Sunday, September 23, 2007

A Música do Santo só aqui!!



Clique nos players abaixo para ouvir o melhor da música de terreiros em todos os tempos:

Programa 2

Pajé Maurílio em seu Catimbó, com suas filhas de santo, ouve a Rádio Makumba!





Programa 1
Mãe Asclépia de Oxum escuta o som da Banda na Rádio Ayom, a Rádio Macumba!!

Thursday, September 20, 2007

Dudu de Ogum – 1985


Dudu de Ogum – LP - Fermata – 1985

1.Seu Zé Pelintra; 2.seu Mata Virgem; 3.Iemanjá; 4.Vai Aruanda; Cosme e Damião; 6.Inha sam; 7.Xangô; 8.Guerreiro Beira Mar; 9.Caboclo Roda Mundo; 10.Oxalá; 11.Simiromba; 12.Príncipe Gerson;

Produção de Osias Macedo; Arranjos: Mirandinha; Baixo: Dárcio; Bateria:Mirandinha; Cavaco e Violão 7 Cordas: Edmilson; Guitarra base e solo: Mirandinha; Ritmo: Fredy e Mauro; Coro: Márcia, Marion e Vilma.

Dudu de Ogum, com seu timbre vocal muito semelhante ao de Fagner segura bem esse disco, com um grupo de amigos que são muito bons no instrumental. Embora se aproprie de alguns pontos tradicionais de raiz (algo que mitos outros artistas fizeram antes dele) o disco não é ruim, apesar de um pouco desequilibrado em alguns momentos no que tange à mixagem e masterização. Não há informação alguma no disco sobre a origem de Dudu, mas podemos supor que ele seja ligado às encantarias do Nordeste, pelo teor do imaginário dos pontos, onde cita-se Bartira, Zé Pilintra, Príncipe Gerson e outros encantados muito cultuados na região de Maranhão e Pernambuco.


Para ouvir a faixa 2, "seu mata Virgem", clique abaixo:

Wednesday, September 19, 2007

Louvação aos Orixás – 1976

Louvação aos Orixás – José Ribeiro – LP – RCA – 1976

1.Exuria exu; 2.Paóo para um Djagun; 3.Oxossi é caçador; 4.Atotô Meu Pai; 5.Sarava o Povo africano; 6.Okolofé Mamãe Oxum; 7.eparrei minha mãe Iansã; 08.Louvação a Xangô; 09.Rainha do Mar; 10.Saluba Nana; 11.epe epe babá; 12.Zambe Maleme;

Pela capa já podemos antever o que há no disco. A imagem de uma galáxia nos induz a imaginar uma produção à lá Sérgio Mendes, ou bem que poderia ser um disco de Rock Progressivo, mas não, é o “Rei do Candomblé” em sua mais ousada obra: José Ribeiro realizou uma verdadeira superprodução, mas não uma superprodução qualquer, dessas que se vê hoje nos estádios, organizados pelos evangélicos. Não!! O homem fez uma obra daquelas de dar inveja aos produtores do U2.
José Ribeiro, há 30 anos humilhando muito produtor evangélico de hoje!!

Minha gente, esse disco tem orquestra completa, com cordas e metaleira, percussão de inúmeras peças que de ouvido é até difícil de se identificar, tamanho o número de instrumentos. São congas, claves, atabaques, timbales, bateria, etc. etc; São guitarras, violinos, teclados, baixo, coral dos “Ogans”, afinadíssimo (com exceção do próprio José Ribeiro que não era cantor, mas não faz feio).
A captação, a mixagem, os arranjos parecem terem sido feitos para um especial da Rede Globo, tamanha a megalomania da proposta. Um absurdo para a época e mesmo para os padrões de hoje. Com tudo isso, o disco tem a obrigação de ser bom, e é um show de ritmo!! As composições são de Alberto Paz e o auto intitulado “Rei da Umbanda” na época, Tancredo da Silva Pinto prefacia esta bela ousadia faraônica!


Para ouvir a faixa 1, "Exuriá Exu", clique abaixo:

Tuesday, September 11, 2007

V festival nacional de cantigas de Umbanda/Isto é que é Umbanda – 1975

Capa original
Capa na Reedição

V festival nacional de cantigas de Umbanda/Isto é que é Umbanda – LP – Itamaraty – 1977

1.Hora de Rezar; 2.Pedra Lírio de Xangô; 3.Flores de Obaluaê; 4.O mundo encantado de Janaína; 5.O canto de Tupi; 6.Irôco; 7.Ressurreição; 8.Toada de Boiadeiro; 9.Vovó Chica; 10.Festa do Caboclo Folha Verde; 11.Venham as Crianças; 12.Prece a Tupã;

Intérpretes: René Filho, Getúlio Braga, Ítalo, Rogério, Tavares, Eunice, Paulo Cunha e Francisco.

Neste LP que resume o quinto festival de Umbanda, temos muitos altos e baixos, pois é um disco feito por compositores de pontos de louvação e a maior parte das faixas são, na verdade sambas retraduzidos para a idéia umbandista, algo que se tornou um hábito dentro dos terreiros por causa dos festivais. É a inversão da realidade de que o samba saiu dos terreiros, filho da Cabula e do Congo de Ouro. Sua volta ao cenário religioso o torna um tanto quanto alienígena dentro dos rituais, mas relevemos... há, ainda, alguns Ijexás que se aproximam de sua derivação mais óbvia, o afoxé. Os corais não desafinam, mas pecam no tempo da respiração, o que denota pouco ensaio, mas não chega a comprometer. O ponto alto do disco são os alabês muito bons, embora não haja informação algume e tampouco nome de nenhum deles. O destaque é a capa politicamente incorreta, uma estética que choca alguns, mas que deve ser levada em conta entendendo-se que a Umbanda é, antes de tudo uma religião que quebra convencionalismos. A capa desagradou tanto que numa edição posterior usaram uma outra fotografia, na nossa opinião, pior que a primeira...



Para ouvir a faixa 3, "Flores de Obaluaiê", clique abaixo:

Lá na Aruanda – 1971

Lá na Aruanda – LP – Sarava/Cáritas – 1971

1.Abertura e Prece de Cáritas; 2.Andorinha voou; 3.Saudação a Maria Baiana; 4.No Amazonas; 5.Oh, Iparrê; 6.Ponto de Oxossi; 7.Relampeou; 8.Estrela Guia; 9.Ponto do Caboclo Boiadeiro; 10.Ponto de Santa Bárbara; 11.Saudação à Umbanda; 12.Sarava cacique Sete Serras; 13.Soberbia (Preto Velho);

Tenda Tomba Morro, Tenda Pai Anastácio, Tenda Cacique Sete Serras; Tenda Cacique Tupi; Tenda Nossa Senhora Aparecida;

Um disco clássico, faz parte da trilogia que se completa com Aruanda e Maior é Zamby. Até a capa é praticamente a mesma de Maior é Zamby, só que com a disposição invertida. Assim como os outros, trata-se de um disco que mostra a Umbanda de terreiros do interior de São Paulo e Minas, com gravações feitas no próprio terreiro. São cantos de Encantaria e Umbanda mística (Com cantos bem próximos do catolicismo) e traduzem uma pureza maravilhosa. Os toques são em Cabulas, Ijexás e Toruás, executados de modo simples. Com um registro de Umbandas tão puras, é de se estranhar a abertura do disco com a prece Kardecista de Cáritas. Sim, a prece é muito bonita, mas a inclusão dela nesse e em outros discos influenciou os ritos de Umbanda, fazendo com que os mesmos se aproximassem da doutrina Kardecista sem o cuidado de não perderem suas raízes. Uma questão polêmica que não cabe discutirmos aqui.


Para ouvir a faixa 12, "Sarava cacique Sete Serras", clique abaixo:

Monday, September 10, 2007

Amor de Mulher/Yorimatã – Luli e Lucina – 1982






Amor de Mulher/Yorimatã – Luli e Lucina – LP – Nosso Estúdio – 1982

1.Amor de Mulher; 2.Semente; 3.Lua da Noite; 4.Terra e Lua; 5.Primeira Estrela; 6.Sina Cigana; 7.Aloja Yin; 8.Iansã; 9.Ponto de Oxum; 10.Índia Puri; 11.Tripa de Peixe; 12.Aloja Yang;

A primeira vez que vimos Luli e Lucina, foi também a primeira vez que entendemos que alegria, vitalidade, energia e poder não estão vinculados a rótulos, mas antes à essência necessária de se entender as origens tribais de qualquer estilo: queremos dizer, por exemplo, que há características que normalmente são conscientemente ligadas ao Rock, mas que existem antes, na identidade tribal de todo povo.
Pois bem, vimos as duas se apresentarem no saudoso programa “A Fábrica do Som”, lá nos longínquos anos 80, onde, apenas com voz, palmas e um atabaque, elas conseguiram literalmente enlouquecer uma platéia de roqueiros radicais de várias tribos. Jamais esquecerei a força e a identidade do que vi: a expressão clássica da Umbanda em sua configuração mais simples se apoderando do signo modal e levando uma multidão ao encontro de uma catarse espiritual sem precedentes. Só quem viu, viveu...
Umbandistas convictas, neste disco expressam com grande clareza, no lado B, essa identidade, em composições recheadas do imaginário de terreiro, seja em sua vertente indígena, seja em sua corrente ameríndia. Apesar da qualidade da gravação não estar a altura das meninas, ainda assim é um trabalho inesquecível, justamente por ser eterno em sua simplicidade.


Para ouvir a faixa 12, "Aloja Yang", clique abaixo:

Parangolé - 1975

Parangolé –Sambas e pagodes com Zé Maria – LP –Som Livre - 1975

01.Pai Timbó; 02.Tereza; 03.Parangolé; 04.Pau de fazer Berimbau; 05.Nega Maria; 06.Pena Verde; 07.Lamento de Caboclo; 08.Matetê; 09.Visita à Bahia; 10.Estouro da Boiada; 11.Cambaleou; 12.Perdoa Amor;

Zé Maria conta com uma produção impressionante nesse disco. A Som Livre, apesar das habituais idiossincrasias sabia como produzir um trabalho com perfeição. São músicos excelentes, a mixagem e a masterização são perfeitas, bem melhores que muitas de hoje. No repertório Zé Maria conta com sambas, carimbós, sertanejos, com a temática umbandista presente na maior parte delas. Era uma época em que a Umbanda estava em voga, nas letras, nas músicas, nas atitudes...


Para ouvir a faixa 06, "Pena verde", clique abaixo:

Obaluayê – 1949


Obaluayê - Orquestra afro-brasileira – 45 RPM – Todamérica – 1949

01.Apresentação de Paulo Roberto; 2.Chegou o Rei Congo; 3.Calunga; 4.Amor de escravo; 5.Saudação ao Rei Nagô; 6.Festa de Congo; 7.Babalaô; 8.Liberdade; 9.Obaluayê;

Regência: Maestro Abigail Moura;
Solista: Yolanda Borges;
Músicas e letras: Maestro Abigail Moura;
Apresentação: Paulo Roberto;

A Orquestra Afro-Brasileira foi fundada em 10 de abril de 1942, com o propósito de estudar e divulgar a música folclórica e os costumes brasileiros, valendo-se para isso da sociologia e antropologia.

Um disco raríssimo que ganhamos há muito tempo de um amigo que se foi. Trata-se de uma obra extremamente delicada, onde o maestro Abigail Moura conduz com propriedade uma orquestra afinadíssima, quer seja na percussão, quer seja nos vocais ou na orquestra de metais. A cantora Yolanda chega a emocionar em algumas passagens, pois consegue ir do lírico – sem afetação técnica – aos vocais mais profundos da atmosfera étnica. Um registro importantíssimo, que apesar de alguns erros conceituais (o narrador Paulo Roberto, na introdução refere-se ao Rwm como o atabaque mais agudo, quando é justamente o contrário), ainda carrega consigo a chama da ancestralidade e a competência de sempre da música brasileira de raiz.

Para ouvir a faixa 7, "Babalaô" clique abaixo:



Sunday, September 09, 2007

Perdão, Abaluaiê!!

O Maestro Valdemar Henrique
Semana passada minha esposa chega até mim com um pacote e diz: “O que eu faço com isto??? Achei na casa do meu pai.”

Esclarecendo: o pai dela era Júlio Lerner, um dos maiores jornalistas que o Brasil já conheceu, ou que provavelmente jamais conhecerá. Só prá ficarmos na área musical, o homem foi o principal responsável pelo ressurgimento do choro, quando este estava praticamente esquecido no Brasil, nos anos 70/80. Além delançar gente como Fagner, Ednardo, Marina e Inezita Barroso.

Bem, prá encurtar a história, abri o pacote e em minhas mãos impuras ali estava, incólume um dos maiores tesouros da música brasileira e da música umbandista: a partitura do clássico “Abaluaiê” de Waldemar Henrique. Não preciso dizer que quase caí prá trás... sentei-me no chão para apreciar de perto, como um mapa do tesouro, com todo cuidado, o esmero, a dedicação e a responsabilidade artística com que o músico escreveu as notas no papel já amarelado. A partitura deve ter sido usada no programa de Inezita – há seu nome escrito numa das folhas - e daí chegou às mãos de Júlio...

Ah, e só de troco, atrás de uma das partituras está a introdução de outro clássico da música umbandista: “Funeral de um Rei Nagô”, de Hekel Tavares!!

...e agora dividimos com vocês mais este tesouro resgatado pelo ACERVO FTU!!!


A partitura é escrita para orquestra em vários instrumentos:

Piano, Violinos, Viola, Cello, Contrabaixo, Pistões, Flauta, Saxes, Trombone e Bateria.
Por ser extensa, colocarei aqui alguns exemplos, para apreciação...


Capa da partitura

Uma das páginas da partitura para o piano


Uma das páginas da partitura do maestro, onde constam indicações para todos os instrumentos.

Waldemar Henrique da Costa Martins (Belém, 15 de Fevereiro de 1905 - Belém, 29 de março de 1995), foi pianista, escritor e compositor paraense.

Waldemar Henrique, filho de um descendente de portugueses e de uma índia. Depois de perder a mãe muito cedo, foi com o pai para Portugal, retornando ao Brasil em 1918. A partir de então viajou pelo interior da Amazônia, época em que travou contato com os elementos da cultura e do folclore amozônicos que seriam mais tarde característicos de sua obra musical. A primeira música de susseso de Waldemar Henrique foi "Minha Terra", composta em 1923. Em 1929 estudou no conservatório Carlos Gomes, pelo fato de sua família ser contra, seu pai insistiu para que ele se desviasse de sua vocação empregando-o num banco. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1933, onde estudou piano, composição, orquestração e regência. Suas obras têm principalmente como tema o folclore amazônico, indígena, nordestino e afro-brasileiro.



Para ouvir "Perdão Abaluaê", com Jorge Fernandes (1949), cliquq abaixo:

Osny Silva – Ogum Beira Mar – 1983

Osny Silva – Ogum Beira Mar – LP - Copacabana – 1983

01.Cabocla Jurema; 02.Eu vi Oxum na Beira do Mar; 03.Ogum Beira Mar; 04.Obrigado, Preta Velha; 05.Oxalá, venha me ajudar; 06.Salve Boaideiro; 07.São Jorge Guerreiro; 08.Com fé em Iansã; 09.Yemanjá, rainha do mar; 10.Justiça de Xangô; 11.Festa da Conceição; 12.Saudação a Mãe Menininha;

Neste trabalho estão registrados forrós, bregas e outros ritmos de conexão nordestina. Foi lançado numa época em que os músicos de estúdio ainda eram “vivos”, ou seja, antes da invasão da tecladeira no estilo, que tirou o emprego de muita gente e por isso mesmo - graças aos músicos - o disco ainda mantém a qualidade. Osny era ligado ao Pai Edu do Recife e percebe-se que tinha muita fé no que fazia, segundo o que canta nas letras, a maior parte de sua autoria.


Para ouvir a faixa 4, "Obrigado. Preta Velha", clique abaixo:

Edi Brandão Canta para os Orixás/Umbanda Branca – 1977



Edi Brandão Canta para os Orixás/Umbanda Branca – LP – Vibrações – 1977

01.Boiadeiro tem mironga; 02.Cacique da Mata Virgem; 03.Giramundo; 04.A deusa dos orixás; 05.Mensagem da Sereia; 06.Filho de Xangô; 07.Interpretação astrológica dos negros coloniais; 08.Mamãe do Ouro; 07.Sarava Cobra coral; 09.Sarava Oxossi; 10.Moça bonita; 11.Vovó da Guiné;

Um disco muito bem gravado, executado e com composições inspiradas. Edi Brandão é correto no cantar, tranqüilo e simples, acompanhado por músicos excelentes, apenas violão, percussão e baixo. Duas das músicas foram grandes hits da Umbanda nos rádios: “A Deusa dos Orixás” de Clara Nunes e “Moça Bonita” de Ângela Maria. A faixa "Mamãe do Ouro" teve alguma projeção nas rádios, na época. Em algumas faixas pode-se escutar o vocal de Eloah, do Ibeji Miregun...


Para ouvir a faixa 01, "Boiadeiro tem mironga" clique abaixo:

Baiafro - 1978

Baiafro - Djalma Correa - LP - Phillips - 1978

1.Homenagem a um índio conhecido; 2.Samba de roda na capoeira; 3.Baiafro; 4.samba de ousadia; 05.Banjilógrafo; Suíte os quatro elementos: 06.Água/Oxum; 07.Terra/oxossi; 08.Ar/Iansã; 09.Fogo/Xangô; 10.Paino de cuia; 11.Tudo Madeira;

Djalma Correa

Djalma Correa é um destes músicos únicos que infelizmente é um tanto quanto esquecido pela nossa mídia, apesar dele ter prestado relevantes serviços à nossa arte e cultura. Um exemplo é este LP, simplesmente sensacional, seja pela proposta percussiva, elevando instrumentos normalmente conectados em sua característica função rítimica para uma ascenção à categoria de instrumentos harmônicos/melódicos, numa autêntica ousadia musical... é um disco extremamente bem trabalhado, nos timbres, nas composições, na escolha das percussões que perfazem uma verdadeira festa em todas as faixas. Destaque para os toques dos orixás na belíssima "Suíte os quatro elementos", onde Djalma se utiliza dos característicos ritmos Aguerê, Daró, Ijexá e Alujá para ilustrar os poderes das divindades. Gênio é gênio e de nosso amigo Djalma, só coisa boa vem.



Para ouvir a faixa 07, "Terra/Oxossi", clique abaixo:

Saturday, September 08, 2007

Berimbau - 1980

Capoeira - LP - Chantecler - Camafeu de Oxossi - 1980

1.Baba Mixorô; 2.Moriô; 3.Ojo Matin Dolaiê; 4.Afoxé Loni; 5.Alá Filá Lá; 6.Adabaô no Mafê; 7.Ala la la é; 8.Paraná; 9.Quem quiser moça bonita/aidée; 10.Samba do Mar; 11.Adeus Corina; 12.Sou eu Maíta; 13.Vou dizê a meu sinô que a manteiga derramou;

Trabalhamos para a Chantecler nos anos 80 e lembramo-nos das discussões sobre alguns lançamentos na gravadora. Houve nessa década uma tentativa em se constituir um mercado de capoeira, na tentativa de se encontrar um nicho onde se fixar no contexto brasileiro de raiz e este disco foi largamente discutido até quase no final do ano de 1990...

Apesar da edição em 1980 e a reedição em 1989, as gravações parecem ter sido realizadas em outra época, talvez nos anos 60/70. São gravações ao vivo, talvez em local aberto. As primeiras músicas do lado A disco são ijexás, não há a presença de nenhum berimbau, ou de canções relativas à capoeira, são todos cantos de nação. A partir da canção "Paraná", no lado B, são cânticos de capoeira, a maior parte clássicos, conhecidos em qualquer roda. O disco é muito bom, com os temas típicos das composições de capoeira, falando das coisas do santo, da valentia e da força de vontade do escravo...

Solista de berimbau, cantor. Ápio Patrocínio da Conceição, andarilho do Pelourinho, foi um homem de sorte. Tanto no jogo, quanto no amor, daí o nome Camafeu. Ele nasceu no dia 04 de outubro de 1915, no bairro do Gravatá, em Salvador, e se criou no Pelourinho. Filho de Faustino José do Patrocínio e Maria Firmina da Conceição. Seu pai era mestre-pedreiro, descendente de africano. Conviveu com ele até os sete anos. Sua mãe veio de Camamu, era negociante de tabuleiro. Negociava frutas, doces, acarajé, tudo na Baixa dos Sapateiros. Sua mãe teve 16 filhos. Ele, Raimundo e João, cada um de um pai. Como ficou órfão de pai aos sete anos, seu padrasto dava mais atenção ao Raimundo. Não suportando aquilo, resolveu sair de casa. De menino de rua que passou fome e perdeu toda a família, estudou na Escola de Aprendiz de Artífice, trabalhando na fundição, vendeu cordão de sapato (cadarço) na porta do Elevador Lacerda. Dali passou para o passeio do Mercado Modelo como engraxate, além de vender os jornais de modinha nas feiras de Água de Meninos, Dois de Julho e Sete Portas. Saiu de lá para ser marítimo e foi parar na Estiva - Companhia Docas da Bahia até se tornar proprietário da famosa barraca de São Jorge, no velho Mercado Modelo, e de um restaurante de fama internacional.

A música entrou em sua vida desde garoto. Foi criado na roda de samba, tocando berimbau, ensinando aos turistas como tocar o instrumento. Era um homem de muitas palavras, casos e lendas para contar. Chegou a ser diretor das escolas de samba Só Falta Você, Deixa Pra Lá, Gato Preto, onde aproveitava para cantar seus sambas. No Mercado Modelo ele começou a cantar música de capoeira e ijexá, tocando berimbau e atraindo a clientela. A partir daí começou a fazer sucesso.
Na sua Barraca São Jorge, aberto em riso, cercado de objetos rituais de obis e orobôs, ele ensinava os mistérios da Bahia. Na década de 60, a Universidade Federal da Bahia criou o curso de língua ioruba e Camafeu foi um dos primeiros alunos. Foi convidado para ir à África, representando a Bahia no Primeiro Festival de Arte Negra do Senegal, junto com Pastinha e outras pessoas.
Lá ele cantou em iorubá para Oxum e para Oxóssi. Sobrinho de Mãe Aninha e filho-de-santo de Mãe Senhora, o obá de Xangó do terreiro Axé Opô Afonjá esbanjou alegria. Figura baiana conhecida em todo o Brasil, personagens de muitos livros de Jorge Amado (Tereza Batista, Dona Flor, Tenda dos Milagres, Tieta do Agreste, entre outros) de quem era amigo particular. Seu nome está presente em dezenas de músicas: aquela que diz “Camafeu, cadê Maria de São Pedro”, gravada por Martinho da Vila, outra gravada por Maria Alcina e também o conjunto Os Originais do Samba gravou um samba em sua homenagem.
Tocador de berimbau, batuqueiro, ex-presidente dos Filhos de Gandhi, Camafeu de Oxossi gravou dois discos, um deles Berimbau da Bahia com os cantos de capoeira mais belos, alguns velhos do tempo da escravidão ou da Guerra do Paraguai: “Volta do mundo, ê!/volta do mundo, ah!/ Eu estava lá em casa/sem pensá, sem maginá/e viero me buscá/para ajudar a vencê/a guerra do Paraguá/camarado ê/camaradinho/camarado...”.
Esses cantos estão cheios de lembranças da vida dos escravos: “No tempo em que eu tinha dinheiro, camarado ê, comia na mesa com ioiô, deitava na cama com iaiá... Depois que dinheiro acabou, mulher que chega prá lá, camarado. camaradinho ê....”. Contam da guerra, da escravidão, das lutas dos negros. Outros são improvisados no repente da brincadeira e, repetidos, permanecem e se tornam clássicos: “Bahia, minha Bahia,/Bahia do Salvador,/Quem não conhece capoeira/Não lhe pode dar valor//Todos podem aprender/General e até doutor”.
Com o tempo, a voz rouca não cantava mais, porém se emprestava a histórias e nomes com quem conviveu numa cidade que não existe mais.“No mercado, em meio a seus orixás, aos colares e às figas, queimando o incenso purificador, rindo sua gargalhada, saudando São Jorge e Oxóssi, rei de Ketu, o grande caçador. Camafeu comanda a música, o canto e a dança. Um baiano dos mais autênticos, um dos guardiães da cultura popular. Homem que possui o saber do povo, um desses que preservam o passado e constroem o futuro”, segundo Jorge Amado no livro Bahia de Todos os Santos. E diz mais: “Compositor, mestre solista de berimbau, obá de Xangô, Osi Obá Aresá, filho de Oxóssi, preferido de Senhora, amigo de Menininha e de Olga de Alaketu, o riso cortando o rosto, dono da amizade. Em sua barraca, em prosa sem compromisso, numa conversa largada como só na Bahia ainda existe, sem horário e sem obrigações temáticas, podem ser vistos o pescador, a filha-de-santo, o pintor Carybé, o passista de afoxé, o Governador do Estado, o compositor Caymmi, a turista loira e esnobe, a mulata mais sestrosa e Pierre Verger, carregado de saber e de mistério. A barraca de Camafeu é ponto de reunião, é mesa de debates, é conservatório de música. Na cidade do Salvador a cultura nasce, se forma e se afirma em bem estranhos lugares, como por exemplo, uma barraca do mercado (...) lá se vai Camafeu pelos caminhos da Bahia, invencível com seu santo guerreiro. Vir à Bahia e não ver Camafeu é perder o melhor da viagem. Ele é um obá, um chefe, um mestre”.
Um ritual religioso marcou no dia 27 de março de 1994 o sepultamento de uma das figuras mais conhecidas da Bahia: Apio Patrocínio da Silva, o Camafeu de Oxossi. O enterro foi no Cemitério da Ordem Terceira do São Francisco, e contou com a presença de vários amigos e admiradores daquele que era uma das maiores autoridades do culto afro-brasileiro na Bahia. Camafeu ficou conhecido não só como proprietário de um dos mais famosos restaurantes de comidas típicas da Bahia, localizado no Mercado Modelo, como também pelo posto Obá de Xangô, que ocupava no Terreiro Ilê Axe Opô Afonjá. Era querido pelas principais mães-de-santo da Bahia e amigo de Dorival Caymmi, Jorge Amado e Gilberto Gil. Doente há muito tempo, Camafeu foi vencido por um câncer na garganta e faleceu no Hospital Aristides Maltez, aos 78 anos.


Para ouvir a faixa 11, "Adeus Corina", clique abaixo:

Tuesday, September 04, 2007

Maior é Zamby – 1970

Maior é Zamby – LP – Cáritas – 1970

1.Maria Conga; 2.Mamãe Oxum; 3.Maior é Zamby; 4.Cosme e Damião; 5.Pai Clementino; 6.Caboclo Jeremias; 7. Seu Pedra Verde; Peixinho Dourado; 8.João Batista; 9.Caboclo da Serra; 10.Índio Micori; 11.Pai Oxalá;

Curimba do Centro de Umbanda Chico Masseto

Coral: Odete Batista, Maria da Glória, Lelé Batista;

Alabês: Arimatheia, Rui da Silva, José R. da Silva

A música popular brasileira deve muito ou quase tudo à música de terreiro. Durante sua história ela permeou sutilmente todas as formas musicais do país, seja no ritmo, seja na harmonia, seja na melodia. A música sertaneja, o samba, o baião, praticamente todos os estilos se não surgiram dentro dos barracões, foram iluminados em algum momento de sua história pelo imaginário dos templos.

Este LP, hoje bem raro, dificílimo de se encontrar é a mostra perfeita dessa ponte entre a música sacra e a música secular. Aqui temos um terreiro provavelmente influenciado pela Umbanda de Minas. Os cantos são realizados bem dentro do modo de se cantar das Congadas e os tambores são nitidamente Tambus e Candongueiros, em algumas faixas ouve-se um instrumento provavelmente um bambaque (um atabaque de bambu).
Os toques se aproximam muito do modo de se percutir dos jongos, algo como uma cabula mais “dobrada”. Há nos temas dos pontos uma nítida aproximação com o Kardecismo e com o Catolicismo, com invocações a João Batista e Bezerra de Menezes. Os vocais se harmonizam quase que em intervalos de quinta, o que nos leva a entender a aproximação com a música sertaneja de raiz. Além disso, em algumas faixas, bem ao fundo se ouve um violãozinho. Os ogãs cantam muito bem e o coral das meninas é perfeito. Um disco maravilhoso...


Para ouvir a faixa 3, "Maior é Zamby", clique abaixo:

Yemanjá – Belos Cânticos – 1961

Yemanjá – Belos Cânticos – LP – Imperial – 1961

01.Oxalá; 02.Ogum; 03.Exu; 04.Xangô; 05.Oxum; 06.Oxossi; 07.Iemanjá; 08.Ibeji;

Produção e Coordenação Musical: Jair Amorim.

Um disco que pode causar estranheza nos ouvidos de hoje, acostumados mais com o ruído das guitarras e dos graves percussivos, esta é uma obra rara – sim, o disco é raríssimo, mas falamos também do conteúdo artístico – pois raramente houve uma produção como essa em função de temas umbandistas: o que temos aqui é uma orquestra completa, talvez com uns 100 ou mais integrantes, executando arranjos extremamente belíssimos e complexos para os pontos cantados – todos de raiz. Os vocalistas são excelentes (para variar, não se cita nenhum músico em parte alguma do disco), os arranjos primorosos e a qualidade da gravação surpreendente. Os pontos são transpostos dos tradicionais ritmos de terreiro para marchas, sambas, e ritmos orquestrais que lembram muito as composições de Moacyr Santos.Um trabalho digno, honroso, respeitoso e nós diríamos, com uma certa tristeza, que é de se lamentar que não seja mais conhecido, principalmente pelos umbandistas


Para ouvir a faixa 03, "Exu" clique abaixo:

Sunday, September 02, 2007

Cânticos de Terreiro - Luiz da Muriçoca - 1971

Cânticos de Terreiro – Luiz da Muriçoca – LP – Philips – 1971

01.Saudação aos Orixás; 02.Ogum; 03.Oxossi; 04.Omolu; 05.Ossanha; 06.Oxumarê; 07.Xangô; 08.Logum; 09.Oxum; 10.Iansã; 11.Eua; 12.Exu; 13. Babá;

Luiz da Muriçoca é um dos mais respeitados Pais de Santo da Bahia e neste disco, traz mais algumas cantigas tradicionais dos candomblés Ketu. Gravado ao vivo no Teatro Castro Alves, mostra um xirê bem cantado, com alabês muito bons – infleizmente não há o nome dos músicos. Há algum problema no áudio, os instrumentos estouram um pouco na master, mas não compromete o trabalho.


Para ouvir a faixa 09, "Oxum", clique abaixo:

Na Casa do Pai Marabô – 1979


Na Casa do Pai Marabô – Haroldo José – LP – Produções Tocantins – 1979
1.Flores de Yemanjá; 2.Padrinho José; 3.Boideiros; 4.Soldadinhos de Deus; 5.Na casa do Pai Marabô; 6.Estreloa do Céu; 7.Pai Joaquim do Cruzeiro; 8.Cuidado comigo; 9.João Quimbandeiro; 10. A benção Madrinha; 11.Deu cupim na trepadeira; 12.Estela deu mancada;

Haroldo José fez um relativo sucesso popular nos anos 70 e neste disco homenageia sua vivência na Sociedade de Pesquisas Espirituais e Cabalísticas do Estado de São Paulo, onde conheceu o trabalho de “Pai Marabô”, “Senhor Mangueira”, “Padrinho José” e outras entidades. O disco é bem gravado, com músicos excelentes. São baiões, choros, valsas, serestas, sambas e xotes muito bem executados, com sanfona, sax, baixo, flauta, percussão e violões... é um disco sincero, com as letras demonstrando a fé de Haroldo nas entidades e na força do terreiro. Não sabemos se ainda existe esse templo que se localizava em São Paulo... quem tiver informações, nos comente...


Para ouvir a faixa 5, "Na casa de Pai Marabô", clique abaixo: