Monday, January 21, 2008

Mestre Pastinha/Mestre Bimba - provavelmente anos 40 (mestre Bimba) e anos 60 (Mestre Pastinha)


Mestre Pastinha/Mestre Bimba - LP - Gravadora desconhecida - Provavelmente anos 60


01.Dim, dim, dim; 02.Ferro de bater; 03.Água de beber; 04.Aruandê; 05.Maior é Deus; 06.Eu já vivo enjoado; 07.Bê a bá do berimbau; 08.Eu vou levar meu abc; 09.Eu nasci prá capoeira;


Mestre Pastinha

Vicente Ferreira Pastinha nasceu em 1889, filho do espanhol José Señor Pastinha e de Dona Maria Eugênia Ferreira. Seu pai era um comerciante, dono de um pequeno armazém no centro histórico de Salvador e sua mãe, com a qual ele teve pouco contato, era uma negra natural de Santo Amaro da Purificação e que vivia de vender acarajé e de lavar roupa para famílias mais abastadas da capital baiana.


Menino ainda, Mestre Pastinha conheceu a arte da capoeira com apenas 8 anos de idade, quando um africano que chamava carinhosamente de Tio Benedito, ao ver o menino pequeno e magrelo apanhar de um garoto mais velho, resolveu ensinar-lhe a arte da Capoeira. Durante três anos, Pastinha passou tardes inteiras num velho sobrado da Rua do Tijolo, em Salvador, treinando golpes como meia-lua, rasteira, rabo-de-arraia e outros. Ali aprendeu a jogar com a vida e a ser um vencedor.


Viveu uma infância feliz, porém modesta. Durante as manhãs freqüentava aulas no Liceu de Artes e Ofício, onde também aprendeu pintura. À tarde, empinava pipa e jogava Capoeira. Aos treze anos era o moleque mais respeitado e temido do bairro. Mais tarde, foi matriculado na Escola de Aprendizes Marinheiros por seu pai, que não concordava muito com a vadiagem do moleque. Conheceu os segredos do mar e ensinou aos colegas as manhas da Capoeira.


Aos 21 anos voltou para o centro histórico, deixando a Marinha para se dedicar à pintura e exercer o ofício de pintor profissional. Suas horas de folga eram dedicadas à prática da Capoeira, cujos treinos eram feitos às escondidas, pois no início do século esta luta era crime previsto no Código Penal da República.


Em fevereiro de 1941, fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, no casarão n.º 19 do Largo do Pelourinho. Esta foi sua primeira academia-escola de Capoeira. Disciplina e organização eram regras básicas na escola de Mestre Pastinha e seus alunos sempre usavam calças pretas e camisas amarelas, cores do Ypiranga Futebol Clube, time do coração do mestre.


Mestre Pastinha viajou boa parte do mundo levando a Capoeira para representar o Brasil em vários festivais de arte negra. Ele usava todos os seus talentos para valorizar a arte da Capoeira. Fazia versos e chegou a escrever um livro, Capoeira Angola, publicado em 1964, pela Gráfica Loreto. Trabalhou muito em prol da Capoeira, divulgou a arte o quanto lhe foi possível e foi reconhecido por muitos famosos que se maravilharam com suas exibições. Aos 84 anos e muito debilitado fisicamente, deixou a antiga sede da Academia para morar num quartinho velho do Pelourinho, com sua segunda esposa, Dona Maria Romélia e a única renda financeira que tinha era a das vendas dos acarajés que sua esposa vendia. No dia 12 de abril de 1981, Pastinha participou do último jogo de sua vida. Desta vez, com a própria morte. Ele, que tantas vezes jogou com a vida, acabou derrotado pela doença e pela miséria. Morreu aos 92 anos, cego e paralítico, no abrigo D. Pedro II, em Salvador, numa sexta-feira, 13 de Novembro de 1981, vítima de uma parada cardíaca que, no estado frágil em que se encontrava, foi fatal. Pequeno e notável em sua arte, Mestre Pastinha nos deixou seus ensinamentos de vida em muitas mensagens fortes e inesquecíveis como esta: "Ninguém pode mostrar tudo o que tem. As entregas e revelações tem que ser feitas aos poucos. Isso serve na Capoeira, na família e na vida. Há momentos que não podem ser divididos com ninguém e nestes momentos existem segredos que não podem ser contados a todas as pessoas."


Na Capoeira de Angola, vale mais a astúcia do que a força muscular. O método de Pastinha, ensinado regularmente desde 1910, consiste em golpes desferidos quase que em câmara lenta. O capoeirista fica a maior parte do tempo com o corpo arqueado e sua ginga é de braços soltos, relaxados, porque a tática era se fazer de fraco diante do oponente. Os golpes não tem pressa de chegar, mas quando chegam o fazem de forma harmoniosa. Muitas pessoas que conheceram a Capoeira Angola acham que ela é menos violenta, pois os golpes são desferidos em câmera lenta, mas às vezes chega a ser mais perigosa que a Capoeira Regional. Como Mestre Pastinha dizia: "Capoeira Angola é, antes de tudo, luta e luta violenta."

Mestre Bimba

Em 23 de Novembro de 1900, início de um novo século, no Bairro de Engenho Velho, Freguesia de Brotas, em Salvador, Bahia, nascia Manoel dos Reis Machado, o MESTRE BIMBA. Seu apelido ele ganhou logo que nasceu, em virtude de uma aposta feita entre sua mãe e a parteira. Sua mãe, dona Maria Martinha do Bonfim, dizia que daria luz à uma menina. A parteira afirmava que seria homem. Apostaram: perdeu dona Maria e o filho, Manoel, que ganhou o apelido que lhe acompanharia pela vida inteira: Bimba, um nome popular do órgão sexual masculino.


Seu pai, Luís Cândido Machado, já era citado nas festas de largo como grande "Batuqueiro", como Campeão de "Batuque", "a luta braba, com quedas, com a qual o sujeito jogava o outro no chão". De 1890 a 1937, a Capoeira foi crime previsto pelo Código Penal da República. Simples exercícios nas rua davam até seis meses de prisão. Aos 12 anos de idade, Bimba, o caçula de Dona Martinha, iniciou-se na Capoeira, na Estrada das Boiadas, hoje o grande bairro negro Liberdade. Seu mestre foi o africano Bentinho, Capitão da Companhia de Navegação Baiana.


Nesse tempo a Capoeira ainda era bastante perseguida e Bimba contava:"Naquele tempo Capoeira era coisa para carroceiro, trapicheiro, estivador e malandros. Eu era estivador, mas eu fui um pouco de tudo. A Polícia perseguia um capoeirista como se persegue um cão danado. Imagine só que um dos castigos que davam a capoeiristas que fossem pegos brigando, era amarrar um punho num rabo de cavalo e o outro em cavalo paralelo, os dois cavalos eram soltos e postos a correr em disparada até o Quartel. Comentavam até, por brincadeira, que era melhor brigar perto do Quartel, pois houve muitos casos de morte. O indivíduo não agüentava ser arrastado em disparada pelo chão e morria antes de chegar ao seu destino: o Quartel de Polícia."

A essa altura, Bimba começou a sentir que a Capoeira que ele praticava e ensinou por bom tempo, tinha se folclorizado, assim como a Bahia, que degenerou-se e passou a servir de "prato do dia" para "pseudo-capoeiristas", que utilizavam a Capoeira unicamente para exibição em praças, e, por ter eliminado seus movimentos fortes, mortais, deixava muito a desejar em termos de luta. A "pantomima" se fazia altamente necessária a esse tipo de jogo para "inglês ver". O capoeirista se tornou um folclórico em demasia, sem a verdadeira malícia e eficiência técnica que uma luta como a Capoeira exigia. Foi para reverter esse quadro que Bimba criou a Capoeira Regional, aproveitando-se de golpes do "batuque", luta da qual seu pai foi campeão, do Jiu-jítsu e do Boxe, e criou um método de ensino. Para fugir de qualquer pista que lembrasse a origem marginalizada da Capoeira, mudou alguns movimentos, eliminou a malícia da postura do capoeirista, colocando-o em pé e criou um código de ética rígido que exigia até higiene, estabeleceu o uniforme branco e se meteu até na vida privada dos alunos.

Teve o cuidado de retirar a palavra "Capoeira" do nome da academia que fundou em 1932 em Salvador, o "Centro de Cultura Física e Luta Regional". O resultado é que, a partir daí, a Capoeira começou a ganhar alunos da classe média branca e, também, a se dividir. Até hoje Angoleiros e Regionais criticam-se mutuamente, embora se respeitem. Os primeiros se consideram guardiões da tradição, enquanto os outros acham que a Capoeira "deve evoluir". Mas, com isso, Mestre Bimba deu ares atléticos ao jogo e atraiu as mulheres, até então excluídas das rodas. O jogo que Mestre Bimba criou é um jogo mais rápido, em que os capoeiristas jogam de pé, não jogando tanto no chão quanto na Capoeira Angola.

Este disco nos foi enviado por um grande amigo baiano, não possui rótulo e provavelmente trata-se de uma prensagem independente de outras edições. Um disco maravilhoso com registros importantíssimos destas duas lendas da arte marcial brasileira.

Para ouvir a faixa 03, de Mestre Bimba, "Água de beber", clique abaixo:





Para ouvir a faixa 05, de Mestre Pastinha, "Maior é Deus", clique abaixo:


4 comments:

Anonymous said...

opa camarada. bela iniciativa a sua!
tenho um blog com o foco na percussão, principalmente brasileira.
batuquebrasileiro.blogspot.com
aqui senti falta de links para download os discos!
bom, obrigado pela atenção

Yan Kaô (Obashanan) said...

Wolak, a gente começou colocando os downloads, mas alguns seguidores de um tal Rubens Saraceni nos ameaçaram de tal forma, que resolvemos apenas deixar uma amostra das faixas. O blogue é ligado à FTU uma instituição que procura resgatar a música de terreiro e não comercializá-la. Abraços.

Anonymous said...

Olá,a informnação a respeito das datas dos LPs está errada, ambos os discos de Bimba e Pastinha são da década de 60. Não confundir com uma gravação recente de Bimba e Cabecinha de 1940 que foi achada recentemente na Universidade de Indiana nos EUA.

Abs, Artur ECAVV, Niterói, RJ.

Yan Kaô (Obashanan) said...

Olá Artur, a informação que temos sobre a data de Mestre Pastinha é a que está expressa na bolota do disco, uma prensagem independente. A data de mestre Bimba, sim, é anos 60, conforme colocamos no cabeçalho. Obrigado por nos ajudar a ampliar a qualidade de nosso acervo. E você tem a gravação a que se referiu, de Bimba e Cabecinha? Pode nos ceder? Abraços!