Tuesday, June 19, 2007

Macumba - Heitor dos Prazeres - 1929

Heitor dos Prazeres – LP 45 - Macumba (Rádio Fonográfica Brasileira - 1929)

1.Tá Rezando; 2.Quem é filho de Umbanda; 3.Vem de Aruanda; 4.Nego Veio; 5.Mamãe Oxum; 6.Segura a Pemba; 7.Vem cá, Mucamba; 8.Dom Miguel;

Heitor dos Prazeres foi companheiro inseparável de Donga e Pixinguinha e um dos maiores compositores e instrumentistas brasileiros. Foi profundamente inspirado pela música de terreiro e gravou vários discos com o tema umbandístico, seu imaginário e seus símbolos, herança de Tia Ciata, mãe de santo e musa inspiradora de muitos compositores da época (veja em “reportagens” a matéria Mães de Santo, Mães do Samba).



Heitor dos Prazeres em seu atelier
Este disco, raríssimo, conseguimos a duras penas para o acervo, pois seria destruído por um evangélico quando de sua conversão (só para constar, ele era católico, antes que pensem qualquer coisa...). Estava condenado (o disco, não o convertido) a ir para o lixo em pedaços e convencemos o fulano a nos vendê-lo (um breve retorno à lucidez nesse tipo de epifania evangélica sempre custa alguma coisa) por um preço que Deus considerou justo naquele momento, mas que o diabo nos fez pesar nos bolsos. Tudo bem. Salvamos a obra e está aí, pro povo de santo não esquecer que nossa música tem uma origem importantíssima nos nossos abaçás.

Heitor dos Prazeres nasceu no Rio de Janeiro em 1898 e faleceu na mesma cidade em 1966. Menino do morro, filho de operário, sua vida seguiu a rotina de qualquer criança favelada. Ora trabalhava no ofício de seu pai, que era marceneiro, hora vadiava nas ruas do centro, entre a praça Onze e o Mangue, região da mais refinada malandragem.


Não é, pois de se estranhar que, já aos treze anos, fazia sua estreia nos registros policiais, ficando preso por dois meses na Colônia Correcional de Ilha Grande, sob a acusação de vadiagem, o que na época era tipificado como contravenção penal.

A música foi a primeira paixão de sua vida, aprendendo, desde cedo, a tocar clarinete e, depois, cavaquinho. O samba e a marchinha surgiram em seguida, consequência do ambiente em que vivia e das rodas que freqüentava, fonte de aprendizado e de inspiração. Depois veio o casamento, que não durou tanto, pois sua esposa faleceu quando ele tinha apenas 39 anos de idade.

Foi então que, para preencher o vazio de sua vida, Heitor dos Prazeres começou a pintar aquarelas, ao sabor do vento, sem técnicas especiais; depois, passou para a pintura a óleo e aí, sim, foi, aos poucos, aperfeiçoando seu estilo próprio, até chegar às imagens claras e brilhantes que conhecemos hoje, com personagens em contínuo movimento e irradiando o calor humano.


O disco é excelente, como tudo que Heitor fez em sua existência. Tem pitacos de humor e de religiosidade característica dos antigos umbandistas, quando de sua estruturação inicial, nos anos 20/30. A capa também é de sua autoria, maravilhosa pintura do gênio, que também era escritor.

O site oficial de Heitor é http://www.heitordosprazeres.com.br/ . Surpreendentemente, lá as obras de Heitor relacionadas ao universo musical afro-brasileiro constam como Valsas!!! Vai entender...


Para ouvir a faixa 3, "Vem de Aruanda", clique abaixo:

Canto de Fé - 1977


Canto de Fé - LP – (Som Livre – 1977)

1.Quizumba de Rei – Ruy Maurity; 2.Oxossi – Chico Batera; 3.São Jorge Guerreiro – Chocolate da Bahia; 4.Moça Bonita – Ângela Maria; 5. Promessa ao Gantois – Os Tincoãs; 6.Meu Pai Oxalá – Toquinho e Vinícius; 7.Canto de Fé – Zé Maria; 8.Tributo às Almas – Aparecida; 9.Xangô, o vencedor – Ruy Maurity; 10.Rainha dos Sete Mares – Elza Soares; 11.Santo Antônio – Chocolate da Bahia; 12.Pena Verde – Zé Maria;

Sim, houve um tempo em que a Som Livre investiu na Música Umbandista!! Sim, houve um tempo em que uma grande gravadora - a maior do período – mesmo com os olhos voltados na caixa registradora arriscou singrar nos mares rítmicos das religiões brasileiras pois era uma época em que a Umbanda havia se firmado no mercado fonográfico principalmente pela figura de Clara Nunes, assumidamente umbandista. A qualidade do disco é indiscutível, pois o time foi escolhido com perfeição: Tincoãs, Ruy Maurity, Aparecida e Elza Soares já valem a audição. Só faltaram os emblemáticos João Bosco, Clementina e a própria Clara, mas é uma boa mostra da influência que a Umbanda possuía sobre a música brasileira.


Para ouvir a faixa 01, "Quizumba de Rei", clique abaixo:

Monday, June 18, 2007

Angola – Luiz N´Gambi - Cantos Tradicionais - 1981


Angola – Luiz N´Gambi - Cantos Tradicionais – LP/ CD - (Eldorado – 1981)


01.Muadiakime; 02.Muxima; 03.Nana Fatita; 04.Birin-birin; 05.Henda I Xala; 06. Marimbondo Uangi-Lumata; 07.Tuala Nigienda; 08.Monami Zeca; 09. Hoola Hoop; 10. Nga Kuambela Kiá; 11. Makezu; 12. Samba;

Com este disco inauguramos o setor “mundo”, onde postaremos muito das origens e raízes das músicas de terreiros no Brasil. Esse universo abrange desde as músicas de origem africana, em sua face popular e ritualística, até as músicas asiáticas, européias, etc. Procuraremos dar um panorama geral do que se canta no mundo de Zamby, esse mundo que se encontra e se renova em nosso Brasil

Luiz Ngambi é um cantor e compositor angolano, que já de longa data procura difundir as tradições Angolanas para o Brasil e o mundo. Trata-se de um trabalho onde canções tradicionais e folclóricas foram recolhidas e executadas num formato mais moderno nas doze faixas do LP. É interessante notar-se a semelhança, para não dizer a fonte de origem de muito da música brasileira e cubana. É disco com ótimos músicos, cantado em quibundo, com temas muito voltados às coisas da religião


Para ouvir a faixa 06, "Marimbondo Unagi-Lumata", clique abaixo:


Yorubana - sem data


Yorubana – CD – (Independente – sem data)
1.Yorubana; 2.Exu; 3.Ogun; 4.Oxossi; 5.Osanyin; 6.Omulu; 7.Oxumarê; 8.Xangô; 9.Yansã; 10.Oxun; 11.Logun; 12.Ewá; 13.Oba; 14.Yemanjá; 15. Nanã; 16. Iroko; 17.Ibeji; 18. Oxalá;

Todas as composições são de Toninho Sereno. Ele homenageia a diáspora africana através dos orixás, contando, nas letras os atributos de cada um deles. Este é um disco onde as músicas são interessantes e os instrumentistas são excelentes. Nomes como Osvaldinho da Cuíca, Tata Undeboassi, Nildo Alexandre e outros são um naipe de respeito e por isso a parte instrumental não deixa nada a dever. O problema está nos vocais, que talvez Toninho, por inexperiência, não tenha tido a oportunidade de explorar e ensaiar melhor. Mas é um compositor interessante e quem sabe, se colocar uma vocalista por exemplo, num outro trabalho, terá mais sucesso na apresentação sonora.


Para ouvir a faixa 11, "Logun", clique abaixo:

Aruanda - 1970


Aruanda LP – CD – Cáritas – 1970


1. Hino da Umbanda; 2. Ponto de São Severino; 3.Seu Tangaraí; 4.Sultão das matas; 5.Sarava o Caboclo Humaitá; 6.Clarão da Lua; 7.Bambolê Olé Olá; 8.Luz Bonita; 9.Serra Negra; 10.Ponto da Cabocla Jurema; 11.Iluminou a Aruanda; 12.Samambaia; 13.Ogum Mege;

Tenda São Jorge, Tenda Tupã Oca; Tenda Pai Anastácio; Tenda Cacique Tupy; Tenda de Umbanda Ozazi;Tenda Pai Manoel de Angola; Tenda Caboclo da Mata; Tenda Cacique Tupy; Tenda Caboclo Pena Dourada;

Ora, senhores, o que dizer deste disco, desta Umbanda esquecida nestes sulcos, deste Brasil grande que teimamos em negar cada vez que abrimos o “Lap-top”, que entramos numa “Fast-food”, que fazemos o “Check-in”? Como falar do que esquecemos, do que negamos? Tenhamos calma, pois estamos frente a um gigante...


Uma bandinha militar começa o disco, meio torta, meio balançante, tentando acertar o ritmo do Hino da Umbanda, se adaptando a um tipo de estrutura a qual não está acostumada: tenta “suingar” com a letra em 2 por 4, pois a batida em original é em Cabula, um dos toques mais conhecidos dos terreiros do Brasil. Aparentemente todos os terreiros presentes no disco se reuniram para cantar o hino da Umbanda, numa espécie de celebração. O que parece desafinado para músicos de ouvidos ocidentais, é comum na chamada música modal, a música dos povos antigos, a mesma música que deu origem às civilizações. E nesse conflito de passado/presente, surge o surpreendente equilíbrio das diferenças.


A música umbandista quase sempre foi assim: é música de gente simples, gente sem dente, gente de roupa barata, mas elegante, gente sem grandes extratos bancários, mas de grande coração, gente com fé, com esperança, com determinação. É música de pessoas inteligentes. Pois quem, no mundo tem nossos ritmos? Qual religião? Qual filosofia tem os mistérios de Exu, as ciências do Catimbó, a arte das mirongas de Criança? As cores e sabores dos Orixás? Apesar do contato com o céu, gente do santo é gente de pé no chão. Pessoas orgulhosas de serem os únicos a contemplarem diariamente uma verdade desconhecida por muitos: a presença de um mundo espiritual rico, verdadeiro e atuante em suas vidas.


Quem não percebe o Brasil como ele é - lindo em sua diversidade - não percebe a beleza da voz da Colofé da tenda Tupã São Jorge: enraizada no calor e no pó da alegria que desperta do sofrimento, do prazer que desfere um basta para toda dor e miséria; não sente a importância das vozes das ogãs da Tenda Tupã Oca, resquícios dos cantos antigos das Ycanyabas, brandindo seus chocalhos, num maravilhoso culto híbrido com as antigas roças de Toré e de Jurema. Cantam afinado sem saber, pois afinar é se render às ditaduras do tom e esse meu povo do santo não se rende nunca, pois viver com o Orixá é viver bem e feliz, mesmo com toda dificuldade de um país injusto com os mais simples. Não há rendição, pois não há cansaço!! São filhos de Ogum, lutador, de Xangô, o justo, de Oxossi, incansável!! São filhos de Caboclo, sempre altivo, feliz e potente em sua simplicidade; são pacientes filhos de Preto Velho e felizes filhos de Criança, neste paradoxo das identidades do que é e será para sempre.
Sabem que a justiça e a harmonia virá um dia para todos! Fraternidade e caridade sempre serão o seu mote, a sua trilha. Por isso tantos são pobres - a exemplo dos antigos patriarcas: Jesus, Buda, Francisco de Assis? Que lhes importava além de sua túnica e da felicidade em se ter compaixão pelos outros? Sim, pobres, mas jamais devedores!! E não se preocupam com a estética profana, essa ante-sala da vaidade, pois sabem que num ritual, a estética, a plástica, a postura, é determinada quase sempre pelo astral que acoberta o terreiro e estrutura a tudo e a todos quando se evidencia a sua ancestralidade.


Essas vozes soam maravilhosas, como anjos brasileiros, anjos aleijadinhos, mal formados de corpo (pois o que comem os anjos?), mas lindos de embriaguez espiritual, de mãos calejadas pelo trabalho pesado e pelo beijo do crente fervoroso... das gargantas das cantoras da Tenda Pai Anastácio milhares de anos contemplam um passado visto apenas pelos olhos dos vermelhos ancestrais e dos sacerdotes negros das esfinges dissolvidas nas areias... como não se emocionar com o Clarão da Lua do Caboclo Cangaíba da tenda Ozazi? Um ponto cantado para o senhor Ipojucan e outros caboclos sob outras formas musicais, mas que encerram o mistério da Umbanda na emoção que ela instiga e provoca. Silenciosa, ela surge por trás de tambores magnéticos, destes antigos terreiros que ainda giram na alma de quem os presenciou nos antigamentes de uma infância colorida pela mística das roupas e colares.


Por isso estas pessoas cantam além das afinações convencionais. Cantam nos seus limites, no máximo que a voz pode atingir, vibrando o corpo como um sino, porque o único limite possível e permitido é a própria alma, a periferia do espírito. Querem atingir algo além da pobreza, da tristeza e da violência de um Brasil que não é nada disso. Muito pelo contrário: o Baratzil, berço da antiga tradição é constantemente renovado, limpo e dignificado por estes corais e estes atabaques abençoados, pois a nossa terra, assim como estes e outros templos, é a terra da alegria, do cessamento de toda dor e da revelação de toda verdade através da libertação pela música e pela presença de nossos ancestrais, oriundos das pátrias da Aruanda, o Yvi –Mara Hei, o Orun, a eterna Terra sem Males...


Para ouvir a faixa 4, "Sultão das matas", clique abaixo:

Umbanda na Natureza - 1996


Escola de Curimba Umbanda e Ecologia - Umbanda na Natureza – LP – (BMG – ariola/1996)


1.Ogum de Lei mensageiro de Oxalá; 2.Cavaleiro da Marambaia; 3.Levantar da Oxum; 4.Mirongas da Bahia; 5.Iara deusa dos rios; 6.mamãe de Aruanda; 7.Cavaleiro de Ogum; 8.A lança de São Jorge; 9.Hino do superior órgão de Umbanda; 10.Hino de Oxalá;

Templo Umbanda de Umbanda São Sebastião, com André de Oxossi, Reinaldo Rezende, e Pai José Valdivino da Silva;

A Umbanda anda por caminhos tão diversos que muitas vezes a surpresa nos atinge como um raio de sol da manhã. Este disco é muito bom, bem gravado, bem produzido e com músicos excelentes. Há o uso discreto de instrumentos um pouco estranhos aos ritos de terreiro, tais como triângulos, surdões, queixadas e timbales, mas a ambiência é tão favorável, com tal conforto auditivo - raramente ouvido em discos com tais produções – que nem se percebe as intervenções e os ataques, quando surgem na atmosfera da composição.

A única exceção é a última faixa, uma claríssima intenção de se conectar com as produções musicais mais antigas dos evangélicos, e foge completamente da estética do resto do disco, pois é recheada de teclados, bateria eletrônica etc...


Para ouvir a faixa 5, "Iara deusa dós rios", clique abaixo:

Na força de Ogun - Provavelmente anos 70

Na força de Ogun – LP – A Universal – Provavelmente anos 70

1.Ogum de Lê; 2.São Jorge é guerreiro; 3.Sua espada eu quero ver; 4.Na areia e no mar; 5.Firma o ponto meu irmão; 6.Ogum Sete Ondas; 7.Ele vence demanda; 8.Sarava seu sete ondas; 9. Ogum Iara; 10.Sua espada é de ouro; 11.Bandeira de Ogun; 12.seu Beira Mar; 13.Fumaça é a nuvem do céu; 14.Nos campos de Humaitá; 15.Filho de Ogun não cai.

Mãe Santina Toledo, Pai Anselmo Duran, Ogan Claudemir Duran, com o coral das filhas de fé do Centro Espírita Mãe Maria da Conceição;


Um disco recheado de clássicos da Umbanda em todos os seus tempos. O ogã Claudemir canta muito bem e seu toque, embora simples, conduz com firmeza o coral, que canta afinado.


O efeito estéreo do disco é muito equilibrado, embora a prensagem do disco deixe a desejar – há alguns momentos em que há saturação da máster – mas esse fator não deixou de fazer deste disco um dos mais queridos dos umbandistas em todos os terreiros. Praticamente todos os pontos são de raiz e são cantados numa aproximação da angola que praticamente não se vê mais nos dias de hoje.



Para ouvir a faixa 7, "Ele vence demanda", clique abaixo:

Rita Ribeiro – Tecnomacumba - 2006


Rita Ribeiro – Tecnomacumba CD – (Biscoito fino - 2006)

01. Saudação - Abertura; 02. Domingo; 03. Cavaleiro de Aruanda; 04. Babá Alapalá; 05. Oração do Tempo; 06. A deusa dos Orixás; 07. Iansã; 08. Rainha do Mar; 09. É d´Oxum; 10. Coisa da Antiga; 11. Cocada; 12. Jurema; 13. Tambor de Crioula; 14. Canto para Oxalá;
Rita Ribeiro fêz, com este disco, um trabalho importantíssimo para o resgate e valorização da música de terreiro, objetivando, assim como fêz Bethânia em Brasileirinho a verdade sobre as origens de nossa música. Pois nos dias de domínio ditatorial da música imposta pelo americano, onde programas populares assumem abertamente a linguagem evangélica (recheando com estruturas gringas e trejeitos oriundos das ridículas, pré-fabricadas e tôscas maneiras de se "louvar") no intuito de enganar o Brasil, mostrando como excelentes, vocalistas que adoram cantar subindo e descendo a mãozinha, tal e qual a cobra do Gênesis, Rita Ribeiro nos lembra que existe uma escola e uma maneira brasileira de se cantar. Faz algum tempo que venho ouvindo com curiosidade e agrado uma voz de mulher que impressiona pela firmeza, pela limpeza do som, pela naturalidade da afinação. É uma voz que ouvi primeiro casualmente no rádio do carro e que sempre me fez parar para atentar e me perguntar: quem é essa cantora que tem a emissão lisa (sem vibratos) mais impressionante que ouvi em muito tempo? De quem é essa voz encorpada e delicada, de quem são esses glissandos seguros e de grande efeito experimental sem sombra de vulgaridade?


Aprendi o nome de Rita Ribeiro ao encontrar as respostas a essas perguntas. Agora, em parte num movimento de buscar usos significativos para suas invenções vocais, Rita desenvolveu esse projeto a que deu o nome de Tecnomacumba. Os cantos e toques das religiões afro-brasileiras e sua sintonia com os ritmos desenvolvidos no uso de instrumentos eletrônicos. O resultado é rico, honesto e sugestivo.

O disco é um produto de nível profissional impecável, uma prova de que o Brasil anda com as próprias pernas. As combinações rítmicas e timbrísticas das programações eletrônicas com os instrumentos tocados por gente são equilibradas.

O repertório é uma antologia de composições sobre o tema das religiões africanas no Brasil - sempre emolduradas por cantos saídos diretamente dessas práticas religiosas. Às vezes somos levados a nos perguntar coisas como, por exemplo, se o canto sobre Tempo ecoa as lavadeiras de Monsueto ou se o samba de Monsueto é que foi tirado daquele canto. Assim, há um rendado de motivos, uma rede de lembranças e referências que dão uma textura interna especial ao trabalho. O resultado fica mais para um pop elegante, em que uma boa banda de acompanhamento é temperada por sons tecno, do que para um mergulho radical no mundo dos batuques e da eletrônica. Mais uma vez, o que ressalta é a voz de Rita, sua segurança simpática (isso não é fácil nem freqüente), seu timbre cheio, seus ornamentos chiques porque personalíssimos, sua nobreza maranhense. Esse disco tem um futuro intrigante e pode vir a dizer mais do que parece agora. Vamos ouvir e esperar.


Para ouvir a faixa 07, "Iansã", clique abaixo:

Thursday, June 14, 2007

Pomba Gira - 1993? - provavelmente gravações dos anos 60/70


Pomba Gira – LP/CD - (Musidisc/Todamérica/Cáritas/Luzes) – 1993?

1.Rainha da encruzilhada; 2.Pomba Gira cigana; 3.Pomba Gira; 4.Moça Bonita; 5.Pombo Gira; 6. Rainha da encruzilhada; 7. Cadê Viramundo; 8.Seu Tiriri-Maria Padilha; 9. Exu pomba gira; 10.Quem te mandou; 11.Pombagira; 12.Exu Apavenan;


Clássico absoluto dos terreiros! No Cd mais 3 faixas foram acrescentadas, todas de Dorico; Apesar de no encarte do LP estar registrado ano de 1993, acreditamos que todas gravações sejam das décadas de 60/70; além disso, os nomes das músicas foram ligeiramente modificados no encarte do cd, talvez para “parecer” um produto “novo”.

O disco é bem variado, desde pontos registradas em terreiros, ao vivo, até a música de inspiração umbandista de Cubanito e outros, em ritmo de samba e derivados. Os registros “in loci” são os melhores, traduzindo a pureza e o modo de cantar dos terreiros em suas giras de kimbanda. Um disco muito bom!



Para ouvir a faixa 01, "Pomba Gira", clique abaixo:

Tuesday, June 12, 2007

Abertura e Encerramento – Na magia de Boiadeiro e Baiano - 1970

Abertura e Encerramento – Na magia de Boiadeiro e Baiano – LP – (A Universal/1970)

1.Força Maior/Raio de sol/Pancada do Sino; 2.Chapéu de couro/Ponta do laço; 3.Xetuá Boiadeiro; 4.Brasileiro Imperador; 5.Estava Longe; 6.Água de gravatá; 7.Baiana feiticeira; 8. Zé Pilintra e os Baianos; 9. Dois, dois de ouro; 10. Baiano Trabalhador; 11. Mironga de Baiano; 12.Filho de Yemanjá; 13.Vida do Ronco/Velhinho dos cabelos loiros/rei coroado (Tauamy);

Domingos Santos, Zé do Ode, Isaura da Bahia e Ney Mutalambê, com os Ogan e Corimbeiras da Congregação Espírita São Gerônimo.

Este é mais um clássico dos terreiros. Aqui estão alguns dos pontos mais conhecidos da encantaria como são entoados dentro dos terreiros de umbanda. O clima da gravação é bem próxima do que acontece nos terreiros. Temos dois atabaques, um agogô e um eventual adjá que dá o clima de uma sessão.
Ney Mutalambê, Domingos dos Santos, Zé de Ode e Izaura da Bahia cantam bem, com vontade e alegria. A gravação é um pouco saturada no reverber, e a faixa dois tem um problema de prensagem, pois começa como a primeira faixa e logo depois pula para as canções da segunda. No mais, é um excelente registro, com toques em barravento, congos de ouro e cabulas muito bem tocados.


Para ouvir a faixa 06, "Água de Gravatá", clique abaixo:

Os Cantores da Umbanda - Vol. 1 - 1990


Os Cantores de Umbanda - LP – (Independente - 1990)

1.O Caminho; 2. A Dona do Mar; 3. Lamento do Cativeiro; 4.Festa de Xangô; 5.Nana ê; 6.Tributo ao Pai Jaú; 7.Fim do arco-íris; 8.Festa dos Orixás; 9. Um Raio de Luz; 10.Os erês aqui na Terra;

Coral “Os cantores da Umbanda e Erô”, com os cantores Gerson de Oxalá, Valter de Xangô, Carmem de Ogum, Maurício de Oxossi e Élcio de Oxalá. Arranjo de Teclados, Bateria e Percussão eletrônica: Maestro Alian; Guitarra base: Ruy;


Este disco foi gravado para homenagear o Pai Euclides Barbosa, o Pai Jaú. Trata-se de um disco com composições inspiradas nas coisas da umbanda: caridade, fé, esperança... pretende ser um disco de mensagens e como diz o encarte, tem como prioridade enaltecer o nome da Umbanda com preces em forma de canções. Lembra muito as primeiras produções evangélicas dos anos 80. São composições com arranjos sem muita produção, com intenção de ser moderno, aproximando-se de ritmos semelhantes ao axé, sertanejo, reggae, etc


Para ouvir a faixa 10, "Os erês aqui na terra", clique abaixo:

Monday, June 11, 2007

Umbanda - Preto Velho – Hinos e Pontos de Umbanda - 1973


Capa original de 1973


Capa de edição posterior, provavelmente 1975



Umbanda - Preto Velho – Hinos e Pontos de Umbanda - 1973 LP (Âncora/Beverly – 1973)

1.História de Pai João de Aruanda; 2.Senhora da conceição; 3.Ponto do Caboclo Pedra Branca. 4.Ponto do Terreiro Pena Azul; 5.Pena Azul e Cabocla Jurema; 6.Hino à Rompe Mato; 7.Yorimá-Homenagem aos Pretos Velhos; 8. Rompe Mato (Persistência); 9. Yemanjá; 10. Hino ao Caboclo Pena Azul; 11. Ogum Yara; 12.Hino à Mamãe Oxum;

Ogã Mauro Fernandes com coro do Centro Espírita Pena Azul; O Centro Espírita Pena Azul é um dos templos mais tradicionais do Brasil. Este disco traz pontos de raiz mesclados a hinos de louvação.
É o caso dos pontos do Caboclo Pedra Branca e do Ogum Rompe Mato, pontos fortíssimos de raiz, com alguma pequena modificação que não chega a alterar o sentido oculto da invocação É um disco muito bem gravado. Percebe-se o cuidado com que os músicos se dedicaram para que ele viesse a luz. O alabê executa sua função com muito cuidado – há apenas um atabaque de instrumental – e o coral é afinadíssimo, com momentos lindíssimos, nos corais executados sem atabaques.

Percebe-se, pelos pontos, que existia – ou existe – no Centro Pena Azul uma convivência salutar entre várias escolas umbandistas, pois há elementos da Umbanda praticada por Matta e Silva, ecos da Umbanda de Zélio de Moraes e da Umbanda mais Mística, próxima do Catolicismo.

Duas capas excelentes foram produzidas em duas edições diferentes: a primeira é clássica, conhecidíssima, com as imagens dos orixás e dos Pais Velhos. A outra é belíssima e enigmática: um Pai Velho sentado sobre uma nuvem... ou seria uma explosão atômica? É um disco muito equilibrado e como disse, percebe-se que feito com muito carinho pelos músicos.

E esse esforço compensa qualquer defeito técnico que possa ser percebido na gravação.
O site do Centro Pena Azul é:


Para ouvir a faixa 06, "Hino Rompe Mato", clique abaixo:

Sunday, June 10, 2007

Mães de santo. Mães do samba.

Tia Ciata e Tia Josefa


Na música popular brasileira, a música de terreiro sempre esteve presente na sua origem, sob a figura de pessoas importantíssimas para a verdade de nossa identidade como povo nos dias de hoje. Embora haja uma despreocupação em se resgatar e mais do que isso, em se admitir a importantíssima porcentagem na formação da estrutura harmônico/rítmico/melódica do cancioneiro popular como oriundo dos terreiros, o passado não pode ser mudado, sequer extinguido. Assim, lembremos das "Tias" que deram origem ao samba - e suas derivações, quase esquecidas nos livros, mas sempre lembradas no lamento do atabaque, do surdo e do pandeiro...

No contexto do qual resultou a fixação do samba no Rio de Janeiro nos últimos anos do século XIX e nos primeiros do século XX, a presença das chamadas "tias" baianas foi da maior importância, sob qualquer ângulo que se estude a questão.

Como guardiãs da cultura popular que elas mesmas transportaram de Salvador para o Rio de Janeiro e como transmissoras dessa mesma cultura para seus descendentes e para os que delas se aproximaram na nova terra;

Como sacerdotisas de cultos e ritos herdados de ancestrais e legados ao futuro;

Como festeiras eméritas, mestras na arte do samba, versadoras, improvisadoras, cantadeiras, passistas e mesmo como cozinheiras absolutas, mantendo por dias os fogões acesos e os quitutes quentinhos para os que vinham "brincar o samba" em seus casarões em festanças que chegavam a durar uma semana.

Tia Bebiana, Tia Preseiliana de Santo Amaro, Tia Veridiana, Tia Josefa Rica eram assim também e tantas outras mais. Porém ao ser focalizada a história do samba, o nome que aparece com mais destaque, citado nas entrevistas dos contemporâneos como João da Baiana, Pixinguinha, Donga, entre outros e por todos os historiadores, é o de Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata para a maioria, Tia Asseata para alguns.

Casada com João Batista da Silva, um negro também baiano que havia cursado - sem concluir - medicina em Salvador e ocupava bons empregos no Rio, por conta de seu preparo, Ciata reinava absoluta no casarão da rua Visconde de Itaúna onde segundo Pixinguinha "tocava-se choro na sala e samba no quintal". Tal divisão era explicada pelo fato de ser o choro tolerado pela polícia, enquanto o samba era considerado coisa de marginais e perseguido. Como a posição social dos donos da casa estava acima do habitual, gozando de certo prestígio perante as autoridades, usava-se o disfarce do choro na sala da frente e sambava-se à vontade no quintal sem que a polícia batesse à porta.

Mãe-de-santo afamada, Tia Ciata festejava seus orixás, sendo famosas suas festas de São Cosme e Damião e de sua Oxum, Nossa Senhora da Conceição. Nas festas profanas suas habilidades de partideira a destacavam nas rodas de partido-alto, e seu neto Bucy Moreira aprendeu com ela o segredo do "miudinho", uma forma de sambar de pés juntos que exige destreza e elegância, no qual Ciata era mestra.

Pixinguinha, Donga e João da Baiana: influência total da música de terreiro.

Além de cozinheira perfeita, a baiana tinha mão abençoada para doces, no testemunhar de quantos os saborearam. Vestida de baiana, também os comercializava pelas ruas do Rio de Janeiro e com tino comercial alugava roupas de baiana para outras vendedoras, chegando a manter uma equipe só sua de ambulantes nas ruas.

Já viúva, reverenciada como rainha (no Carnaval os ranchos desfilavam sob sua janela), figura exponencial da Festa da Penha, faleceu em 1924 cercada do respeito de pessoas de todas as camadas sociais da cidade.

Friday, June 08, 2007

Alaiandê Xirê - 2006


Gravações realizadas no terreiro Mansu Banduquenqué, o Bate-Folha, em Salvador-BA, em dezembro de 2006. Foram gravados vários templos do Brasil e de Salvador que lá se apresentaram, tais como o próprio Bate-Folha, Axé Opó Afonjá, Casa Branca, terreiros do Maranhão, o Tumba-Junçara, Alabês FTU e Alabês de Pai Tauá.
Fotos: Vivian Lerner.

Alabê da Casa Branca

Há oito anos que os tambores batem forte num espaço dedicado especialmente a eles. O Alaiandê Xirê foi criado por um grupo de membros do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, que sediou todas as edições do evento até o ano de 2005. Sua intenção é permitir o entrosamento de músicos especializados nas diversas nações culturais procedentes da África na diáspora brasileira, que vêm contribuindo na formação da música popular.



Cléo Martins e Roberval Marinho, criadores do evento


O ALAIANDÊ XIRÊ - Festival Internacional de Alabês, Xicarangomas e Runtós reúne os melhores músicos sacerdotes: cantores e tocadores de atabaques da Bahia, do Brasil e, também, de diferentes regiões do exterior. As exibições de alguns virtuoses do universo cultural dos Orixás, Voduns e Inquices atraem centenas de pessoas de múltiplos interesses que vêm participar do ALAIANDÊ XIRÊ - já reconhecido e sedimentado na cidade do Salvador, no Brasil e alguns paises da diáspora africana.





Congá principal de Bate Folha - parte superior





Congá principal do Bate-Folha - Parte interna


A partir de 2006, o festival tornou-se itinerante. A decisão de mudar a sede do encontro foi resultado da necessidade de ampliar sua abrangência. O terreiro Mansu Banduquenqué, conhecido como Bate-Folha, foi escolhido, sobretudo, por conta da amizade entre o fundador do Bate Folha, Pai Ampumandezu (Manuel Bernardino da Paixão) e mãe Iani, fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá. "A escolha do terreiro Bate-Folha, além de casar com os seus 90 anos de existência, tem este aspecto mais que simbólico como se fosse a celebração desta amizade entre os dois", afirma a escritora e uma das fundadoras do Alaiandê Xirê, Cléo Martins, também apresentadora do festival, por sinal, excelente, conduzindo o evento com maestria, simpatia e profissionalismo exemplares.



Data de fundação do Bate Folha - Entrada do templo.




Tata Ampumandezu - fundador do Bate Folha


Neste ano (2007), provavelmente a sede do Alaiandê será no Ilê Axé Iya Nassô Oká, a Casa Branca do Engenho Velho, um dos mais antigos templos do Brasil, Com a abertura – no dia 01/12/2006 - da nona edição do Festival Alaiandê Xirê, o tradicional Terreiro do Bate-Folha, na Mata Escura, transformou-se, no ponto de encontro dos sacerdotes músicos das três nações de candomblé, queto, angola e jeje e também da umbanda, pois no ano de 2006 ela foi representada pela primeira vez com a presença da FTU.


Tata Mulandurê, atual mestre do Bate-Folha


O evento, que tem o objetivo de congregar as diversas religiões de matriz afro-brasileira, reúne, de maneira festiva, os mestres tocadores dos ritmos africanos - alabês (queto), xicarangomas (congo/angola) e runtós (jeje). Além do caratér musical, o Alaiandê Xirê, que pela primeira vez acontece em um terreiro que não o Ilê Axé Opô Afonjá (em São Gonçalo do Retiro), também reuniu pesquisadores de temas ligados aos cultos afro-brasileiros. O festival foi aberto com a exposição Fogo que fica, da artista plástica Suzana Duarte, que homenageia os inquices, as divindades da natureza cultuadas pelo povo de candomblé angola. O maestro Fred Dantas iniciou o evento com sua banda marcial, executando músicas com temáticas de terreiro.



Maestro Fred Dantas e bandinha Alaiandê

Na abertura, foram saudados os Nkices com os Xicarangomas do Bate Folha, principalmente Bamburucena e Kitembo, os patronos da casa. A seguir foram saudados os Orixás com os alabês do Axé Opô Afonjá, que entoaram cantigas de permissão para o bom andamento do evento.


Xicarangomas do Bate-fôlha. Em especial este senhor: o Xicarangoma Dedé! Surpreendente. Toca com suavidade e sensibilidade, reconhecendo o tambor como um sagrado ser vivo. Canta maravilhosamente, às raias da emoção. História viva!!

A atriz Chica Xavier deu um depoimento a respeito da história do evento. "Para mim, é sempre uma honra participar deste evento, que antes de tudo significa uma celebração entre os povos de candomblé. Acho que este ano ele ganha mais significado com a sua realização num terreiro histórico como o Bate-Folha" Ao saber da presença da FTU no evento, declarou-se umbandista: “Sou umbandista!! E é de extrema importância o surgimento de uma Faculdade para o povo do santo”, afirmou a atriz. Ao final, ocorreu a apresentação da banda Canjerê de Sinhá.


A atriz Chica Xavier e marido


Alaiandê Xirê significa, em língua iorubá, "festa do mestre tocador". Alaiandê serve também como epíteto do orixá Xangô, que rege o evento. De acordo com a mitologia da religião dos orixás, Xangô é o mestre tocador, o maior dentre todos os tocadores e dançarinos de batá, um toque ritual em sua homenagem – Batá ainda é na África e em Cuba, o nome de um tambor consagrado a este orixá. Segundo alguns mitos, Ayom, o orixá do tambor era filho de Xangô e Oyá.


Obashanan e Mameto Guanguacessy


Membro do terreiro Alaketu, Florivaldo Cajé coordenou a primeira mesa-redonda do dia 02/12/2006: “Bate-Folha, o Mansu Banduquenqué: 90 anos de resistência”. "A intenção da mesa-redonda é discutir e redimensionar a importância histórica do terreiro do Bate-Folha, que é um dos mais tradicionais da Bahia", afirmou Cajé.




Este é um verdadeiro Mestre tocador de Rwm. É o Alabê Edvaldo, da Casa Branca do Engenho Velho. Esse homem é um absurdo, toca muito, com seriedade, respeito e devoção ao seu instrumento!! Um dos melhores que já vi! Quem está com Edvaldo no fundo é Ogã Guelê do Axé Opô Afonjá.

Não podemos deixar de registrar a presença do professor Ângelo Mário do Prado Pessanha, o pai Alayedã, que em sua preleção colocou com maestria muitos pontos importantes para a religiosidade brasileiraLogo após, houve a exibição das delegações de alabês, xicarangomas e runtós. Além dos grupos dos terreiros de Salvador, como a Casa Branca, houve a presença de outros vindos do Rio de Janeiro, de Recife e de São Paulo. Foi aberto o espaço para a Umbanda, onde Obashanan apresentou alguns toques e pontos cantados e discursou sobre a FTU e o CONUB como de importância histórica e fundamental para todo o povo do santo. Além da FTU também esteve presente o templo umbandista do Vale do Sol e da Luz, do pai Luís.



Obashanan representando a Umbanda

A confraternização maior aconteceu quando foram entoados pontos louvando-se os Caboclos – o Orixá do Brasil, segundo as autoridades das diversas nações presentes ao evento. Carregando a bandeira do Brasil, todos, unidos, cantaram emocionados para esta entidade que é unanimidade em qualquer templo, mostrando que o astral está em todo e qualquer terreiro através desses nossos mestres da Umbanda.

A bandeira brasileira...


... sendo carregada por todas as nações quando da louvação aos caboclos.


Xicarangoma Xuxuca, um dos maiores do Brasil


No dia 03 outra mesa-redonda realizou-se cujo tema foi: “a origem dos povos bantos” e uma nova apresentação de delegações apresentou-se à tarde, com especial destaque para Pai Tauá, da raiz Angola, numa apresentação maravilhosa, mostrando um conhecimento absolutos dos cânticos Bantu, com Xicarangomas absolutamente impecáveis, próximos da perfeição e conseqüentemente, da espiritualidade.

Completos... perfeitos... impecáveis! Xicarangomas de Pai Tauá.


Filhas do Bate Folha saudando Inkices ao som dos Xicarangomas de Pai Tauá

Friday, June 01, 2007

O Rei do Candomblé - Joãozinho da Goméia - 1969


Capa original do LP 1969.


Capa do LP relançado em 1987.


O Rei do Candomblé – Joãozinho da Goméia – (LP – Fermata /Cáritas – 1969)

1. Bombogira; 2. Pemba; 3. Oxossi; 4.Caiaia; 5. Ogun; 6. Xangô; 7. Pavão; 8. Vou me embora pro sertão; 9. Sou da Mina da Santé. 10. Pedrinha; 11. Saudação a Logunedé; 12. Oxum;


Produção Artística: A . Schneider;

Produção: Todamérica;

João Alves Torres Filho Nasceu em 27 de março de março de 1914, na cidade de Inhambupe, Bahia. Filho de Pais católicos, chegou a ser coroinha. Ainda menino, descobriu o mundo dos Orixás e dos Caboclos; em 1924, aos dez anos, deixou a casa dos pais e foi para Salvador, onde trabalhou em um armazém. Lá conheceu uma mulher que considerava como sua madrinha; ela o levou pela primeira vez a um candomblé, o terreiro de Severiano Manuel de Abreu, o lendário Jubiabá, citado por Jorge Amado em uma de suas obras. Foi iniciado na nação Angola no dia 21 de dezembro de 1931. Foi um dos mais famosos Babalorixa´s do Brasil entre as décadas de 1940 a 1960. A rua Goméia, onde fundou seu primeiro terreiro no bairro de São Caetano, na Cidade Baixa de Salvador, lhe deu o sobrenome que carregou durante toda a sua vida. Sua fama atingiu todo o país quando se mudou para a cidade de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Desde sua chegada ao Rio, em 1946, o município da Baixada Fluminense tornou-se um grande divulgador dos cultos afro-brasileiros, com a popularização de inúmeros terreiros de Candomblé.



Joãozinho da Goméia foi um dos mais importantes e polêmicos divulgadores do Candomblé nos anos 60, fazendo da mídia e das artes seus grandes aliados. Faleceu em 19 de março de 1971, em São Paulo. Foi enterrado no cemitério de Duque de Caxias. O disco em questão é um clássico absoluto, onde pontos de raiz da nação angola se encontram com pontos tradicionais dos cultos da encantaria. “Pedrinha miudinha”, “Vou-me embora pro Sertão”, “Bombogira” são conhecidíssimos graças a este disco e são entoados até hoje, tanto em terreiros do Brasil inteiro como por artistas como o Cordel do Fogo Encantado e Rita Ribeiro.


Para ouvir a faixa 4: "Caiaia", clique abaixo:

Monday, May 28, 2007

Rádio Ayom: a Música Umbandista, só aqui!!


Como podem ver, retiramos das postagens os exemplos das faixas, pois a hospedagem estava com problemas. Criamos uma rádio virtual, a Rádio Ayom aí do lado. Ela começa a tocar ao clicar no botão de play. Selecionamos quase 4 horas de música de terreiro em todas as suas vertentes e origens prá você ouvir enquanto navega aqui pelo blogue. A cada postagem, vamos procurar atualizar. Deu um trabalhão, mas espero que gostem!!

Um saravá profundo a todos...

Sunday, May 06, 2007

A história da Revista Umbanda – Uma Religião Brasileira – Parte I

Nos idos de 1993, há exatamente 14 anos, dávamos um passo importante dentro de nossa caminhada espiritual: uma série de apostilas onde compilamos assuntos importantes para a corrente mediúnica do terreiro em que freqüentávamos, subitamente transforma-se na primeira revista exclusivamente de Umbanda da história brasileira. Por essa época havíamos deixado de freqüentar o templo em questão e havíamos acabado de colocar nossa vestimenta branca na corrente da Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino.

Mestre Arapiaga ao ver as apostilas disse-me: “William, acho que essas anotações podem virar algo muito maior...”. Não havia lhe contado ainda, mas estava com o contrato fechado com a Editora Pen para a publicação do material e havia ido à Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino naquele dia, exatamente para pedir-lhe permissão para publicar alguns itens que havia retirado de suas obras. Na verdade, expliquei-lhe que a idéia da revista era realizar uma ponte onde todas as formas de umbanda pudessem conviver harmoniosamente, encontrando pontos de contato em suas semelhanças. Dez anos mais tarde nosso amigo Marques Rebello retomaria a idéia com a Revista Espiritual de Umbanda.

Contei-lhe então do contrato, e com sua experiência, alertou-me: “você sabe a briga que vai comprar, meu filho?” “Acho que não imagino, meu mestre, mas estamos aqui para trabalhar e obedecer vossa vontade e a vontade do mundo astral.” Respondi.

“Faz o que tem de fazer. É sua missão. Essa revista vai trazer muita gente para a Umbanda, mas o submundo encarnado e desencarnado vai vibrar negativamente para que você se perca no caminho, pois já sabem da existência dela e vão fazer de tudo para que a luz dessa publicação se apague. Mas nada tema. Estou com você e todo o astral também. Vá à luta!”

E assim fomos, convictos da seriedade de nossa tarefa, embora não soubéssemos nem a metade das dificuldades que teríamos. E talvez tenha sido melhor assim, pois a inocência quase sempre nos livra do desânimo e nos faz focar a visão nos objetivos principais. A revista saiu em maio de 1993, depois de uma série de dificuldades, tais como doenças no pessoal da produção, assaltos na editora e até dois incêndios em duas gráficas diferentes!! Uma primeira prensagem de 2000 exemplares só foi possível – haviam previsto uma tiragem inicial de 4000 – porque o Márcio, o editor da Pen era um homem de fibra e lançou a revista tão logo ficou pronta, não quis nem saber quantos exemplares haviam sido prensados. Foi impulsionado pela vontade de ver a coisa acontecer e ela aconteceu: a revista foi um sucesso tão grande que o Márcio mandou prensar logo mais 6000 exemplares. Não houve recolhimento da primeira nem da segunda prensagem, a vendagem ficou em praticamente 100% e desde esse primeiro número, o número experimental, o mercado editorial e as “majors” da imprensa da época cresceram o olho no produto e começaram a se preparar para explorarem o filão.

E nisto a revista Umbanda – Uma Religião Brasileira (em seu número "0" trazendo o nome "Introdução à Umbanda") foi também pioneira, pois ninguém, até aquela época havia se arriscado a publicar alguma coisa, nem um folhetim em distribuição nacional, que falasse de Umbanda, Macumba, Candomblé ou religiões brasileiras, pois o preconceito era gigantesco e o público umbandista muito mais acanhado do que atualmente. Aquela era uma época simples, em que as revistas não possuíam a sofisticação gráfica e tecnológica de hoje. Foi lançada em preto e branco, com ilustrações no lugar de fotos, mas agradou tanto que uma outra editora, a Editora Escala – hoje uma das maiores editoras do Brasil - nos procurou com uma proposta mais abrangente em termos de distribuição e qualidade técnica. Como o Márcio iria mudar de ramo e fechar a Pen, nos transferimos para a Escala, onde entramos numa nova fase, de muitas lutas, físicas e astrais, onde finalmente percebi o que um iniciado umbandista enfrentava nos bastidores do terreiro...

Monday, April 30, 2007

Notas sobre o Ayom - Parte I - O Ayom


Do seio de Olodumare, dentro do Orún, estão os Imolés (a palavra Imolé significa LUZ, BRILHANTE) do qual emanam 400 consciências denominadas de direita, os Irùnmòlés, palavra que significa "Concebidos com a luz do Orún", espíritos que não nasceram e nem morreram na Terra, pois são fonte original da luz espiritual. São chamados Orixás e se agrupam em 200 casais. Também emanam 201 consciências da esquerda chamadas Igbàmòlé, que significa "Os que guardam a luz" (igbá – Cabaça, enquanto substantivo; enquanto numeral, significa 200). Estes 200 espíritos foram responsáveis diretos pela implantação da evolução em nosso planeta e pelo despertar da humanidade, rumo à civilização. São os tradutores, filhos dos 200 casais de Irúnmolés e são mais conhecidos como Eboras. Dentre eles estão Xangô, Obaluaiê, Ossain, Oyá, etc...

A primeira categoria, a dos Irunmalés, por surgirem de dentro da luz de Olorum foram chamados de “FUN-FUN”, os Senhores do Branco e são potestades extremamente antigas, a maior parte quase esquecidas. Oxalá é o mais conhecido dentre eles, mas existem muitos outros, praticamente desconhecidos no Brasil. Dentre eles podemos citar Ifá (o destino) Irawó (as estrelas), Oshupá (A lua), Orun (o céu), Ori (a mente), Agba Lodé (A imensidade do espaço) e em especial o Ayòón POOLO (ou Ayan), a Senhora da Música.



Representação do Ayom num tambor nigeriano

Um desses “FUN FUN”, chamado Órúnmílà (que se traduz como "Só o céu conhece os que se salvaram"), é considerado o primeiro profeta que passou pela Terra para trazer os ensinamentos de Olodumare. Trouxe o conhecimento cósmico, através da Antiga Sabedoria de Ifá, que descreve, num de seus textos, as origens dos primeiros momentos do Universo, o despertar da Gênese por intermédio de AYOM, o Movimento Pontual, a Eternidade no Momento, as Eras, ou o Eterno Sacrifício. Conhecido em várias culturas com praticamente o mesmo nome (Ayom ou Ayan para os sudaneses, Aña para os cubanos, Mooyo para os Bantu, Y-Om Ahed para os Judeus, Aum para os Hindus, Eon para os gregos, etc), Ayom é a potestade que encerra alguns dos maiores mistérios da profunda iniciação, pois está ligada a praticamente todo o sistema de equilíbrio das divindades, estando presente no começo e no fim do mundo, atuando na ritualística de todos Imolés. É o espírito da Música e segundo os mitos antigos, morava dentro do tambor no princípio dos tempos.

Quando os homens começaram a fazer a guerra, foi libertado por Xangô, que utilizando seu machado, cortou os tambores batá (antigos tambores de duas peles, ainda usados em alguns cultos) ao meio, fazendo surgir os tambores de uma só pele. Ayom é a entidade que ensinou os homens a falar, a cantar e a preservar e viver a música como fonte de equilíbrio e estabilidade. Por isso hoje, os raros sacerdotes iniciados nos mistérios de Ayom firmam sua força através de um saquinho ou uma cabaça, preenchidos com seus fundamentos que fica fixado dentro ou fora do tambor, o qual produz um som peculiar quando se choca com as paredes do casco. Um tambor bem preparado é um verdadeiro ser vivo, e quase sempre o espírito de Ayom quando se manifesta nele, induz o Alabê a executar ritmos extremamente hipnóticos e complexos, pois os tambores chegam a “falar” sozinhos.
Quando o fundamento (afobô) de Ayom é fixado no tambor o instrumento é chamado de Eléèkóto. O ritual de consagração inclui a pintura do tambor com a assinatura de Xangô. Eléèkóto é representado por uma miniatura de tambor que não pode ser tocada, pois está representando o assentamento do Ayom na Terra. O tambor batá é um dos instrumentos onde o Ayom pode ser assentado, embora todo e qualquer tambor pode passar por sua consagração. O tambores Ayom das tradições mais antigas são cônicos e não em curva como os batás, mas o que importa é o poder que o instrumento adquire de invocar, curar e até mesmo matar, dependendo do ritmo que se percute, por isso é uma iniciação para poucos, pois o mito do Ayom é bem claro: a música jamais será usada para a guerra!



Otun Alabê com Tambores consagrados e bastão ritualístico de comando.
O preparo de um tambor para Ayom requer muitos cuidados dentro da magia, pois desde a construção até a preparação, são utilizados diversos materiais para a consagração, que vão do azeite ao mel, elementos de alguns peixes e resinas de árvores. Um especial cuidado com as tiras que prendem o couro, com elementos diferenciados e polêmicos são indispensáveis. Normalmente afina-se os tambores próximos a nota Lá.
Os fundamentos do Ayom são conhecimentos que estão praticamente perdidos e são rarísimos no Brasil os iniciados nestes mistérios...

Wednesday, April 04, 2007

Curso de Formação em Música Umbandista

A Faculdade de Teologia Umbandista abre seu Curso de Extensão em Formação em Música Umbandista. Aulas Semanais aos sábados. Abaixo o cartaz de divulgação e o vídeo.

Inscrições na Av. Santa Catarina, 400 - São Paulo - SP

(011) 5031-8852 e (011) 5031-8110





Umbanda Força e Magia: Baiano - 2000


Umbanda Força e Magia: Baiano – CD – (2000-TBS produções) – 1. O Baiano; 2.Lapa do Bom Jesus; 3.Povo Baiano; 4.Baiano Bom; 5.Da Porta prá fora; 6.Dendê no Balaio; 7.Mironga no Conga; 8.Baiano Trabalhador; 9.Ladeira Abaeté; 10.Uma Vela acesa;

Vado Tombensi e Ogãs Einei, Marcelo, Osvaldo, João Luis e Eduardo, com coro de Camila, Conceição, Cidinha, Fátima, Nete, Gabriela e Tânia.

Muita gente já me falou mal da TBS, dizendo que os discos são mal-gravados, que existe algo de estranho em alguns deles, no caso dos toques de atabaques (as pessoas não me souberam explicar a estranheza e eu fui ouvir: na verdade, em algumas produções de candomblé Keto e outros, a TBS usa como fundo dos toques outro cd, o Rwm aos orixás, ou seja, o que ouvimos, na verdade é um karaokê de pontos). Mas justiça seja feita, vou dizer a todos que o trabalho da TBS pode pecar na produção, mas não peca no resgate dos pontos que foram gravados. É uma das poucas gravadoras nos dias de hoje a investirem na música do santo e isso deve ser respeitado. No caso deste disco não fazem feio, embora o coral esteja um pouco inseguro e desafina em algumas horas. Dá prá perceber, infelizmente que os toques dos atabaques são sempre os mesmos, o que nos leva a duvidar se os ogãs realmente tocaram, ou se aproveitaram as gravações de outro trabalho. Mas os pontos são bonitos, alguns já clássicos e o Vado canta muito bem. São só dez pontos, o que nos faz até querer mais. Agora, quanto a capa, sinceramente...

Para ouvir a faixa 8, "Baiano trabalhador", clique abaixo: