Gravações realizadas no terreiro Mansu Banduquenqué, o Bate-Folha, em Salvador-BA, em dezembro de 2006. Foram gravados vários templos do Brasil e de Salvador que lá se apresentaram, tais como o próprio Bate-Folha, Axé Opó Afonjá, Casa Branca, terreiros do Maranhão, o Tumba-Junçara, Alabês FTU e Alabês de Pai Tauá.
Fotos: Vivian Lerner.
Alabê da Casa Branca
Há oito anos que os tambores batem forte num espaço dedicado especialmente a eles. O Alaiandê Xirê foi criado por um grupo de membros do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, que sediou todas as edições do evento até o ano de 2005. Sua intenção é permitir o entrosamento de músicos especializados nas diversas nações culturais procedentes da África na diáspora brasileira, que vêm contribuindo na formação da música popular.
Cléo Martins e Roberval Marinho, criadores do evento
O ALAIANDÊ XIRÊ - Festival Internacional de Alabês, Xicarangomas e Runtós reúne os melhores músicos sacerdotes: cantores e tocadores de atabaques da Bahia, do Brasil e, também, de diferentes regiões do exterior. As exibições de alguns virtuoses do universo cultural dos Orixás, Voduns e Inquices atraem centenas de pessoas de múltiplos interesses que vêm participar do ALAIANDÊ XIRÊ - já reconhecido e sedimentado na cidade do Salvador, no Brasil e alguns paises da diáspora africana.
Congá principal de Bate Folha - parte superior
Congá principal do Bate-Folha - Parte internaA partir de 2006, o festival tornou-se itinerante. A decisão de mudar a sede do encontro foi resultado da necessidade de ampliar sua abrangência. O terreiro Mansu Banduquenqué, conhecido como Bate-Folha, foi escolhido, sobretudo, por conta da amizade entre o fundador do Bate Folha, Pai Ampumandezu (Manuel Bernardino da Paixão) e mãe Iani, fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá. "A escolha do terreiro Bate-Folha, além de casar com os seus 90 anos de existência, tem este aspecto mais que simbólico como se fosse a celebração desta amizade entre os dois", afirma a escritora e uma das fundadoras do Alaiandê Xirê, Cléo Martins, também apresentadora do festival, por sinal, excelente, conduzindo o evento com maestria, simpatia e profissionalismo exemplares.
Data de fundação do Bate Folha - Entrada do templo.
Tata Ampumandezu - fundador do Bate Folha
Neste ano (2007), provavelmente a sede do Alaiandê será no Ilê Axé Iya Nassô Oká, a Casa Branca do Engenho Velho, um dos mais antigos templos do Brasil, Com a abertura – no dia 01/12/2006 - da nona edição do Festival Alaiandê Xirê, o tradicional Terreiro do Bate-Folha, na Mata Escura, transformou-se, no ponto de encontro dos sacerdotes músicos das três nações de candomblé, queto, angola e jeje e também da umbanda, pois no ano de 2006 ela foi representada pela primeira vez com a presença da FTU.
Tata Mulandurê, atual mestre do Bate-Folha O evento, que tem o objetivo de congregar as diversas religiões de matriz afro-brasileira, reúne, de maneira festiva, os mestres tocadores dos ritmos africanos - alabês (queto), xicarangomas (congo/angola) e runtós (jeje). Além do caratér musical, o Alaiandê Xirê, que pela primeira vez acontece em um terreiro que não o Ilê Axé Opô Afonjá (em São Gonçalo do Retiro), também reuniu pesquisadores de temas ligados aos cultos afro-brasileiros. O festival foi aberto com a exposição Fogo que fica, da artista plástica Suzana Duarte, que homenageia os inquices, as divindades da natureza cultuadas pelo povo de candomblé angola. O maestro Fred Dantas iniciou o evento com sua banda marcial, executando músicas com temáticas de terreiro.
Maestro Fred Dantas e bandinha Alaiandê
Na abertura, foram saudados os Nkices com os Xicarangomas do Bate Folha, principalmente Bamburucena e Kitembo, os patronos da casa. A seguir foram saudados os Orixás com os alabês do Axé Opô Afonjá, que entoaram cantigas de permissão para o bom andamento do evento.
Xicarangomas do Bate-fôlha. Em especial este senhor: o Xicarangoma Dedé! Surpreendente. Toca com suavidade e sensibilidade, reconhecendo o tambor como um sagrado ser vivo. Canta maravilhosamente, às raias da emoção. História viva!!
A atriz Chica Xavier deu um depoimento a respeito da história do evento. "Para mim, é sempre uma honra participar deste evento, que antes de tudo significa uma celebração entre os povos de candomblé. Acho que este ano ele ganha mais significado com a sua realização num terreiro histórico como o Bate-Folha" Ao saber da presença da FTU no evento, declarou-se umbandista: “Sou umbandista!! E é de extrema importância o surgimento de uma Faculdade para o povo do santo”, afirmou a atriz. Ao final, ocorreu a apresentação da banda Canjerê de Sinhá.
A atriz Chica Xavier e marido
Alaiandê Xirê significa, em língua iorubá, "festa do mestre tocador". Alaiandê serve também como epíteto do orixá Xangô, que rege o evento. De acordo com a mitologia da religião dos orixás, Xangô é o mestre tocador, o maior dentre todos os tocadores e dançarinos de batá, um toque ritual em sua homenagem – Batá ainda é na África e em Cuba, o nome de um tambor consagrado a este orixá. Segundo alguns mitos, Ayom, o orixá do tambor era filho de Xangô e Oyá.
Obashanan e Mameto Guanguacessy
Membro do terreiro Alaketu, Florivaldo Cajé coordenou a primeira mesa-redonda do dia 02/12/2006: “Bate-Folha, o Mansu Banduquenqué: 90 anos de resistência”. "A intenção da mesa-redonda é discutir e redimensionar a importância histórica do terreiro do Bate-Folha, que é um dos mais tradicionais da Bahia", afirmou Cajé.
Este é um verdadeiro Mestre tocador de Rwm. É o Alabê Edvaldo, da Casa Branca do Engenho Velho. Esse homem é um absurdo, toca muito, com seriedade, respeito e devoção ao seu instrumento!! Um dos melhores que já vi! Quem está com Edvaldo no fundo é Ogã Guelê do Axé Opô Afonjá.
Não podemos deixar de registrar a presença do professor Ângelo Mário do Prado Pessanha, o pai Alayedã, que em sua preleção colocou com maestria muitos pontos importantes para a religiosidade brasileiraLogo após, houve a exibição das delegações de alabês, xicarangomas e runtós. Além dos grupos dos terreiros de Salvador, como a Casa Branca, houve a presença de outros vindos do Rio de Janeiro, de Recife e de São Paulo. Foi aberto o espaço para a Umbanda, onde Obashanan apresentou alguns toques e pontos cantados e discursou sobre a FTU e o CONUB como de importância histórica e fundamental para todo o povo do santo. Além da FTU também esteve presente o templo umbandista do Vale do Sol e da Luz, do pai Luís.
Obashanan representando a Umbanda
A confraternização maior aconteceu quando foram entoados pontos louvando-se os Caboclos – o Orixá do Brasil, segundo as autoridades das diversas nações presentes ao evento. Carregando a bandeira do Brasil, todos, unidos, cantaram emocionados para esta entidade que é unanimidade em qualquer templo, mostrando que o astral está em todo e qualquer terreiro através desses nossos mestres da Umbanda.
A bandeira brasileira...
... sendo carregada por todas as nações quando da louvação aos caboclos.
Xicarangoma Xuxuca, um dos maiores do Brasil
No dia 03 outra mesa-redonda realizou-se cujo tema foi: “a origem dos povos bantos” e uma nova apresentação de delegações apresentou-se à tarde, com especial destaque para Pai Tauá, da raiz Angola, numa apresentação maravilhosa, mostrando um conhecimento absolutos dos cânticos Bantu, com Xicarangomas absolutamente impecáveis, próximos da perfeição e conseqüentemente, da espiritualidade.
Completos... perfeitos... impecáveis! Xicarangomas de Pai Tauá.
Filhas do Bate Folha saudando Inkices ao som dos Xicarangomas de Pai Tauá