Tuesday, June 19, 2007

Macumba - Heitor dos Prazeres - 1929

Heitor dos Prazeres – LP 45 - Macumba (Rádio Fonográfica Brasileira - 1929)

1.Tá Rezando; 2.Quem é filho de Umbanda; 3.Vem de Aruanda; 4.Nego Veio; 5.Mamãe Oxum; 6.Segura a Pemba; 7.Vem cá, Mucamba; 8.Dom Miguel;

Heitor dos Prazeres foi companheiro inseparável de Donga e Pixinguinha e um dos maiores compositores e instrumentistas brasileiros. Foi profundamente inspirado pela música de terreiro e gravou vários discos com o tema umbandístico, seu imaginário e seus símbolos, herança de Tia Ciata, mãe de santo e musa inspiradora de muitos compositores da época (veja em “reportagens” a matéria Mães de Santo, Mães do Samba).



Heitor dos Prazeres em seu atelier
Este disco, raríssimo, conseguimos a duras penas para o acervo, pois seria destruído por um evangélico quando de sua conversão (só para constar, ele era católico, antes que pensem qualquer coisa...). Estava condenado (o disco, não o convertido) a ir para o lixo em pedaços e convencemos o fulano a nos vendê-lo (um breve retorno à lucidez nesse tipo de epifania evangélica sempre custa alguma coisa) por um preço que Deus considerou justo naquele momento, mas que o diabo nos fez pesar nos bolsos. Tudo bem. Salvamos a obra e está aí, pro povo de santo não esquecer que nossa música tem uma origem importantíssima nos nossos abaçás.

Heitor dos Prazeres nasceu no Rio de Janeiro em 1898 e faleceu na mesma cidade em 1966. Menino do morro, filho de operário, sua vida seguiu a rotina de qualquer criança favelada. Ora trabalhava no ofício de seu pai, que era marceneiro, hora vadiava nas ruas do centro, entre a praça Onze e o Mangue, região da mais refinada malandragem.


Não é, pois de se estranhar que, já aos treze anos, fazia sua estreia nos registros policiais, ficando preso por dois meses na Colônia Correcional de Ilha Grande, sob a acusação de vadiagem, o que na época era tipificado como contravenção penal.

A música foi a primeira paixão de sua vida, aprendendo, desde cedo, a tocar clarinete e, depois, cavaquinho. O samba e a marchinha surgiram em seguida, consequência do ambiente em que vivia e das rodas que freqüentava, fonte de aprendizado e de inspiração. Depois veio o casamento, que não durou tanto, pois sua esposa faleceu quando ele tinha apenas 39 anos de idade.

Foi então que, para preencher o vazio de sua vida, Heitor dos Prazeres começou a pintar aquarelas, ao sabor do vento, sem técnicas especiais; depois, passou para a pintura a óleo e aí, sim, foi, aos poucos, aperfeiçoando seu estilo próprio, até chegar às imagens claras e brilhantes que conhecemos hoje, com personagens em contínuo movimento e irradiando o calor humano.


O disco é excelente, como tudo que Heitor fez em sua existência. Tem pitacos de humor e de religiosidade característica dos antigos umbandistas, quando de sua estruturação inicial, nos anos 20/30. A capa também é de sua autoria, maravilhosa pintura do gênio, que também era escritor.

O site oficial de Heitor é http://www.heitordosprazeres.com.br/ . Surpreendentemente, lá as obras de Heitor relacionadas ao universo musical afro-brasileiro constam como Valsas!!! Vai entender...


Para ouvir a faixa 3, "Vem de Aruanda", clique abaixo:

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