a direção do Conselho Afro adiou a impressão dos convites, dizendo que estes só estariam prontos no dia do evento, numa clara tentativa de não divulgar o encontro. Apesar das sabotagens, estiveram presentes quase 500 pessoas. O próximo encontro será realizado, provavelmente, no terreiro Sete Flechas, da mãe Sônia de Odé.

Numa parceria com o Templo da Estrela Verde (Sub sede da Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino), o evento foi realizado na Tenda Cacique da Mata Virgem do Pai Miano que cedeu o espaço para que vários templos da região pudessem mostrar seus cantos e danças sagrados.



Apesar da sabotagem do Conselho Afro de Rio Preto, dirigido por evangélicos, o terreiro de Pai Miano encheu-se de pessoas e de alegria para o evento


O evento abriu com o Hino da Umbanda, tocado por todos os Alabês reunidos. A primeira apresentação foi do Templo Sete Flechas, que entoaram cantos tradicionais da Umbanda. A dupla de Alabês tocou muito bem e todos os presentes acompanharam com palmas cantando juntos.


Curimba do terreiro Sete Flechas, da Mãe Sônia de Odé

Em seguida o terreiro do Pai Marcos apresentou o seu xirê com cantos de todos os orixás e as danças ritualísticas.

Alabês Pai Marcos

Os Alabês da Faculdade de Teologia Umbandista e do Templo da Estrela Verde apresentaram um pouco da evolução dos ritmos e cantos na história umbandista. Entoaram orikis em Yorubá e Kibundo, além de pontos de Umbanda e encantaria.
Alabês da FTU - Faculdade de Teologia Umbandista

Fechando o evento, Pai Miano e seus filhos apresentaram seu Xirê muito bem coreografado, chegando a emocionar a todos com a boa vontade e a alegria de seus filhos que fizeram uma verdadeira festa de louvação no templo.


Curimba do terreiro de Pai Miano


Fechando o evento, os sacerdotes deram suas palavras finais num congraçamento que mostra a vitória da Umbanda sobre as diferenças. Como diz Mestre Arapiaga: nós, umbandistas somos diferentes, mas não desiguais.

Monday, July 23, 2007

C.E.U.F – Centro Espírita Unidos pela Fé – 2005

C.E.U.F – Centro Espírita Unidos pela Fé – CD – Independente – 2005

1.Oxalá – O criador; 2.Oyá Iansã Guerreira; 3.Caçada de Caboclo; 4.Louvação a Xangô; 5. Festa de Preto Velho; 6.Saudação a Nana Buruquê; 7.Oxum Dona do Ouro; 8.Louvação a Falange D´Ogum; 9.A Benção de Abaluaê; 10.Louvação; 11.Saudação à Dona Maria Padilha da Rosa Vermelha; 12.Louvação à Dona Figueira; 13.Subida de Exu;

Cantigas de José Carlos de Oxosse e Solange de Nana;

Intérprete: José Carlos de Oxosse;

Coro: Kalendoiá; Divina; Graça; Mônica; Ana Paula; Shirley e Carolina;

Atabaque: José Carlos de Oxosse e Moacir;

Agogô: José Carlos de Oxosse;

Chocalho: Fernando;

É comum no Rio de Janeiro os festivais de Curimba, onde se apresentam muitos terreiros, na intenção de produzirem novos pontos para a comunidade Umbandista. Por mais louvável que seja a proposta – o de promover uma unidade e o encontro da cultura de terreiro – ainda assim, há algo extremamente sensível nessa prática, pois os resultados ainda são extremamente regionais e o que tem acontecido é o surgimento de pontos de louvação num número muito superior a pontos de raiz – aqueles realmente cantados e trazidos do mundo astral por entidades incorporadas – o que reduz em muito os cantos de invocação na ritualística profunda. Mas isto é uma outra história. No que se refere ao cd em questão – o pessoal do CEUF são campeões de muitos destes festivais - os músicos são bons e as composições são ótimas, embora ainda atreladas ao modo “samba enredo” de se compor, pois a estrutura melódica é idêntica aos sambas cariocas mais modernos e embora o samba realmente venha da música feita nos terreiros, há uma grande diferença no que se refere à estrutura melódica e mesmo rítmica de cada um dos estilos. Por ser um disco independente é um disco raro. Pena não terem um endereço para divulgarem o trabalho.


Para ouvir a faixa 01, "Oxalá" clique abaixo:

Thursday, July 19, 2007

Agô - Cantos sagrados de Brasil e Cuba – 2003


Agô – CD - Trama – 2003

01. Exu; 02.Oxossi; 03.Agradecer e Abraçar; 04.Xaxará; 05.Xangô; 06.Oxaguian; 07.Quebrando Pratos; 08.Iemanjá; 09.Muzenza; 10.Caboclos; 11.Ago; 12.Saudação a Oxossi; 13.Saudação a Omulu;

Brasil e Cuba possuem praticamente as mesmas origens religiosas quando se pensa em África. Com o passar do tempo, a música sacra dos dois países correram paralelas (gerando cada qual sua expressão musical popular particular), mas sempre por caminhos tão diferentes que nos dias de hoje parece ser muito difícil encontrar uma conexão entre as duas culturas sem que o resultado sonoro resulte estranho em alguns momentos.

Ponto maior para Cuba, que preservou suas raízes e não renega as origens de sua música nos cultos de suas santerias, seja Palo Monte, Arará, ou Regla de Ocha. Assim, ritmicamente, sua música se ramificou para os EUA, influenciando o jazz com o som extremamente complexo dos ritmos das congas e dos batas, das rumbas gauguancós e dos palos e descargas. Tais ritmos, mais tarde, ao ouvido americano, que não conseguia distinguir exatamente o som brasileiro do cubano e de outras culturas sul americanas, batizou de “salsa” (corruptela de “South” - toda a música que vinha do sul) uma infinidade de ritmos diferentes, tentando classificar sob um só rótulo tod o som que vinha das Américas Latinas.

Este disco – que nos foi prometido por muitas pessoas e nunca chegou a nossas mãos, a não ser recentemente - é uma proposta muito interessante em alguns momentos, quer seja na faixa 07, que mostra o ritmo Daró de Oyá como base para um maxixe-choro, executado com maestria pelos músicos participantes. Ou as faixas que influenciaramCarlinhos Brown em seu excelente Candombless, onde o eletrônico oferece respeitosamente o suporte para suas origens acústicas e “macumbísticas”.
A faixa 12 é tão lindíssima, tão emocionante que é difícil não se chegar às lágrimas – oriki e orquestra se encontram tão perfeitamente que duvida-se, durante a audição se já houve algum dia indisposição entre os povos do mundo. Um verdadeiro retorno sonoro aos tempos em que o Ayom estava na terra.
As faixas onde os orikis se encontram com os pianos cubanos ainda possuem um certo ar de “briga” devido ao resultado harmônico e melódico, pois o acento dos cantos em Yorubá no Brasil obedecem aos tons do português e não do espanhol. O modo como se canta e se fala influencia de tal forma uma composição que há sutilezas que se manifestam ainda que de forma quase imperceptível, mas no resultado final da obra mostram traços indeléveis de formação e reconstrução das culturas humanas. Mas no geral, os músicos, das cordas, sopros, cantores e ritmistas – com a direção do grande Ari Colares – brasileiros e cubanos se encontram, na verdade, num grande xirê – uma celebração da música e das artes no retorno feliz a suas raízes ancestrais.


Para ouvir a faixa 12, "Saudação a Oxossi", clique abaixo:

Tuesday, July 17, 2007

Kaviungo – 2005




Kaviungo - CD – TBS – 2005

01.Kafunge; 02.Belacim; 03.Sakafuna; 04.Kom Senzala; 05.Jambura; 06.Isumbo; 07.Xaqua-te; 08.Sambumangue; 09. Pobo Mona; 10. Muchauere; 11.Kundo Ka; 12.Lembondile; 13.Maronduba; 14.Mereakoxe;

Na Mitologia Bantu – Kaviungo, Kingongo ou Nsumbu - é o Senhor da terra. Tem caminhos com os antepassados e une-se a eles para encaminhá-los. É o senhor da ráfia e das enfermidades. Como está no mesmo nível mitológico de Obaluaiyê/Omolu/Soponná os mais velhos viram o sincretismo com estes Orixá/Vodun em sua representação mitológica. É Yorimá na Umbanda e está intimamente ligado aos Pretos-Velhos. É também chamado de Ntoto pelo povo de Kongo.

Kingongo, é um nkisi guerreiro, lutador, e quando mais velho, ao mesmo tempo é o sábio, o feiticeiro, o guardião. Porém, tem varias regências e influências. Kaviungo também é o sol, o calor do astro rei, é o senhor das pestes, das doenças contagiosas ou não. É o rei da terra, do interior da terra, é o Nkisi que cobre o rosto com a palha (palha da Costa), porque para os humanos é proibido ver o seu rosto devido à deformação feita pela doença, ou ainda por ele brilhar como o sol e ser impossível olhá-lo diretamente. Este Nkisi rege o funcionamento do organismo, e é quem indica a dor que sentimos pelo mau funcionamento dos órgãos, por um corte, queimadura ou traumatismo. A ele devemos a nossa saúde. Trata do interior, mas cuida também da pele e de suas moléstias.


Pertence a ele a regência dos cemitérios, pois é o Nkisi que vem para buscar o espírito desencarnado. É ele que vai mostrar o caminho, servir de guia para aquele espírito. Também é o senhor das camadas do interior da terra, para onde vamos todos nós. Daí sua ligação com os mvumbi (mortos), pois é ele quem vai cuidar do corpo sem vida. Este Nkisi tem vários caminhos ou identidades, tais como Kaviungo, Kafunan, Kafungê, Nsumbu....


Diz-se que Kaviungo está presente no nosso dia-a-dia, quando sentimos dores, agonia, aflição, ansiedade. Está presente quando sentimos coceira e comichões na pele. Rege também o suor, a transpiração e seus efeitos. Rege aquele que tem problemas mentais, perturbações nervosas e todos os doentes. Rege os mutilados, aleijados, enfermos. Ele proporciona a doença, mas principalmente a cura, a saúde. É o Nkisi da misericórdia. É filho de ZUMBARANDÁ e LEMBARAGANGA. Irmão adotivo de MUKUMBE e ALUVAIÁ, e irmão carnal de TEMPO, MATAMBA e ANGORÔ.


Máscara (muxiki) africana representando Kaviungo

Nos mitos, a varíola é a punição que ele aplica aos malfeitores. Quando morre uma pessoa, KAVIUNGO senta-se em cima do corpo , reivindicando seus direitos. Está relacionado a terra, os troncos das árvores e os ramos. Transporta o AXÉ preto, vermelho e branco, e seu maior segredo é com os espíritos contidos na terra, que são seus irmãos e de quem ele é o maior símbolo. Assim como ZUMBARANDÁ e Kissimbi, ele é o patrono dos KAURIS. Usa em suas vestimentas um capuz de palha da costa, chamado AXÓ YIKÓ, que lhe foi dado por seu irmão Nkoce, para lhe cobrir as chagas e, principalmente, seus olhos, pois como já dissemos, contêm todo o brilho do sol e quem o olhasse perderia a visão. O AXÓ YIKÓ é um material de grande significado, pois participa de todos os rituais ligados a morte. A presença de YIKÓ é indispensável, em todas as situações que se maneja com o sobrenatural. O YIKÓ é a fibra da ráfia, obtida de palmas novas de YIGYOGÓRO, árvore sagrada, que produz a palha obtida dos talos do olho da palmeira, quando nova, antes delas abrirem-se e curvarem-se. O fato de cobrir-se com YIKÓ e ornar-se com búzios e cabaças, mostra que estamos na presença de um nkise ligado diretamente com a morte.

Segundo as lendas, ele é irmão mais velho de KAMBARANGUANGE. KAMBARANGUANGE destronou um KAVIUNGO velho e assumiu seu lugar, por esta razão existe a indisposição entre os dois Nkises. Pessoas de KAVIUNGO não pegam no XÈRE nem participam da roda de KAMBARANGUANGE. No KUKUANAN não entra AMALÁ e na comida de KAMBARANGUANGE não entra DOBURUS.

KAVIUNGO usa miçangas pretas e brancas ou pretas, vermelhas e brancas, dependendo da qualidade, amarelo, preto e marrom. Sendo o dono da terra, é ele quem nos dá todo o tipo de alimentos, inclusive, a ele pertencem todos os grãos.
Os Xicarangomas ou Kissikarangombes tem que ter respeito por este Nkice, pois KAVIUNGO é o dono dos couros dos animais mortos para se fazer o ngoma. Quando vamos dar comida aos tambores, damos comida a KAVIUNGO.

A KAVIUNGO pertence o porco, cabrito, frangos, galos carijós, frangos rajados, d'angola, tatu e camundongos ou outros roedores. Carneiro é sua grande KIZILA. Pega, também, patos pretos e brancos. Depois do ritual de rolar os bichos, tira-se a língua da d'angola, do pato e do porco. As línguas não vão ao fogo.

QUALIDADES
- TATETO KULAMBA RIA WUNGANA
É o mais antigo. É proibido falar seu nome. Na África quando se fala seu nome, coloca-se mel na boca. Come com ALUVAIÁ e tem fundamento nas encruzilhadas. Tem caminhos com GONGOBIRA e é o deus da varíola e das doenças de pele. Era êle quem dizimava nas aldeias. Suas contas são brancas e pretas. No dia de sua feitura tem que ser feito sete qualidades de comidas, pôr na folha de mamona e levar com uma vela para o campo. Ele leva dois quelés :um no pescoço e um na perna esquerda (duas argolas de aço). No dia do recolhimento, leva-se o MONA XIKOLA na porta do cemitério e dá-se um sacudimento. Este santo é preparado no barro vermelho. Quando se dá comida a ele, dá-se na encruzilhada, pois ele tem caminhos com Mavambo.
- TATETO KULAMBA RIA TAKUBENANGUANGE
Em seu assentamento leva uma estatuazinha com olhos. Tem dois queles , um de búzios e outro de missangas. No dia da saída tira-se o de búzios e coloca-se no pescoço do boneco. Tem caminhos com LEMBARAGANGA. É jovem e guerreiro. Leva na mão uma lança chamada OKÓ. É vingativo, ambicioso, luta para alcançar posição alta sem ver de que maneira. Tem caminhos com MUKUMBE TANGO AVANGO, LEMBÁ, MONAKAIA, ALUVAIÁ e MALEMBÁ. Êle é cultuado no dia 17 de dezembro, veste branco e preto e suas contas são rajadas. O seu cuscuzeiro leva uma seta só, vem dentro de uma bacia com 9 pratinhos brancos de barro. Seu verdadeiro encanto, como dos outros, é o cântaro (moringa de uma asa só) . Neste cântaro põe-se jóias e dinheiro. Não come feijão preto. Come miúdos de boi no azeite doce, os outros comem com dendê. É o único que come caracol.
- TATETO KULAMBA RIA BELAGUANGE
É jovem, veste preto e branco como suas contas. Tem caminhos com TEMPO e ANGORÔ. Aceita oferendas de tatu na praia.
Outras qualidades:

- TATETO KULAMBA RIA KANJANJA.
- TATETO KULAMBA RIA APANANGO.
- TATETO KULAMBA RIA KATULE.
- TATETO KULAMBA RIA KAFUNGE.

UNSABA (Ervas)

Mangerona, Canela de Velho, Alunam, Café do Mato, Balaio de Pombo, Agapanto lilás, Erva Moura, Beldroega Vermelha, Mal-com-tudo, Guiné-pipi Negramina, Tamarindo, Eucalipto, Cipó Caboclo, Cambará, Erva grossa, Vassoura Preta, Vassoura Branca, Gervão Roxo, Sete Sangrias, Espinheira Santa, Sabugueiro, Crisântemo.

Este disco contém várias cantigas de Kaviungo que são tradicionais nos rituais Bantu e apesar da gravação não ser primorosa (os atabaques por vezes estouram nos graves e a voz do Vado está muito na região das freqüências médias), ainda assim é um disco empolgante, que vale a pena ser conhecido.


Para ouvir a faixa 13, "Maronduba", clique abaixo:

Monday, July 16, 2007

Tenda dos Milagres - 1985



Tenda dos Milagres – LP – Som Livre - 1985

01 - Milagres Do Povo - Caetano Veloso; 02 - Livre - Beth Bruno; 03 - Olhos De Xangô (afoxé) - Moraes Moreira; 04 - É D'OXUM - MPB 4; 05 - Eloiá - Dudu Moraes; 06 - Flor Da Bahia - Nana Caymmi; 07 - Oiá - Danilo Caymmi; 08 - Amor De Matar - Tânia Alves; 09 - Afoxé - Dorival Caymmi; 10 - Maluco Prá Te Ver - Wálter Queiróz


Produtor: Guto Graça Mello;

Trilha sonora de minissérie escrita por Aguinaldo Silva, baseado no romance de Jorge Amado, com direção de Paulo Afonso Grisoli e transmissão pela Rede Globo.

Apesar da pasteurização imposta pela Som Livre sobre a mixagem e a masterização deste disco (com tecladeira exagerada, abusando dos intervalos de quarta, característica harmônica das produções globais), e a criminosa “esmagada” na percussão precisa e refinada de Djalma Correa, ainda assim é um bom disco, seja para os ouvintes da Música Popular Brasileira, seja para quem gosta mesmo é dos tema místicos da umbanda. Os temas relativos ao imaginário da Umbanda e do Candomblé estão presentes em todas as faixas. Com a produção de Guto Graça Mello, e a incontável presença de um time monstruoso de músicos de primeira linha, o resultado - como já dissemos no que pese toda a maquiagem globeleza – é de um disco excelente, já um clássico e uma raridade entre os colecionadores.


Para ouvir a faixa 01, "Milagres do Povo", clique abaixo:

Capoeira Cordão de Ouro Vol.2 e 3 - 1978/1979

Capoeira Cordão de Ouro Vol.2 e 3 – Continental – LP – versão em cd contendo os dois discos – 1978/1979

Volume 2: 1.Capoeira; 2. Os Negros De Aruanda; 3. Cânticos De Capoeira; 4. Marinheiro Só; 5. O Congo Chegou; 6. Samba De Roda; 7. São Bento Grande De Angola;

Volume 3: 8. Maculelê; 9. O Mundo De Deus É Grande; 10. Cantigas De Capoeira; 11. Capoeira Câmara; 12. Samango; 13.Capoeira Ligeira; 14. Se Não Fosse A Escravidão; 15. Toques De Berimbau; 16. Igreja Do Bonfim;

Dirceu foi um dos maiores bateristas e percussionistas das décadas de 50/60/70. Tivemos o privilégio dele ser nosso professor de música durante muitos anos e foi com ele que aprendemos que a música estava muito além da mera estética de modismos, rótulos e influências silenciosas da dominação estrangeira. Dirceu, com sua aproximação da Capoeira nos ensinou a valorizar, em nossa adolescência, o contato positivo com as coisas da Umbanda e do Santo, uma vez que a nossa arte marcial nativa está intrinsecamente relacionada com o mundo religioso afro-brasileiro e é impossível dissociar o universo da capoeira do mundo dos terreiros. Nestes dois discos encontramos desde a capoeira retratada em sua pureza rítmica, com berimbau, atabaque e pandeiro (seja na ginga lenta e misteriosa de Angola, seja na velocidade estonteante dos toques da regional) até faixas onde o arranjo das músicas se aproxima bem mais da música regional de outras vertentes, como o samba de roda, o coco e o maracatu. Estes dois discos são essenciais, importantíssimos para a compreensão das pontes que ligam as origens da música brasileira nos templos às derivações lógicas da música popular. Dirceu deixou saudades como músico, professor, e divulgador da capoeira e da música do santo no Brasil e no mundo.


Para ouvir a faixa 2, "Os negros de Aruanda", clique abaixo:

Sunday, July 15, 2007

Saravá Oxoce - Centro Espiritualista Caboclo Pery – 2001?


Saravá Oxoce - Centro Espiritualista Caboclo Pery – CD – 2001?

1. Hino da Umbanda; 2.Coroa de Orixá; 3.Energia do Congá; 4.Saravá meu pai Oxoce; 5.Ele veio de tão longe; 6.Na Macaia de meu Pai; 7.Foi na Umbanda que eu nasci; 8.Oxossi é rei de Obatalá; 9.Seu Rei da Mata; 10.Caboclo vai embora;

Não há informações no cd dos músicos do terreiro. O que podemos ouvir é que é um terreiro que se utiliza do Ilús e não atabaques. Ilús são utilizados tradicionalmente por templos de raiz nagô, mas por ser um terreiro do Rio de Janeiro (Niterói), provavelmente deve possuir alguma ligação com a Tenda Mirim, que talvez seja a tenda mais antiga do Rio de Janeiro a usar esse tipo de tambor. Qualquer tipo de informação neste sentido, por favor nos repassem...

O som dos ilús vem forte na gravação, como é sua característica principal e o pessoal manda com classe na curimba. O coral é ensaiado e canta bem, principalmente a cantora principal. Alguns pontos são de raiz, outros de louvação e percebe-se alegria, seriedade e muita vibração no que fazem. Uma pena que é um disco difícil de encontrar, embora seja lançado em CD. Mas quem quiser adquiri-lo, não custa escrever para o endereço que está na capinha: Centro espiritualista Caboclo Pery: Rua 21 – Quadra 30 – Lote 10 – Maravista – Itaipu – Niterói – RJ; ou visitem o site: http://www.caboclopery.com.br/


Para ouvir a faixa 01, "Hino da Umbanda", clique abaixo:


A História da Umbanda no Brasil e Seus Orixás – 2004


A História da Umbanda no Brasil e Seus Orixás – CD – Aldeia Discos – 2004

1.Abertura e Apresentação; 2.Oxalá; 3.Ponto de Oxalá; 4.Iemanjá; 5.Ponto de Iemanjá; 6.Xangô; 7.Ponto de Xangô; 8.Ogum; 9.Ponto de Ogum; 10.Oxossi; 11.Ponto de Oxossi; 12.Yori; 13.Ponto de Yori; 14.Yorimá; 15.Ponto de Yorimá; 16.Nana Buruquê; 17. Seu Zé Pilintra;

Este disco, apesar de ter sido lançado em cd, é um item raro, difícil de se encontrar. Não sabemos se existem outros volumes além deste. A história da Umbanda é contada como se fosse um programa de rádio, com informações interessantes, que englobam harmonicamente fundamentos de várias escolas: do Omolokô à escola de Zélio, passando pelos ensinamentos de Mestre Yapacani (Matta e Silva) e concepções católicas, kardecistas e das nações e este é o ponto forte do disco, a tentativa de reunir, sem conflito, várias formas do conhecimento umbandistíco.

Durante a narração, ouve-se ao fundo, os atabaques do disco Rwm aos orixás. A parte musical é feita com acompanhamento de banda, quase todas as faixas são em ritmo de samba. O cantor lembra muito o vocalista do Gerasamba. O grupo é bom, não faz feio, percebe-se que são profissionais de estúdio e as composições são de louvação, sem pontos de raiz. A masterização não é muito boa, a mixagem esconde e embola alguns instrumentos, mas não é um disco ruim, pelo contrário, é um interessante registro como amostra dos caminhos que a Umbanda está tomando nos dias de hoje...


Para ouvir a faixa 14, "Yorimá", clique abaixo:

Origens – Ritmos de Terreiro – 1981


Origens – Ritmos de Terreiro – LP – Polygram/Sinter – 1981

1.Ritmo de Macumba; 2.Dhina-ô; 3.Canto de Xangô; 4.Sequecê (oração aos Orixás, ritual angola) Ouiumba ouiumbá é de me (Pergunta, ritual Angola); 5. Ereum Male; Yêyê ô,Yada Baô (saudações a Oxum); 6.Ponto; 7.Mina Oraê (saída de Caboclo);Tetetê da Cabocla Kissanga; 8.Oridê Deô (saudação a Oxum); 9.Cambinda Queuaraquara (licença para entrar no templo de angola); 10. Toques tradicionais (Angola, São Bento Grande, Santa Maria e Idalina); 11.Dilanumatambangola; 12.Da Suíte “os quatro elementos” A-água/Oxum; B – Terra/Oxossi.

Intérpretes:
Escola de samba da cidade – Faixa 1;
Nana Vasconcelos – Faixa 2;
Baden Powell – Faixa 3 e 6;
Edinho Marundelê – Faixas 4, 5, 7, 8, 9, 11.
Onias Comenda – Faixa 10;
Djalma Correia – Faixa 12.

Um disco maravilhoso, onde músicos de terreiro e músicos populares se encontram, sem prejuízo ou diminuição para nenhum dos lados. É um disco equilibrado pela diversidade e este caminho, tão natural ao sistema umbandista em todos os tempos apresenta claramente, nesse registro, respostas às constantes dúvidas sobre as origens da música popular.Baden Powell, Nana e Djalma Correia estão bem a vontade e naturais ao lado das faixas de músicos de terreiro, tais como Edinho Marundelê e Onias comenda. Em todas as faixas sente-se o Brasil, emoldurado pelos cânticos Bantu, pelas cantigas Ketu, Gêge e até mesmo ecos de litanias católicas mineiras, amplamente acopladas às vozes em terças dos corais de Edinho. Há a presença inquestionável do índio (cabocla Kissanga) e dos ritmos misteriosos de Pernambuco pelas mãos de Naná. Djalma Correia se apresenta em quase todas as faixas – sua pegada de couro é inconfundível. Só quem tocou com ele pode perceber seu estilo próprio e elegante – embora não esteja nos créditos, é obrigatória a audição da suíte os quatro elementos, aqui, infelizmente, apresentados apenas dois deles: água e terra.

Para ouvir a faixa 01, "Ritmo de macumba", clique abaixo:




Wednesday, July 11, 2007

Batuques no Terreiro – Honório Santos e seu Conjunto - Provavelmente anos 40



Batuques no Terreiro – Honório Santos e seu Conjunto – Compacto Duplo 45 rpm – Polydor – Provavelmente anos 40

01 – Vibram os atabaques; 02 – Salve o Reino de Oxossi; 03 – Sarava a Linha de Ogum; 04 – Rainha do Omolokô;

Todas as composições de Henrique Gonçalves;

Aqui temos mais um disco raríssimo. Honório e seu conjunto fazem parte daquela leva de músicos que se arriscaram a produzir música popular com inspiração Umbandista, onde os temas, o imaginário e as intenções rítmicas apresentavam abertamente a Umbanda nos seus conceitos mais básicos e evidentes. A capa – extremamente estilizada, quase uma saudável bizarrice (?) norte-americana e a estrutura melódico-harmônica expressam bem a época, pois a músicas lembram muito o que se fazia nas trilhas sonoras dos filmes da Atlântida e da Vera Cruz, além dos batuques apresentados serem muito próximos em suas cores das marchas de carnaval dos anos 30/40.


Rótulo original do disco

Uma orquestra completa pontua o disco, com metaleira, bateria, baixo acústico, violões e um bongô, que por vezes irrita um pouco, pois o arranjador, provavelmente com intenção de simular o clima afro dos tambores de terreiro fez com que o bongô tocasse o tempo todo em tercinas, simulando um 6/8 por trás das bases em 2/4, característica básica da maior parte dos ritmos brasileiros aparentados com a música Bantu singularizada nos Congos de Ouro e Cabulas, talvez os ritmos de terreiro mais próximos do samba.

Á parte esse detalhe, a bandinha é muito boa e a batucada come solta em todas as faixas. A lamentar, como na maior parte dos discos umbandistas, não se sabe quem são os músicos que ali tocam. Resta apenas a lembrança de uma música umbandista menos discriminada, em raríssimos disquinhos como este, que foi testemunha da importância da evolução da música de terreiro para a estruturação e construção da música popular brasileira.


Para ouvir a faixa 03, "Saravá a linha de Ogum", clique abaixo:

Bango – 2005


Bango – CD – Independente – 2005
11 faixas sem nome

Conhecemos o Alabê Lindoiá quando estivemos em Salvador. Ele é um dos raros tocadores de Sirrum – as cabaças na água utilizadas no Axexê junto com os porrões (potes de barro consgrados ao cultos dos mortos) – e é um camarada muito especial. Me indicou e providenciou vários discos para o acervo da FTU e é uma grata amizade naqueles páramos. O cd em questão foi gravado por ele e por Argôlo, um outro Alabê do Culto Lese Egun. São onze faixas sem identificação e a gravação é independente. Lindóia e Argôlo tocam suavemente e cantam baixinho, pode-se até "ver" a concentração no que fazem. O clima do disco é meio fúnebre (!) para quem não está acostumado com o culto Egun e segundo eles, como escreveram no encarte, o disco foi desenvolvido visando resgatar e preservar os Orim Egum Gum. Devemos apoiar essa inciativa. Um disco muito bom. Quem quiser adquirí-lo é só ligar pros meninos: (071) 9938-1296/3312-5749


Para ouvir a faixa 04, clique abaixo:

Bate Folha - Kupapa Unsaba - Cantigas de Angola - 2005


Bate Folha - Kupapa Unsaba - Cantigas de Angola – CD – Fundação Universitária de Brasília – 2005

Faixas: 01 a 03 – Pombojira; 04 a 06 – Nkosi; 07 a 09 – Katendê; 10 a 12 – Tauami; 13 a 15 – Nzazi; 16 a 18 – Unsumbo; 19 a 21 – Kitembo; 22 a 24 – Zumbá; 25 a 27 – Hongolo; 28 a 30 – Unzingalumbondo; 31 a 33 – Kaiangu; 24 a 36 – Vunji; 37 a 39 – Dandalunda; 40 a 42 – Samba; 43 a 45 – Lembá; 46 – Nação;


O Bate-Folha do Rio de Janeiro


Por volta de 1938, João Correia de Mello, já então conhecido como João Lessengue, mudou-se para o Rio de Janeiro.


Ao chegar, Lessenge foi morar na Rua Navarro, no Catumbi, havendo trazido em sua companhia alguns irmãos de santo, dentre os quais, se destaca por sua atuação Mãe Ngukui, componente do terceiro barco de Bernardino (fundador do Bate Folha da Bahia).



Ngukui seria então o braço direito de Joao Lessenge na sua nova empreitada no Rio de Janeiro. Aqui, João Lessenge conheceu outras pessoas de santo em sua maioria oriunda da Bahia, passando então a participar dos rituais das diversas casas de candomblé já existentes na cidade.
Diversas personalidades importantes do candomblé faziam parte de seu círculo de amizades, como Ebomi Dila, Mãe Agripina do Opo Afonjá, Mãe Teté, Mãe Bida de Yemanjá, Joana Cruz, Joana Obasi, Mãe Andreza, Guiomar de Ogun, Mãe Damiana, Antônio Fomotinho, Vicente Bankolê, Ciriaco, América, Adalgisa, Marieta, Marota, Obaladê, Nair de Oxalá, Marina de Ossãin, Nino de Ogun, Mundinho de Formigas, Otávio da Ilha Amarela, Ogan Caboclo, Álvaro do Pé-Grande, Mãe Teodora de Yemanjá, etc. No início dos anos 40, Lesenge comprou um terreno com aproximadamente 5.000 metros quadrados, no bairro Anchieta, fundando ali, o Bate-Folha do Rio de Janeiro.



Ao longo dos anos João Lesenge tirou doze barcos, sendo o primeiro em 26 de novembro de 1944, e o último em 8 de novembro de 1969. Seu falecimento ocorreu dia 29 de setembro de 1970, às 23:40hs. Após sua morte, a roça atravessou um prolongado luto.



Foi somente em 1972, em ocasião de Luvalu (cerimônia de sucessão), que o Bate-Folha do Rio de janeiro reabriu, sendo ali investida no cargo como Mam´etu riá Nkisi (sacerdote chefe), sua sobrinha e filha de santo, Mabeji - Floripes Correia da Silva Gomes), tornando-se, herdeira de seu tio Lesenge em todo o sentido da palavra.



Mametu Mabeji no estúdio


Mam´etu Mabeji, baiana do bairro da Liberdade, chegou ao Rio de Janeiro para residir com o Sr. João Lesenge em 19 de outubro de 1946 e, iniciou-se no candomblé em 20 de abril de 1947. A partir desta data, Mabeji começa a fazer parte da história do Bate-Folha.


Por volta dos anos 50, em companhia de um índio Irapuru, chega ao Bate-Folha o Sr. José Milagres. Com o passar do tempo, Milagres casa-se com Mabeji e posteriormente, se confirma na casa como Pokó (sacrificador de animais) passando então a ser conhecido como Tata Nguzu-a-Nzambi, sua dijina. Dai em diante, Tata Nguzu tem sido um guerreiro incansável na preservação da roça em Anchieta. O Terreiro Bate Folha continua hoje sob a direção de Mam'etu Mabeji.


Em 2005, o Bate Folha lançou o disco aqui apresentado, produzido pela Fundação Universidade de Brasília e pela Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), com o apoio do Museu da República e da Fundação Cultural Palmares, do Ministério da Cultura.


O disco é maravilhoso, muito bem produzido, com xicarangomas excelentes. Mametu Mabeji canta muito bem e ainda com fôlego, afinadíssima. Um disco altamente recomendado para os estudiosos das nações Bantu.


Para ouvir a faixa 13, "Nzazi", clique abaixo:

Sunday, July 08, 2007

Noriel Vilela - Eis o ôme - 1968


Noriel Vilela - Eis o ôme - LP – Copacabana - 1968

1. Promessado; 2. Saravando Xangô; 3. Só o ôme; 4. Meu caboclo não deixa; 5. Pra iemanjá levar; 6. samba das águas; 7. Eu tá vendo no copo; 8. Acredito sim; 9. Peço licença; 10. Cacundê, cacunda; 11. Acocha malungo; 12. Saudosa Bahia;

Noriel vilela começou sua carreira em meados dos anos 50, como integrante dos Cantores de Ébano, lendário grupo vocal da época. com uma inconfundível voz de baixo profundo, noriel gravou seu único álbum solo, "Eis o ôme", em 1968, e consagrou-se como um dos precursores do hoje tão badalado samba-rock. A cultura de terreiro, com seu imaginário e suas histórias, é determinante no trabalho de Noriel, não apenas pelo balanço e pela sonoridade, como pela temática da Umbanda fortemente presente em todas as faixas.


Representando o legítimo "samba de preto-velho", Noriel não economiza talento e apela com competência para o folclore dos santos e orixás, sem pudores ou metáforas - como pode ser comprovado em versos como “ah, mô fio, do jeito que suncê tá / só o ôme é que pode te ajuda” [só o ôme] ou “eu tá vendo no copo, eu vai dizê / rabo de saia fez feitiço pra suncê” [eu tá vendo no copo].

É um disco muito bem gravado, com melodias e harmonias maravilhosas em arranjos de primeira. Há momentos engraçados do dia a dia dos terreiros e há momentos de fé comovente, como em “Saravando Xangô. Curiosamente, Noriel vilela ganhou notoriedade como a voz de "dezesseis toneladas" (que virou hit nas pistas depois de regravada pela banda paulista funk como le gusta), canção despretenciosa que, a não ser pelo vozeirão grave do intérprete, não lembra em nada seus outros trabalhos. A música é uma versão em português de "Sixteen tons", clássico folk/country americano, de Ernie Ford e Merle Travis. O álbum “Eis o ôme” foi lançado em cd pela EMI como parte da série "Odeon 100 anos", organizada pelo Titã Charles Gavin.


Para ouvir a faixa 4, "Meu caboclo não deixa", clique abaixo:

Mãe Menininha do Gantois - 1974



Mãe Menininha do Gantois – ao Vivo – LP – Phonodisc - 1974

1.Entrevista depoimento com Mãe menininha do Gantois; 2.aguerê de Oshosi; 3.Hamunha; 4.Oração a Mãe Menininha; 5.Ijexá de Oshun; 6.Alujá de Shangô; 7.Ibí de Oshalá; 8.Depoimento de Manoel Queiroga;

Alabês:

Vadinho: Rwm
Edinho: Gan e Rwm-Lé
Loló: Rwm-Lé
Badaró: Rwm-Pri

Mãe Meninha do Gantois nasceu no dia 10 de fevereiro de 1894, na cidade de São Salvador, Bahia. Seu nome de batismo era Maria Escolástica da Conceição Nazareth e era descendente de nigerianos.

No inicio do século XIX, sua avó D. Maria Júlia da Conceição Nazareth, fundou o "Ilê Iyá Omi Axé Iyamassê" - o Terreiro do Gantois. As terras onde o Terreiro foi edificado foram compradas do francês Sr. Gantois, pelo cônjuge de Maria Júlia, o africano, Sr. Francisco Nazareth de Eta. Maria Escolástica da Conceição Nazareth era sobrinha da iyalorixá Pulchéria Maria da Conceição, que também era sua madrinha de batismo, e quem a iniciou no culto dos orixás, na nação Ketu, aos 8 anos de idade. Por esse motivo ela recebeu o apelido de "Menininha".

Mãe Menininha seria a sucessora direta de Mãe Pulchéria na função de iyalorixá do Gantois, mas com a morte repentina de Mãe Pulchéria em 1918 o processo de sucessão foi acelerado, pois Gantois não poderia ficar sem um dirigente. Através do jogo de búzios, os orixás Oxóssi, Xangô, Oxum e Obaluaiyê escolheram e confirmaram Menininha, então com 28 anos, para assumir a função de dirigente do Candomblé do Gantois, em 1922.

Entrada do terreiro do Gantois

Mãe Meninha enfrentou perseguições da polícia, que reprimia com violência a prática do culto aos orixás. Chegou a ser presa por resistir a polícia cultuando os orixás no candomblé de Gantois.
Mãe Menininha estava consciente de que a religião do candomblé era o último reduto de resistência da dignidade negra, da preservação da história do negro que não foi contada na escola, por esse motivo defendeu a preservação histórica dos locais sagrados onde estavam localizados os primeiros Terreiros de candomblé em Salvador, como por exemplo, o Engenho Velho e a Casa Branca.


Mãe meninha era casada, e tinha duas filhas, e durante 64 anos foi a força do Gantois, fazendo-se amar e respeitar por todo o povo baiano, a princípio e depois pelo povo brasileiro em razão de sua doçura, sabedoria e firmeza na defesa das tradições afro-brasileiras. Mãe Meninha foi a iyalorixá mais importante da Bahia e do Brasil, haja vista que todos babalorixás e iyalorixás a veneravam. Também foi inspiração de belas músicas, cantadas em prosa e verso por Dorival Caymi, Caetano Veloso, Bethânia, Gal Costa e Gilberto Gil, entre outros.

Este é um disco raríssimo e se por um lado é um excelente registro dos impressionantes Alabês que atuavam da casa do Gantois nos anos 70, por outro, ele peca pela pouca objetividade em focar uma figura tão forte na religiosidade brasileira como foi Mãe Menininha. Não que a homenagem tenha sido ruim (apesar do teclado horrível que se ouve ao fundo na faixa da entrevista, uma lembrança da estética da época), mas poderia ser mais completa, com perguntas mais valiosas para um registro deste porte. Mãe Menininha, na verdade era tão importante e tão emblemática para o Brasil que o disco ficou pequeno. Depois de ouvirmos o LP, ficamos querendo mais toques (que alabês são esses, por Zamby, que cacetada!! Ouvi poucos, muito poucos, desse nível!!) e, claro, mais cânticos – não há nenhum no disco - principalmente na voz de Mãe Menininha, ficamos curiosos para saber como era sua voz cantada e como puxava, naquela época, os pontos e orikis. É como é: quem viu, viveu...!



Para ouvir a faixa 03, "Hamunha", clique abaixo:

Monday, July 02, 2007

Palácio de Iemanjá -1972


Palácio de Iemanjá – Pai Edu ao Ao Vivo – LP - Rozenblit – 1972

01.Hino ao vento; 02.Sem exu não se faz nada; 03.Mensagem de Paz; 04.Senhor do Bonfim; 05.Igreja do Senhor do Bonfim; 06.Hino da Umbanda; 07.Zé Pelintra; 08.Povo de Jurema;

A gravadora Rozenblit, de Recife, foi pioneira e inovadora em investir em vários músicos dos anos setenta e ter em seu cast discos de música sacra brasileira que são itens raríssimos nos dias de hoje, pois depois de uma enchente, a gravadora perdeu todas as suas matrizes e o que se acha por aí de seu catálogo são verdadeiros prêmios aos colecionadores e “resgateiros” de acervos da música brasileira.

Pai Edu, segundo informações, possuía um templo enorme em Olinda, onde realizava ritos para a coletividade, em especial a festa de São Bartolomeu, criada para, segundo ele, afastar os ventos dos maus agouros de agosto.

Pai Edu

Apesar de ser ao vivo (era difícil fazer externas, devido aos recursos da época), é um disco bem gravado e percebe-se o tamanho do ambiente e o número de pessoas – talvez mais de 1000 – pelo coro dos consulentes cantando os pontos e os hinos.

Este é um registro importantíssimo, seja pela sua raridade, seja pelo marco de ser uma vertente da umbanda que existe, mas que poucos conhecem, a exótica Umbanda Evangélica (!). Sim, no LP Pai Edu conduzia seus ritos com uma aproximação óbvia do catolicismo, mas soando como um culto Carismático - surgido muitos anos depois - que por sua vez, é cópia dos ritos evangélicos pentecostais (é impossível, na primeira audição, não lembrar das missas do Padre Marcelo. É evidente que Pai Edu o influenciou, indiretamente).

Entendemos que muito dos cultos pentecostais - lembrando que o protestantismo americano, de onde provém as igrejas pentecostais e neopentecostais – estão, obviamente, relacionados ao espírito santo, e conseqüentemente, a João Batista, que realizava cultos anímicos. Aliada a conexão com a lembrança africana de seus ritos de origem, formam uma síntese primária de diversos valores, por eles mesmos negados, o que faz dos evangélicos uma vertente religiosa em constante desacordo consigo mesma, daí a ruptura que existe em diversos templos, originando um sem número de denominações.

Assim constatamos a grandiosidade da Umbanda, quando, mesmo sendo atacada em sua doutrina, seus orixás, exus, encantados e atabaques, se aproxima carinhosamente das igrejas evangélicas, que com suas possessões pelo espírito santo, suas curas, seus passes de imposição de mãos, sua glossolalia, seus copos de água fluídificada pelo "Senhor" e seus louvores de glória, estão muito mais perto da “macumba” que renegam do que possam imaginar...


Para ouvir a faixa 01, "Hino ao vento", clique abaixo: