Tuesday, September 04, 2007

Maior é Zamby – 1970

Maior é Zamby – LP – Cáritas – 1970

1.Maria Conga; 2.Mamãe Oxum; 3.Maior é Zamby; 4.Cosme e Damião; 5.Pai Clementino; 6.Caboclo Jeremias; 7. Seu Pedra Verde; Peixinho Dourado; 8.João Batista; 9.Caboclo da Serra; 10.Índio Micori; 11.Pai Oxalá;

Curimba do Centro de Umbanda Chico Masseto

Coral: Odete Batista, Maria da Glória, Lelé Batista;

Alabês: Arimatheia, Rui da Silva, José R. da Silva

A música popular brasileira deve muito ou quase tudo à música de terreiro. Durante sua história ela permeou sutilmente todas as formas musicais do país, seja no ritmo, seja na harmonia, seja na melodia. A música sertaneja, o samba, o baião, praticamente todos os estilos se não surgiram dentro dos barracões, foram iluminados em algum momento de sua história pelo imaginário dos templos.

Este LP, hoje bem raro, dificílimo de se encontrar é a mostra perfeita dessa ponte entre a música sacra e a música secular. Aqui temos um terreiro provavelmente influenciado pela Umbanda de Minas. Os cantos são realizados bem dentro do modo de se cantar das Congadas e os tambores são nitidamente Tambus e Candongueiros, em algumas faixas ouve-se um instrumento provavelmente um bambaque (um atabaque de bambu).
Os toques se aproximam muito do modo de se percutir dos jongos, algo como uma cabula mais “dobrada”. Há nos temas dos pontos uma nítida aproximação com o Kardecismo e com o Catolicismo, com invocações a João Batista e Bezerra de Menezes. Os vocais se harmonizam quase que em intervalos de quinta, o que nos leva a entender a aproximação com a música sertaneja de raiz. Além disso, em algumas faixas, bem ao fundo se ouve um violãozinho. Os ogãs cantam muito bem e o coral das meninas é perfeito. Um disco maravilhoso...


Para ouvir a faixa 3, "Maior é Zamby", clique abaixo:

Yemanjá – Belos Cânticos – 1961

Yemanjá – Belos Cânticos – LP – Imperial – 1961

01.Oxalá; 02.Ogum; 03.Exu; 04.Xangô; 05.Oxum; 06.Oxossi; 07.Iemanjá; 08.Ibeji;

Produção e Coordenação Musical: Jair Amorim.

Um disco que pode causar estranheza nos ouvidos de hoje, acostumados mais com o ruído das guitarras e dos graves percussivos, esta é uma obra rara – sim, o disco é raríssimo, mas falamos também do conteúdo artístico – pois raramente houve uma produção como essa em função de temas umbandistas: o que temos aqui é uma orquestra completa, talvez com uns 100 ou mais integrantes, executando arranjos extremamente belíssimos e complexos para os pontos cantados – todos de raiz. Os vocalistas são excelentes (para variar, não se cita nenhum músico em parte alguma do disco), os arranjos primorosos e a qualidade da gravação surpreendente. Os pontos são transpostos dos tradicionais ritmos de terreiro para marchas, sambas, e ritmos orquestrais que lembram muito as composições de Moacyr Santos.Um trabalho digno, honroso, respeitoso e nós diríamos, com uma certa tristeza, que é de se lamentar que não seja mais conhecido, principalmente pelos umbandistas


Para ouvir a faixa 03, "Exu" clique abaixo:

Sunday, September 02, 2007

Cânticos de Terreiro - Luiz da Muriçoca - 1971

Cânticos de Terreiro – Luiz da Muriçoca – LP – Philips – 1971

01.Saudação aos Orixás; 02.Ogum; 03.Oxossi; 04.Omolu; 05.Ossanha; 06.Oxumarê; 07.Xangô; 08.Logum; 09.Oxum; 10.Iansã; 11.Eua; 12.Exu; 13. Babá;

Luiz da Muriçoca é um dos mais respeitados Pais de Santo da Bahia e neste disco, traz mais algumas cantigas tradicionais dos candomblés Ketu. Gravado ao vivo no Teatro Castro Alves, mostra um xirê bem cantado, com alabês muito bons – infleizmente não há o nome dos músicos. Há algum problema no áudio, os instrumentos estouram um pouco na master, mas não compromete o trabalho.


Para ouvir a faixa 09, "Oxum", clique abaixo:

Na Casa do Pai Marabô – 1979


Na Casa do Pai Marabô – Haroldo José – LP – Produções Tocantins – 1979
1.Flores de Yemanjá; 2.Padrinho José; 3.Boideiros; 4.Soldadinhos de Deus; 5.Na casa do Pai Marabô; 6.Estreloa do Céu; 7.Pai Joaquim do Cruzeiro; 8.Cuidado comigo; 9.João Quimbandeiro; 10. A benção Madrinha; 11.Deu cupim na trepadeira; 12.Estela deu mancada;

Haroldo José fez um relativo sucesso popular nos anos 70 e neste disco homenageia sua vivência na Sociedade de Pesquisas Espirituais e Cabalísticas do Estado de São Paulo, onde conheceu o trabalho de “Pai Marabô”, “Senhor Mangueira”, “Padrinho José” e outras entidades. O disco é bem gravado, com músicos excelentes. São baiões, choros, valsas, serestas, sambas e xotes muito bem executados, com sanfona, sax, baixo, flauta, percussão e violões... é um disco sincero, com as letras demonstrando a fé de Haroldo nas entidades e na força do terreiro. Não sabemos se ainda existe esse templo que se localizava em São Paulo... quem tiver informações, nos comente...


Para ouvir a faixa 5, "Na casa de Pai Marabô", clique abaixo:

Friday, August 31, 2007

O Universo Rítmico de Guem – 1982


O Universo Rítmico de Guem – LP – Som da Gente – 1982

1.Viagem; 2.Universo; 3.Tempestade; 4.Riacho; 5.Nostalgia;

A primeira vez que vimos Mestre Guem, ele estava tocando no centro de São Paulo, num palanque baixinho, embora em minha memória tenha-se fixado a imagem de um gigante rodeado de tambores. Fiquei impressionado e até hoje parece que escuto os sons mágicos que saíam dos Ashikos, Djembês, Congas, Atabaques e outros tambores africanos...

Mais tarde, o conhecemos pessoalmente e ao seu parceiro neste disco, o grande percussionista Daniel Slom. Aprendemos muito com os dois e trazemos conosco uma lembrança muito boa daquela época.

Descendente de escravos nigerianos, Guem desistiu de ser jogador de futebol para dedicar-se a percussão tradicional africana e a música e dança de transe junto ao grupo Zaka formado por seus alunos. Um verdadeiro mestre dos tambores, Guem toca praticamente todos os instrumentos de percussão e seu interesse pelos diferentes ritmos do mundo chegou ao Brasil resultando neste disco, o álbum "O Universo Rítmico de Guem", gravado em São Paulo, junto com Daniel Slom.

Extremamente musical, o mestre se apodera muito mais das possibilidades sonoras harmônicas dos instrumentos do que das possibilidades rítmicas óbvias que os tambores oferecem. Guem, este mestre do Ayom evoca um hino harmonioso, um som que penetra em nosso ser aumentando a energia vital... para Guem, o corpo humano é o principal instrumento percussivo por carregar o ritmo da vida e ele jamais dissociou as idéias e ligações espirituais dos tambores da música que ele executa em shows e em seus discos maravilhosos...
A última faixa, "Nostalgia" é um impressionante registro de um eco dos rituais dos tambores Ayom, um solo de três Têtes (um tipo de tambor africano), onde um só músico soa como dois, ou mais.

Este LP é um encontro da musicalidade africana com a brasileira numa parceria solene entre duas das principais correntes musicais do mundo.


Para ouvir a faixa 01, "Viagem", clique abaixo:

Thursday, August 30, 2007

Pontos de Umbanda Girassol – 1970


Pontos de Umbanda Girassol – LP – Nilser – 1970

1.Defumação; 2.Prece; 3.Abertura: a)Oxalá, abertura de gira; b)Exu, Tranca Rua, Exumarê; c)Ogum, Xangô; d)Saudação aos Guias; e)Firmeza de terreiro; 4.Chamada do Guia chefe (Caboclo Girassol): a) Caminhou, caminhou; b)Lembrai de seu Girassol; 5.Chamada do Guia Chefe (Caboclo Girassol): a)Que caboclo lindo; b)Seu Girassol foi prá caçada; c) Na aldeia; 6.Ogum: a)Vamos Sarava Ogum; b)Beira-Mar; 7.Xangô: a)chamada de Xangô; b)No alto da pedreira; 8.Exu: a)Exumaré; b)Boa noite Exumaré; 9.Pomba Gira: a)Cigana de Fé; b)Rainha da encruzilhada; 10.Chamada de Caboclos; 11.Povo d’água: a)Iansã; b)Moça rica; 12.Beijada: a)Tem doce no jardim; b)Dandá na areia; 13.Almas: a)Pai Sabino; b)Os velhos da Bahia; 14.Encerramento: a)Subida do Caboclo Girassol; b)Oxalá; c)Fechamento de Gira; d)Estrela do Céu;

Filhos da Casa de Caridade Caboclo Girassol com Ogã Colofé Miguel Monassa e os Ogãs de atabaque Reinaldo Chaves e Joaquim Pontes;

O que dizer, ora, o que dizer? Praticamente não existem palavras para descrever o que o vinil registrou para a posteridade... Clássico absoluto, sem precedentes ou sucessores... Quem já escutou este disco certamente se deu conta da força e do poder da Umbanda quando se fala em simplicidade, sensibilidade, fé e alegria... a bolacha realmente captou a essência do que era o rito do Caboclo Girassol – o impressionante registro das intensas emoções que acontecem numa gira.

Do começo ao fim, os pontos – uma sucessão de clássicos da música sacra brasileira - arrepiam, induzem ao respeito e às lágrimas, e à esperança de que a Umbanda seja assim em todos os templos do Brasil. Os mais velhos ao escutarem este disco se lembrarão: a volta à infância nas imagens e sons mais lindos de uma gira bela, profunda e repleta de espiritualidade no seu mais alto grau.

Os médiuns cantam com fé, amor e disposição, afinados e acompanhando com palmas; não há palavras para definir o timbre de voz do Ogã Reinaldo, uma voz distante, forte e que faz tremer o coração e a alma... os ogãs Reinaldo e Joaquim estão, com certeza entre os melhores do Brasil em todos os tempos, se utilizam da técnica, velocidade, conhecimento, dinâmica, acentuação e respeito pelo coral, deixando, com perfeição, que este apareça nos momentos adequados. Raramente se viu ou se vê algo assim: a interação entre alabês e corrente num nível perfeito, jamais alcançado em nenhum registro que tenhamos escutado ou presenciado. O Ogã Miguel é uma voz de respeito, elegante e comovente... e todos os pontos certamente evocam, invocam e movimentam forças positivas em todos os níveis.

Novamente, o que dizer deste disco? Influenciou tudo o que veio depois dele no que se entende como rito umbandista, seja em disco, seja em terreiro, ao vivo... Talvez, para entender a felicidade que nos dá ao escutá-lo, só repetindo a chamada inicial – arrepiante - do Ogã Reinaldo, que abre o disco: ÊÊÊÊ, BANDAAAA!!!!


Para ouvir a faixa 5, "5.Chamada do Guia Chefe (Caboclo Girassol): a)Que caboclo lindo; b)Seu Girassol foi prá caçada; c) Na aldeia" clque abaixo:

Sarava Oxossi – Série dos Ogans Vol. 2 – 1980

Sarava Oxossi – Série dos Ogans Vol. 2 – LP – Cid – 1980

1.Saudação a Oxossi; 2.Cabocla Jurema; 3.Caboclo Guiné; 4.O gauinza; 5.Oxossi da pena Branca; 6. Caboclo Ubirajara; 7.cabocla Jussara; 8.Boiadeiro; 9.Caboclo caçador das matas; 10.Caboclo Tupi; 11.cabocla Jandira; 12.Despedida de caboclo;

Curimba da Tenda Espírita Unidos a Oxalá.

Um disco bem gravado, bem produzido, onde pontos de raiz se encontram com pontos de louvação. Os cânticos são tocados em sua maioria em Congos de Ouro, com arranjos bem próximos da estrutura do samba. Em algumas faixas há a inserção de um bongô, que embora seja um instrumento alienígena nos cultos brasileiros, ainda assim não compromete o resultado final. É um disco bem radiofônico e interessante...


Para ouvir a faixa 11, "Cabocla Jandira", clique abaixo:

Tuesday, August 21, 2007

Virgínia Rodrigues - Nós - 1998


Nós - Virgínia Rodrigues - CD - Natasha - 1998


1.Canto para Exu; 2.Uma história de Ifá; 3.Salvador não inerte; 4.Afreketê; 5.Jeito Faceiro; 6.Depois que o Ilê passar; 7.Oju Obá; 8.Raça Negra; 9.Deus do Fogo e da Justiça; 10.Malê de Balê; 11.Mimar Você; 12. Reino do Daomé;


O que posso dizer deste disco? O que se ouve aqui é algo estratosférico, algo que realmente beira o imponderável: forte e sereno ao mesmo tempo, gracioso na proposta, um clima de quase angústia se sobressai sobre a melancolia que permeia a atmosfera de toda a obra... quase sobrenatural a voz de Virgínia parece um orixá na terra, como é descrito nas lendas: com toques de uma humanidade já esquecida... é como se sua voz nos lembrasse de algo que não está na memória, de tão antigo, de tão ancestre.


A sua aprendizagem foi feita de uma maneira informal, crescendo a cantar em coros de igrejas católicas e protestantes e em cerimónias de Candomblé, até ser descoberta pelo Bando do Teatro Olodum que a convidou para integrar os seus espectáculos.


Em 1997, durante um ensaio de “Verónica”, uma representação desta companhia bahiana, alguém começou a chorar ao ouvir a voz de Virgínia Rodrigues. Essa pessoa era Caetano Veloso que, juntamente com Marcio Meirelles, encenador do Olodum, se encarregou de a dar a conhecer ao mundo.


A ex-manicure saída de uma favela de Salvador realizou, em um ano, duas turnês pelos Estados Unidos, shows na Europa e foi entrevistada por David Byrne, ao vivo, na televisão americana. Nos Estados Unidos, Europa e Japão, o primeiro disco de Virgínia saiu pela gravadora Rykodisc, de propriedade de Cris Blackwell, o mesmo que popularizou nomes como Bob Marley, Peter Tosh e U2.


Me arrisco a dizer se não seria ela uma nova Clementina...

Para ouvir a faixa 01, "Canto para Exu", clique abaixo:



Monday, August 20, 2007

No Reino de Nanã Buruquê - 1974


No reino de Nanã Buruquê - LP - Japoti - 1974

1.Odoiá; 2.Louvor a Oxalá; 3.Eparrei Oiá; 4.Xangô Agodô; 5.Saudação a Abaluaê; 6.Nana Buruquê; 7.Hierarquia dos Orixás; 8.Saudação a Ode; 9.Papai do céu e as crianças; 10.Ogum Marinho das Ondas; 11.Ogum Beira Mar; 12.Deusa do Mar;

Um disco muito conhecido dos Umbandistas, mais pela capa do que propriamente pelo som, que seria perfeito não fosse alguns detalhes na interpretação da vocalista, um pouco exagerada, às vezes... Mas é um disco muito bem gravado, com o estéreo aberto, na mixagem caprichada pelo técnico, pode-se ouvir nitidamente a percussão: dois atabaques, agogô, adjá e bateria e surdão na primeira e na segunda faixas, as únicas com violão. Os alabês são muito bons e sustentam o disco.


Para ouvir a faixa 01, "Odoiá", clque abaixo:

Monday, August 13, 2007

Umbanda e seu ritual – Pró-Construção do Hospital Umbandista – 1970


Umbanda e seu ritual – Pró-Construção do Hospital Umbandista - LP – Walby Disc – 1970

1.Ponto de defumação; 2.Ponto de abertura; 3.Ponto de 7 linhas; 4.Ponto da sereia; 5.Ponto do Caboclo da Lua; 6.Ponto do Caboclo 7 Estrelas; 7.Ponto do Caboclo 7 Montanhas; 8.Ponto do Cacique Tupi; 9.Ponto segura o boi; 10.Ponto linha de africano; 11.Ponto Pai Manoel de Angola; 12.Ponto das Crianças; 13.Ponto de Exu; 14. Ponto de encerramento;

Direção Artística: J.M. Alves

Orações: Narração de Sinclair Scandolara

Terreiros participantes: Tenda Pai Manoel de Angola, Tenda Benedito de Aruanda, Tenda Pai Benedito de Aruanda, Tenda Pai Damião, Tenda Santa Rita de Cássia, Tenda Pai Joaquim de Angola, Tenda Cacique Tupi, Tenda Cruz de Oxalá.

Solistas: Elizabeth Aparecido, Seu Pereirinha, Iracilda F. Mesquita, Benedita da Silva, Neusa de Oliveira, MariaInêz, Neusa Mariano, Anedina da Silva.

Este é um disco raríssimo, contando com a direção musical de um dos baluartes da Umbanda, J.M. Alves. O disco foi produzido visando a construção de um Hospital Umbandista. Não sabemos se o intento foi conquistado, mas o disco que conseguiram fazer é um registro muito puro e espcial da umbanda da época. Todos os terreiros cantam muito bem, apresentando pontos de raiz em sua maior parte muito conhecidos pelos Umbandistas do Brasil. Muito bem gravado, os templos foram captados sem maquiagens de estúdio. Impressiona a interpretação de Seu Pereirinha (Seria esta a primeira vez que uma entidade incorporada grava um disco???) da Tenda Pai Damião. Outra curiosidade: na faixa “Ponto das 7 Linhas” pode-se escutar J.B. de Carvalho dando uma canja no coral... Um disco muito bom.


Para ouvir a faixa 4, "Ponto da Sereia", com "Seu Pereirinha" clique abaixo:

1.o Festipen – 2005


1o Festipen – Minas Gerais – CD – W&O Comércio de discos – 2005

01.Mensalão; 02.Judaria Urbana; 03.Domingo Legal; 04. A paz no mundo para reinar; 05.O som não vai parar; 06.Música de agradecimento; 07.Lamento Sertanejo; 08.Menina dos olhos de Deus; 09.Filho; 10.Mulher de Verdade; 11.Poder de compra; 12.Seu cheiro de amor; 13.Solidão, solidão; 14.Vou buscar meus sonhos; 15.Certas situações;

Este disco chegou a nossas mãos de uma maneira estranhíssima. Não sabemos quem o mandou. Foi durante os ataques aqui em São Paulo, quando as gangues incendiaram ônibus e destruíram muitos locais da cidade. O cd foi colocado em nossa caixa de correio e achamos tratar-se de algum “recado” da galera do pedaço. Mas logo vimos que não. Trata-se de um festival realizado por presidiários umbandistas de Minas Gerais, e só por isso o disco já é curioso. Aqui estão vanerões, sambas, raps, pops. Alguns cantam muito bem, outros nem tanto... Não são cânticos de louvação, não falam das coisas do terreiro, mas percebe-se uma intenção profunda em todas as faixas: esperança e consciência. Organizado por José Estadeu Costa, que dedica o disco às entidades que lhe deram intuição para o projeto.


Para ouvir a faixa 04, "A Paz no Mundo", clique abaixo:

Tuesday, August 07, 2007

Férias

Alguns dias de férias, prá levar o carrêgo!! Voltamos logo!!

Sunday, August 05, 2007

O Rei da Magia Negra – Tata Augustin de Satã – 1975


O Rei da Magia Negra – Tata Augustin de Satã – LP – Discos Orixás – 1975

01.Abertura; 02.Chegada do Exu; 03.Saudação a Lúcifer; 04.Saudação à Tata; 05.Saudação A Tranca Ruas; 06.Com sua capa; 07.Ponto de firmeza; 08. Sr. Sete; 09. Saudando exu; 10. Exu Trabalhando; 11.Larue exu; 12.Exu vai ao Ló;

Tata Augustin foi um Pai de Santo muito famoso nos anos 70, pela sua postura assumidamente “kimbandística”. Fazia furor com suas giras em seu terreiro, o Círculo Afro-Brasileiro de Ciências Ocultas na Zona Leste. Ainda hoje ele está lá, com uma loja de produtos religiosos e foi ele quem nos doou este disco, raríssimo, gravado por ele mesmo, de forma independente através da gravadora que ele organizou, a Discos Orixás. Não conseguimos saber se ele possui outros títulos, mas o disco é de uma qualidade excelente em termos de captação, mixagem e masterização. O coro da curimba feminina é muito bom e tocam bem. O disco pode ser polêmico pelos temas relativos a Exu, onde se conecta as questões da Kimbanda com os fundamentos da Cabala Hebraica via satanismo, tema ainda em discussão nos meios umbandistas...


Para ouvir a faixa 02, "Chegada do Exu", clique abaixo:

Sunday, July 29, 2007

Welcome to terreiro - 1993


Welcome to terreiro – LP - Rock It! - 1993

1.Troops of Olodum; 2.Gangrena Gasosa; 3.Saravá Metal; 4.Pegue Santo or Die; 5.Fist Fuck Agredi; 6.Protesto Concreto; 7.Welcome To Terreiro; 8.Exú Noise Terror; 9. Thraxangô; 10.Gangrena Venérea; 11.Despacho From Hell; 12.Pomba Gyra;


Já há muito tempo, a umbanda encontra expressão nos mais variados estilos, durante a história fonográfica brasileira. Ela esteve presente no Samba, Baião, Jazz, e até mesmo no rock, quando os mutantes gravaram “Bat Macumba” e “Sarava”. Isso sem falar nos outros tropicalistas, como Caetano, Gil e outros.




E não poderia deixar de ser diferente com o surgimento de estilos mais pesados, a partir dos anos 80/90, como o Thrash Metal e o Death Metal. Apesar de polêmica, chocante e nada espiritualista a visão que os músicos do Gangrena Gasosa tem das coisas do terreiro tem de ser respeitada, pois alguns deles eram de terreiros de quimbanda. A formação da Gangrena Gasosa data de 1990, e o objetivo inicial era tocar até conseguir abrir um concerto do Ratos de Porão. Ao mesmo tempo, era preciso arranjar alguma coisa que chamasse mais a atenção do que a qualidade técnica do grupo, e assim nasceu o saravá metal.

O primeiro álbum da Gangrena, Welcome To Terreiro, foi lançado em 94 pela Rock It!, e trazia canções com inusitados títulos, como "Despacho From Hell" e "Pegue Santo or Die", chamando a atenção da mídia. Os questionamentos aos dogmas do metal, com deboches e detonação geral mexeram com a cena, e a mistura de pontos de macumba, atabaques e berimbaus acabou abrindo caminho para que outras bandas fizessem o mesmo. E isso muito antes do Sepultura lançar Roots, álbum considerado de vanguarda em todo o mundo justamente por misturar raízes brasileiras com o barulho do heavy metal. Lançado em LP/CD a tiragem inicial de Welcome To Terreiro desapareceu rapidamente, e a partir daí a Gangrena encarou um longo período de negociações com sua antiga gravadora, para dar seqüência à sua carreira. Capitaneados em 98 pela Tamborete Entertainment, e com várias mudanças na sua formação, a Gangrena voltou com Smells Like a Tenda Spírita, título que por si só já vale o álbum.

Da formação original, permaneceram Chorão (vocal), Vladimir (guitarra) e Felipe (baixo), entrando para o grupo Angelo Arede, ex-Dorsal Atlântica (vocal), Mutley (bateria) e Fábio Lessa (percussão). Terreiro, para eles, apesar do ar um tanto quanto controverso, típico do rock, é coisa séria. É como eles dizem na letra de uma de suas músicas: “Não me traia, por favor/Praquele que cumpre com a obrigação/A vida não desanda/Porque terreiro de macumba/Não é a casa de Mãe Joana.” Mesmo assim, é preciso muita cautela pra ouvir o som deles, pois tanto música quanto letra não é são recomendados para ouvidos sensíveis...


Para ouvir a faixa 8, "Exu noise terror", clique abaixo:

Cigano - Minha mãe! - 1974


Cigano - Minha mãe - CID - CS -1974
Lado A - Simplesmente mãe;
Lado B - Yemanjá;
Compacto raríssimo deste cantor obscuro dos anos 70. Imitava Roberto Carlos e provavelmente era sua intenção se colocar na mídia religiosa (assim como Roberto faz até hoje com o catolicismo) através da Umbanda. Não temos registros de mais nenhuma outra gravação dele, mas vou lhes dizer: essas duas músicas são demais!! A banda é absurdamente boa, bateria, baixo, metais, percussão, orquestra, backing vocals, guitarras, tudo bem gravado, com o Ciganão mandando muito nos vocais. O percussionista da música Yemanjá quebra tudo nas congas. Considerando tudo que surgiu na cola do Rei nos anos 70, o "Cigano" até que merecia um reconhecimento maior da indústria fonográfica e do público em geral...


Para ouvir o lado B, "Yemanjá", clique abaixo:

Batuques e Pontos de Macumba – 1950


Batuques e Pontos de Macumba – LP – Odeon – 1950

Com Sussú e João da Baiana

1.Acorda, acorda; 2. João da Baiana no seu terreiro; 3.O Cachimbo da Vovó; 4.Nanan Boroquê; 5.Capaxá de Umbanda; 6.Amalá de Xangô; 7.Ogun Rondeiro;

Sussu e João da Baiana foram dois expoentes pioneiros na gravação da música umbandista. Já colocamos outros discos dos dois intérpretes aqui no acervo e não é preciso dizer da capacidade, do cuidado e da alegria que se ouve nas 7 faixas deste disco, uma compilação interessante dos discos solo que são da mesma época (anos 40/50).
Talvez este LP tenha sido uma tentativa de acender e movimentar o recém inaugurado mercado dos Lps em 33 rotações que estavam surgindo. Na parte musical, os músicos são excelentes, executando sambas ainda vinculados aos Congos de Ouro e Cabulas dos terreiros cariocas.

Este é um disco raríssimo, quase impossível de se encontrar e faz parte daqueles discos de umbanda com “capas politicamente incorretas”, pois como os irmãos podem ver, mostra o sacrifício de um galo, o que produz uma expectativa infundada sobre o que se encontra na parte sonora e a foto deve ter sido escolhida por causa da letra da faixa 6, de João da Baiana, “Amalá de Xangô”, que diz a certa altura: “Obinrin, meu Obé que tu levou, foi Xogum que apanhou, prá matar Akikó Cocorôcô. E cadê o o Akikó que tu matou?”. Aqui, uma mistura de Yorubá com português. Obinrin significa filha, Obé, faca, Xogum – de Axogun, é o ogã responsável pelos sacrifícios rituais – e Akikó, galo.

Aliada a cena da capa ao nome “Macumba” – que significa tambor, mas que adquiriu mais tarde uma conotação pejorativa – deve ter arrepiado de medo, na época, muita gente preconceituosa com as coisas do santo. Há ainda um outro disco igualmente raro (que conta com a presença do grande Ataulfo Alves) com a mesma sequência de fotos, com a mesma mãe de santo, mostrando uma cena ainda mais forte. Cabe aos irmãos julgar, nos dias de hoje, a valia e a importância desta seqüência histórica de fotografias que foram usadas nestes excelentes trabalhos.


Para ouvir a faixa 2, "João da Baiana no seu terreiro", clique abaixo:

Thursday, July 26, 2007

Encontros de curimbas - Campinas 2005 / São José do Rio Preto - 2006

Fotos: Vivian Lerner (Yatacyara)

I Encontro de Curimbas 05/11/2005 - Campinas


Casa cheia na Casa do Lago em Campinas para o Encontro de Curimbas

O I encontro de Curimbas aconteceu no Espaço Cultural Casa do Lago da Universidade de Campinas, uma realização da Unicamp, PREAC e FTU – Faculdade de Teologia Umbandista.
Pai Roger (Araobatan) Diretor da FTU - Faculdade de Teologia Umbandista
O evento foi aberto por Pai Roger (Araobatan), diretor da FTU, que discorreu sobre a importância do respeito à pluralidade e às diferenças entre todas as escolas umbandistas e da necessidade em se preservar o elo de ligação que une todos os cultos, que são os pontos cantados.

Palestra de Hilário Bispo de Jesus, o Babalarena. Ao lado, a Curimba da FTU.

Em seguida, a palavra foi passada a Hilário Bispo de Jesus, o Babalarena, que abordou o dia da Consciência Negra e a posição do negro nos cultos afro-descendentes, além da lembrança de que o Brasil é um país msicigenado e essa mistura é importante para que haja a tolerância entre todas as raças.

A primeira Corimba a se apresentar foi a do templo de Umbanda Vovô Serafim e Ogum Três Espadas, da cidade de Rio Claro, comandado por Pai André e conforme anunciaram os próprios integrantes da Corimba, não tocaram nem cantaram pontos de raiz, mas composições próprias de louvação aos Orixás, a maior perte delas cantadas em Yorubá; trouxeram instrumentos variados, entre eles dois batás nigerianos e um Ntama, um tambor falante. O coral era muito bem afinado e os alabês muito bons. Executaram na maior parte das cantigas os toques de Ijexá, Cabula e Barravento.

Curimba de Pai André de São Carlos


A segunda Corimba foi a do Templo de Umbanda Mamãe Oxum, Caboclo Sete Pedras e Caboclo Itajaé, comandado por Pai José Carlos, que apresentou alguns pontos de louvação entoados em seus ritos. A apresentação contou com um coral de senhoras e os alabês executaram toques de Cabula e Toruá.


Yaô da casa de Pai Toloji


A terceira Corimba foi a da Comunidade da Tradição do Culto Afro Ilesin Ogun Lakaiye Osinmolé de Campinas, comandada por Pai Toloji. Apresentou-se em duas partes: a primeira com vários toques e orikis da Nação Ketu, com a especial perticipação de suas Iaôs dançando com as interpretações característcas de cada Orixá; na segunda parte, Pai Toloji apresentou pontos que entoa em seus ritos de Candomblé de Caboclo. Os alabês executaram com precisão inúmeros toques, tais como Cabula, Barravento, Congo de Ouro para o Candomblé de Caboclo e Alujá, Aguerê, Daró e Opanijé para o Candomblé Ketu.

Fechando o evento A corimba da FTU apresentou explanações sobre o porquê da Percussão Sacra. Pai Roger, Ogã da FTU apresentou um cada um dos cânticos que seriam executados e Obashanan discoreu sobre os mistérios do Orixá Ayom, o orixá da música e dos tambores. Apresentaram cânticos de Encantaria, das Nações Ketu e Angola e da Umbanda em seus vários aspectos. Executaram os toques em Adarrum, Barravento, Cabulas, Congo de Ouro, Toruá, Batá e Aguerê. Ao final todos os alabês tocaram juntos, encerrando as atividades...



I Encontro de Curimbas - São José do Rio Preto


Realizou-se em São José do Rio Preto, no dia 05/11/2006 o I encontro de Música Sacra Brasileira da região Noroeste, uma realização da FTU, CONUB e do Templo da Estrela Verde.

O evento ocorreu em comemoração ao mês da Consciência Negra e pela primeira vêz em 7 anos, templos Umbandistas foram incluídos no calendário das atividades, uma vêz que a diretoria do Conselho Afro de São José do Rio Preto, por ser evangélica proibía a participação de terreiros nos eventos, numa demonstração de paradoxal intolerância.

O Templo da Estrela Verde durante um ano entrou em negociações para preservar o direito dos Umbandistas a participarem de um evento ligado às tradições Afro-Brasileiras. Finalmente, a diretoria evangélica do Conselho Afro cedeu e no calendário das comemorações foi incluído o II Encontro de Curimbas. Ainda assim, a direção do Conselho Afro adiou a impressão dos convites, dizendo que estes só estariam prontos no dia do evento, numa clara tentativa de não divulgar o encontro. Apesar das sabotagens, estiveram presentes quase 500 pessoas. O próximo encontro será realizado, provavelmente, no terreiro Sete Flechas, da mãe Sônia de Odé.

Numa parceria com o Templo da Estrela Verde (Sub sede da Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino), o evento foi realizado na Tenda Cacique da Mata Virgem do Pai Miano que cedeu o espaço para que vários templos da região pudessem mostrar seus cantos e danças sagrados.



Apesar da sabotagem do Conselho Afro de Rio Preto, dirigido por evangélicos, o terreiro de Pai Miano encheu-se de pessoas e de alegria para o evento


O evento abriu com o Hino da Umbanda, tocado por todos os Alabês reunidos. A primeira apresentação foi do Templo Sete Flechas, que entoaram cantos tradicionais da Umbanda. A dupla de Alabês tocou muito bem e todos os presentes acompanharam com palmas cantando juntos.


Curimba do terreiro Sete Flechas, da Mãe Sônia de Odé

Em seguida o terreiro do Pai Marcos apresentou o seu xirê com cantos de todos os orixás e as danças ritualísticas.

Alabês Pai Marcos

Os Alabês da Faculdade de Teologia Umbandista e do Templo da Estrela Verde apresentaram um pouco da evolução dos ritmos e cantos na história umbandista. Entoaram orikis em Yorubá e Kibundo, além de pontos de Umbanda e encantaria.
Alabês da FTU - Faculdade de Teologia Umbandista

Fechando o evento, Pai Miano e seus filhos apresentaram seu Xirê muito bem coreografado, chegando a emocionar a todos com a boa vontade e a alegria de seus filhos que fizeram uma verdadeira festa de louvação no templo.


Curimba do terreiro de Pai Miano


Fechando o evento, os sacerdotes deram suas palavras finais num congraçamento que mostra a vitória da Umbanda sobre as diferenças. Como diz Mestre Arapiaga: nós, umbandistas somos diferentes, mas não desiguais.

Monday, July 23, 2007

C.E.U.F – Centro Espírita Unidos pela Fé – 2005

C.E.U.F – Centro Espírita Unidos pela Fé – CD – Independente – 2005

1.Oxalá – O criador; 2.Oyá Iansã Guerreira; 3.Caçada de Caboclo; 4.Louvação a Xangô; 5. Festa de Preto Velho; 6.Saudação a Nana Buruquê; 7.Oxum Dona do Ouro; 8.Louvação a Falange D´Ogum; 9.A Benção de Abaluaê; 10.Louvação; 11.Saudação à Dona Maria Padilha da Rosa Vermelha; 12.Louvação à Dona Figueira; 13.Subida de Exu;

Cantigas de José Carlos de Oxosse e Solange de Nana;

Intérprete: José Carlos de Oxosse;

Coro: Kalendoiá; Divina; Graça; Mônica; Ana Paula; Shirley e Carolina;

Atabaque: José Carlos de Oxosse e Moacir;

Agogô: José Carlos de Oxosse;

Chocalho: Fernando;

É comum no Rio de Janeiro os festivais de Curimba, onde se apresentam muitos terreiros, na intenção de produzirem novos pontos para a comunidade Umbandista. Por mais louvável que seja a proposta – o de promover uma unidade e o encontro da cultura de terreiro – ainda assim, há algo extremamente sensível nessa prática, pois os resultados ainda são extremamente regionais e o que tem acontecido é o surgimento de pontos de louvação num número muito superior a pontos de raiz – aqueles realmente cantados e trazidos do mundo astral por entidades incorporadas – o que reduz em muito os cantos de invocação na ritualística profunda. Mas isto é uma outra história. No que se refere ao cd em questão – o pessoal do CEUF são campeões de muitos destes festivais - os músicos são bons e as composições são ótimas, embora ainda atreladas ao modo “samba enredo” de se compor, pois a estrutura melódica é idêntica aos sambas cariocas mais modernos e embora o samba realmente venha da música feita nos terreiros, há uma grande diferença no que se refere à estrutura melódica e mesmo rítmica de cada um dos estilos. Por ser um disco independente é um disco raro. Pena não terem um endereço para divulgarem o trabalho.


Para ouvir a faixa 01, "Oxalá" clique abaixo:

Thursday, July 19, 2007

Agô - Cantos sagrados de Brasil e Cuba – 2003


Agô – CD - Trama – 2003

01. Exu; 02.Oxossi; 03.Agradecer e Abraçar; 04.Xaxará; 05.Xangô; 06.Oxaguian; 07.Quebrando Pratos; 08.Iemanjá; 09.Muzenza; 10.Caboclos; 11.Ago; 12.Saudação a Oxossi; 13.Saudação a Omulu;

Brasil e Cuba possuem praticamente as mesmas origens religiosas quando se pensa em África. Com o passar do tempo, a música sacra dos dois países correram paralelas (gerando cada qual sua expressão musical popular particular), mas sempre por caminhos tão diferentes que nos dias de hoje parece ser muito difícil encontrar uma conexão entre as duas culturas sem que o resultado sonoro resulte estranho em alguns momentos.

Ponto maior para Cuba, que preservou suas raízes e não renega as origens de sua música nos cultos de suas santerias, seja Palo Monte, Arará, ou Regla de Ocha. Assim, ritmicamente, sua música se ramificou para os EUA, influenciando o jazz com o som extremamente complexo dos ritmos das congas e dos batas, das rumbas gauguancós e dos palos e descargas. Tais ritmos, mais tarde, ao ouvido americano, que não conseguia distinguir exatamente o som brasileiro do cubano e de outras culturas sul americanas, batizou de “salsa” (corruptela de “South” - toda a música que vinha do sul) uma infinidade de ritmos diferentes, tentando classificar sob um só rótulo tod o som que vinha das Américas Latinas.

Este disco – que nos foi prometido por muitas pessoas e nunca chegou a nossas mãos, a não ser recentemente - é uma proposta muito interessante em alguns momentos, quer seja na faixa 07, que mostra o ritmo Daró de Oyá como base para um maxixe-choro, executado com maestria pelos músicos participantes. Ou as faixas que influenciaramCarlinhos Brown em seu excelente Candombless, onde o eletrônico oferece respeitosamente o suporte para suas origens acústicas e “macumbísticas”.
A faixa 12 é tão lindíssima, tão emocionante que é difícil não se chegar às lágrimas – oriki e orquestra se encontram tão perfeitamente que duvida-se, durante a audição se já houve algum dia indisposição entre os povos do mundo. Um verdadeiro retorno sonoro aos tempos em que o Ayom estava na terra.
As faixas onde os orikis se encontram com os pianos cubanos ainda possuem um certo ar de “briga” devido ao resultado harmônico e melódico, pois o acento dos cantos em Yorubá no Brasil obedecem aos tons do português e não do espanhol. O modo como se canta e se fala influencia de tal forma uma composição que há sutilezas que se manifestam ainda que de forma quase imperceptível, mas no resultado final da obra mostram traços indeléveis de formação e reconstrução das culturas humanas. Mas no geral, os músicos, das cordas, sopros, cantores e ritmistas – com a direção do grande Ari Colares – brasileiros e cubanos se encontram, na verdade, num grande xirê – uma celebração da música e das artes no retorno feliz a suas raízes ancestrais.


Para ouvir a faixa 12, "Saudação a Oxossi", clique abaixo:

Tuesday, July 17, 2007

Kaviungo – 2005




Kaviungo - CD – TBS – 2005

01.Kafunge; 02.Belacim; 03.Sakafuna; 04.Kom Senzala; 05.Jambura; 06.Isumbo; 07.Xaqua-te; 08.Sambumangue; 09. Pobo Mona; 10. Muchauere; 11.Kundo Ka; 12.Lembondile; 13.Maronduba; 14.Mereakoxe;

Na Mitologia Bantu – Kaviungo, Kingongo ou Nsumbu - é o Senhor da terra. Tem caminhos com os antepassados e une-se a eles para encaminhá-los. É o senhor da ráfia e das enfermidades. Como está no mesmo nível mitológico de Obaluaiyê/Omolu/Soponná os mais velhos viram o sincretismo com estes Orixá/Vodun em sua representação mitológica. É Yorimá na Umbanda e está intimamente ligado aos Pretos-Velhos. É também chamado de Ntoto pelo povo de Kongo.

Kingongo, é um nkisi guerreiro, lutador, e quando mais velho, ao mesmo tempo é o sábio, o feiticeiro, o guardião. Porém, tem varias regências e influências. Kaviungo também é o sol, o calor do astro rei, é o senhor das pestes, das doenças contagiosas ou não. É o rei da terra, do interior da terra, é o Nkisi que cobre o rosto com a palha (palha da Costa), porque para os humanos é proibido ver o seu rosto devido à deformação feita pela doença, ou ainda por ele brilhar como o sol e ser impossível olhá-lo diretamente. Este Nkisi rege o funcionamento do organismo, e é quem indica a dor que sentimos pelo mau funcionamento dos órgãos, por um corte, queimadura ou traumatismo. A ele devemos a nossa saúde. Trata do interior, mas cuida também da pele e de suas moléstias.


Pertence a ele a regência dos cemitérios, pois é o Nkisi que vem para buscar o espírito desencarnado. É ele que vai mostrar o caminho, servir de guia para aquele espírito. Também é o senhor das camadas do interior da terra, para onde vamos todos nós. Daí sua ligação com os mvumbi (mortos), pois é ele quem vai cuidar do corpo sem vida. Este Nkisi tem vários caminhos ou identidades, tais como Kaviungo, Kafunan, Kafungê, Nsumbu....


Diz-se que Kaviungo está presente no nosso dia-a-dia, quando sentimos dores, agonia, aflição, ansiedade. Está presente quando sentimos coceira e comichões na pele. Rege também o suor, a transpiração e seus efeitos. Rege aquele que tem problemas mentais, perturbações nervosas e todos os doentes. Rege os mutilados, aleijados, enfermos. Ele proporciona a doença, mas principalmente a cura, a saúde. É o Nkisi da misericórdia. É filho de ZUMBARANDÁ e LEMBARAGANGA. Irmão adotivo de MUKUMBE e ALUVAIÁ, e irmão carnal de TEMPO, MATAMBA e ANGORÔ.


Máscara (muxiki) africana representando Kaviungo

Nos mitos, a varíola é a punição que ele aplica aos malfeitores. Quando morre uma pessoa, KAVIUNGO senta-se em cima do corpo , reivindicando seus direitos. Está relacionado a terra, os troncos das árvores e os ramos. Transporta o AXÉ preto, vermelho e branco, e seu maior segredo é com os espíritos contidos na terra, que são seus irmãos e de quem ele é o maior símbolo. Assim como ZUMBARANDÁ e Kissimbi, ele é o patrono dos KAURIS. Usa em suas vestimentas um capuz de palha da costa, chamado AXÓ YIKÓ, que lhe foi dado por seu irmão Nkoce, para lhe cobrir as chagas e, principalmente, seus olhos, pois como já dissemos, contêm todo o brilho do sol e quem o olhasse perderia a visão. O AXÓ YIKÓ é um material de grande significado, pois participa de todos os rituais ligados a morte. A presença de YIKÓ é indispensável, em todas as situações que se maneja com o sobrenatural. O YIKÓ é a fibra da ráfia, obtida de palmas novas de YIGYOGÓRO, árvore sagrada, que produz a palha obtida dos talos do olho da palmeira, quando nova, antes delas abrirem-se e curvarem-se. O fato de cobrir-se com YIKÓ e ornar-se com búzios e cabaças, mostra que estamos na presença de um nkise ligado diretamente com a morte.

Segundo as lendas, ele é irmão mais velho de KAMBARANGUANGE. KAMBARANGUANGE destronou um KAVIUNGO velho e assumiu seu lugar, por esta razão existe a indisposição entre os dois Nkises. Pessoas de KAVIUNGO não pegam no XÈRE nem participam da roda de KAMBARANGUANGE. No KUKUANAN não entra AMALÁ e na comida de KAMBARANGUANGE não entra DOBURUS.

KAVIUNGO usa miçangas pretas e brancas ou pretas, vermelhas e brancas, dependendo da qualidade, amarelo, preto e marrom. Sendo o dono da terra, é ele quem nos dá todo o tipo de alimentos, inclusive, a ele pertencem todos os grãos.
Os Xicarangomas ou Kissikarangombes tem que ter respeito por este Nkice, pois KAVIUNGO é o dono dos couros dos animais mortos para se fazer o ngoma. Quando vamos dar comida aos tambores, damos comida a KAVIUNGO.

A KAVIUNGO pertence o porco, cabrito, frangos, galos carijós, frangos rajados, d'angola, tatu e camundongos ou outros roedores. Carneiro é sua grande KIZILA. Pega, também, patos pretos e brancos. Depois do ritual de rolar os bichos, tira-se a língua da d'angola, do pato e do porco. As línguas não vão ao fogo.

QUALIDADES
- TATETO KULAMBA RIA WUNGANA
É o mais antigo. É proibido falar seu nome. Na África quando se fala seu nome, coloca-se mel na boca. Come com ALUVAIÁ e tem fundamento nas encruzilhadas. Tem caminhos com GONGOBIRA e é o deus da varíola e das doenças de pele. Era êle quem dizimava nas aldeias. Suas contas são brancas e pretas. No dia de sua feitura tem que ser feito sete qualidades de comidas, pôr na folha de mamona e levar com uma vela para o campo. Ele leva dois quelés :um no pescoço e um na perna esquerda (duas argolas de aço). No dia do recolhimento, leva-se o MONA XIKOLA na porta do cemitério e dá-se um sacudimento. Este santo é preparado no barro vermelho. Quando se dá comida a ele, dá-se na encruzilhada, pois ele tem caminhos com Mavambo.
- TATETO KULAMBA RIA TAKUBENANGUANGE
Em seu assentamento leva uma estatuazinha com olhos. Tem dois queles , um de búzios e outro de missangas. No dia da saída tira-se o de búzios e coloca-se no pescoço do boneco. Tem caminhos com LEMBARAGANGA. É jovem e guerreiro. Leva na mão uma lança chamada OKÓ. É vingativo, ambicioso, luta para alcançar posição alta sem ver de que maneira. Tem caminhos com MUKUMBE TANGO AVANGO, LEMBÁ, MONAKAIA, ALUVAIÁ e MALEMBÁ. Êle é cultuado no dia 17 de dezembro, veste branco e preto e suas contas são rajadas. O seu cuscuzeiro leva uma seta só, vem dentro de uma bacia com 9 pratinhos brancos de barro. Seu verdadeiro encanto, como dos outros, é o cântaro (moringa de uma asa só) . Neste cântaro põe-se jóias e dinheiro. Não come feijão preto. Come miúdos de boi no azeite doce, os outros comem com dendê. É o único que come caracol.
- TATETO KULAMBA RIA BELAGUANGE
É jovem, veste preto e branco como suas contas. Tem caminhos com TEMPO e ANGORÔ. Aceita oferendas de tatu na praia.
Outras qualidades:

- TATETO KULAMBA RIA KANJANJA.
- TATETO KULAMBA RIA APANANGO.
- TATETO KULAMBA RIA KATULE.
- TATETO KULAMBA RIA KAFUNGE.

UNSABA (Ervas)

Mangerona, Canela de Velho, Alunam, Café do Mato, Balaio de Pombo, Agapanto lilás, Erva Moura, Beldroega Vermelha, Mal-com-tudo, Guiné-pipi Negramina, Tamarindo, Eucalipto, Cipó Caboclo, Cambará, Erva grossa, Vassoura Preta, Vassoura Branca, Gervão Roxo, Sete Sangrias, Espinheira Santa, Sabugueiro, Crisântemo.

Este disco contém várias cantigas de Kaviungo que são tradicionais nos rituais Bantu e apesar da gravação não ser primorosa (os atabaques por vezes estouram nos graves e a voz do Vado está muito na região das freqüências médias), ainda assim é um disco empolgante, que vale a pena ser conhecido.


Para ouvir a faixa 13, "Maronduba", clique abaixo: