Monday, June 23, 2008

Salloma Salomão - Memórias Sonoras da Noite - 2003

Salloma Salomão - Memórias Sonoras da Noite - Cd - Aruanda Mundi - 2003

01-O Principe Traidor; 02-Mansane Cisse; 03-Kalunga; 04-Kaiala; 05-Negros Bantus; 06-Cantigas dos Vissungos; 07-Atlantico Negro; 08-Seriema; 09-Maio entrou; 10-Arreda e deixeu passar; Faixa 11-Batuque Malinke; 12-Viola Dangola; 13-Moleque Zaranza; 14-Pabula preto; 15-Lamento ao meu morro; 16-Mineira Folia; 17-Folia do sul; 18-Açucar tambem azeda; 19-Dinha Mira;

Conheci Salloma através de um grande amigo, o violeiro Zé Márcio e não há muito o que dizer, além de que Salloma é um gênio. Gênio de sua raça, de seu povo brasileiro, e principalmente, da humanidade. Sensibilidade, poesia, inteligência nos arranjos, na concepção de cada música, na sutileza de cada nota. Salloma nos brinda com tanta beleza e conteúdo que chega a ser difícil ouvir o disco inteiro sem querer voltar cada faixa para querer prestar atenção novamente naquele detalhe que se engastou em nossa alma por segundos... são instrumentos africanos exóticos, tambores com timbres vivos, temas tão próximos da alma que chega logo a confissão de quem ama os sons do Brasil: somos de qual cultura mesmo? O mundo habita a música de Salloma e uma saudade que o mundo inteiro sente, uma dor distante no peito da raça humana está lá, abraçada naquele acorde. De tão maravilhoso, os 60 minutos do disco acabam virando duas, três horas, pois é preciso ouvir mais outra e mais outra vêz, para que não sobre nenhuma pérola no chão para os incautos que ainda não o conheçam. Mas como se diz em ambientes esotéricos: os verdadeiros heróis da humanidade são anônimos.

Para ouvir a faixa 19, "Dinha Mira", clique abaixo:


Wednesday, June 18, 2008

Louvação a Xangô


Templo da Estrela Verde – A Casa de Xangô Airá

Convidamos a todos para a Louvação ao Orixá Xangô no Templo da Estrela Verde no dia 21 de Junho de 2008, sábado, às 19:00h. Será realizado o rito de louvação à Xangô e aos Caboclos, com a presença de Alabês de várias regiões do Brasil para homenagear a todos os Xangôs, em especial o Ayom, o deus do tambor. Ao final será servido o já famoso carneiro na cerveja preta, preparado por nossa filha espiritual, Celeste de Ibeji, nossa Yabassê.

Sarava profundo a todos!!

William de Airá (Obashanan)

Monday, June 09, 2008

Voodoo Drums in hi-fi - 1958

Voodoo Drums in hi-fi - Atlantic - LP 1958


01.Contradanse - Avant Simple with Flute; 02.Ti-roro drum solo; 3.Ti-Joe Carabien; 4.Meingue with flute; 05.Nan point la vie encore oh!; 06.Laissez yo di; 07.Rara riffs; 08.Contradanse - avant simple with accordion; 09.Annonce on xange nan dlo; 10.Contradanse - Avant simple and Meringue with flute; 11.La misere pa douce!; 12.Ti-roro drum solo;

O Vodu haitiano, chamado de Sèvis Gine (literalmente "Serviço da Guiné, ou Culto Africano"), tem também fortes elementos dos povos Congo da África Central, e dos Ibos e Yorubás da Nigéria, embora muitos outros povos diferentes ou "nações" da África estejam representação na liturgia do Sèvis Gine, tais como o culto dos índios Taíno, os povos originais das ilhas. Formas crioulas de Vodu existem no Haiti, na República Dominicana, em partes de Cuba, nos Estados Unidos, e em outros lugares em que os imigrantes do Haiti se dispersaram durante os anos. É similar a outras religiões da diáspora africana, tais como Lukumi ou Regla de Ocha (conhecida também como Santería) em Cuba, e o Candomblé e Umbanda no Brasil.

A maioria dos africanos que foram trazidos como escravos para o Haiti eram da Costa da Guiné da África ocidental, e seus descendentes são os primeiros praticantes do Vodu. A sobrevivência do sistema da crenças africanas no Haiti é incrível. Assim como aconteceu com o culto aos Voduns no Brasil, os africanos transplantados ao Haiti foram obrigados a disfarçar o seus Lowa, ou espíritos, como santos católicos romanos.

As influências no Vodu não são só africanas. Há numerosas influências indígenas Taíno, dentro do processo evolutivo a que o Vodu se submeteu ao longo da história do Haiti. E não podemos nos esquecer da grande influência do paganismo europeu no Catolicismo romano no panteão dos seu próprios santos. Vodu, como conhecemos no Haiti e na diáspora Haitiana hoje, é o resultado das pressões de muitas culturas e etnicidades diferentes dos povos que foram desarraigados da África e importados para as ilhas durante o comércio africano de escravos. Sob a escravidão, a cultura e a religião africanas foram suprimidas, as linhagens foram fragmentadas, e as pessoas tiveram que ocultar seu conhecimento religioso criando assim uma nova linguagem para seu culto.

Além do mais, para combinar os espíritos de muitas e diferentes nações africanas e indígenas, as partes da liturgia católica romana foram incorporadas para substituir rezas ou elementos perdidos. As imagens de santos católicos são usadas para representar os vários espíritos ou "misteh" ("mistérios", o termo preferido no Haiti), e muitos santos são honrados no Vodu em seu próprio fundamento católico. Este sincretismo permite uma abrangência que engloba o africano, o indígena, e os antepassados europeus de uma maneira completa. É verdadeiramente a "Religião de Kreyòl (Crioulos, mestiços)".

Historicamente, o Vodu possui uma importância basilar no Haiti, pois sem ele o país praticamente não existiria: a cerimônia mais importante do Vodu Haitiano foi a Bwa Kayiman ou Bois Caïman de agosto de 1791, que deu início à Revolução Haitiana, em que o espírito do vodun Ezili Dantor possuiu um padre e pediu um porco preto como oferenda. Através do padre o vodun Ezili incitou todos as pessoas presentes a comprometeram-se com a luta pela liberdade. Esta cerimônia resultou finalmente na libertação dos povos do Haiti da dominação colonial francesa em 1804, e o estabelecimento da primeira república de povos negros na história do mundo.

O Vodu Haitiano cresceu nos Estados Unidos de forma significativa a partir do final dos anos 1960 e começo dos anos 1970 com as levas de imigrantes haitianos fugindo do regime opressivo de Duvalier, estabelecendo-se em Miami, Nova Iorque, Chicago, e outras cidades.

No Vodu haitiano acredita-se, de acordo com tradição africana difundida, que há um Deus que é o criador de tudo, chamado de "Bondje" (do francês "bon Dieu" ou "bom deus", distinguido do Deus dos brancos em um discurso dramático feito pelo houngan Boukman em Bwa Kayiman, mas é considerado frequentemente o mesmo Deus da Igreja Católica de maneira informal. Bondje é distante de sua criação, e assim é que são os espíritos ou os "mistérios", "santos", ou "anjos" que o voduísta invoca para a ajudá-lo, assim como os antepassados. O voduísta adora a Deus, e serve aos espíritos, que são tratados com honra e respeito como se fossem membros mais velhos de uma casa. Diz-se que são vinte e uma nações ou "nanchons" dos espíritos, também chamadas às vezes "Lowa-yo". Algumas das nações mais importantes do Lowa são o Rada, o Nago, e o Kongo.

Os espíritos baixam também nas "famílias" que compartilham de um sobrenome, como Ogou, ou Ezili, ou Azaka ou Ghede. Por exemplo, "Ezili" é uma família, Ezili Dantor e Ezili Freda são dois espíritos individuais nessa família. A família de Ogou é de soldados, o Ezili governa as esferas femininas da vida, o Azaka governa a agricultura, o Ghede governa a esfera da morte e da fertilidade. No Vodu dominicano, há também uma família de Água Doce ou "das águas doces", que abrange todos os espíritos dos índios. Na encantaria brasileira, particularmente no Tambor de Mina, com forte influência do culto Jeje africano, onde há o culto aos Voduns, há a presença de famílias espirituais, como a dos nobres, da baía do lençol, etc.

No Vodu há centenas de lowas. Os lowas mais conhecidos são Dambala Wedo (o deus serpente), Papa Legba Atibon, e Agwe Tawoyo. No Vodu haitiano os espíritos são divididos de acordo com sua natureza em basicamente duas categorias, se são quentes ou frios. Os espíritos frios entram sob a categoria Rada, e os espíritos quentes entram sob a categoria Petro. Os espíritos de Rada são familiares e vêm na maior parte da África, e os espíritos de Petro são na maior parte nativos do Haiti e requerem mais atenção do que o Rada, mas ambos podem ser perigosos se irritados ou contrariados. Nenhum é "bom" ou "mau" com relação ao outro. Diz-se que todos os seres humanos possuem espíritos protetores, e cada pessoa é considerada como tendo um relacionamento especial com um espírito particular, que é dito "possuir sua cabeça", porém uma pessoa pode ter um lowa, que possui sua cabeça, ou "met tet", que pode ou não ser o espírito mais ativo na vida de alguém de acordo com os haitianos. Ao servir os espíritos, o voduísta busca conseguir a harmonia com sua própria natureza individual e o mundo em torno dele, manifestado como fonte de poder pessoal relacionado à vida. Parte desta harmonia é preservar o relacionamento social dentro do contexto da família e da comunidade. Uma casa ou uma sociedade de Vodu é organizada pela metáfora de uma família extensa, e os noviços são os "filhos" de seus iniciadores, com o sentido da hierarquia e da obrigação mútua que implica em respeito e continuidade, num sistema semelhante ao da Umbanda no Brasil.

A maioria de voduístas não-iniciada, é vista como "bosal"; não é uma exigência ser um iniciado a fim de servir aos espíritos. Há um clero no Vodu haitiano, cuja responsabilidade é preservar os rituais e as canções e manter o relacionamento entre os espíritos e a comunidade como um todo (embora isto seja responsabilidade de toda a comunidade também). Encarregados de conduzir o culto a todos os espíritos de sua linhagem, os sacerdotes são conhecidos como "Houngans" e sacerdotisas como "Mambos". Abaixo dos Houngans e das Mambos estão os Hounsis, que são os noviços que atuam como assistentes durante cerimônias e que são dedicados a seus próprios mistérios pessoais. Ninguém serve a qualquer Lowa somente de acordo com o próprio destino ou natureza. Os espíritos que uma pessoa tem como mentores pode ser revelado em uma cerimônia, em uma leitura, ou nos sonhos. Entretanto, todo voduista serve também aos espíritos de seus próprios antepassados de sangue, e este aspecto importante da prática do Vodu é frequentemente subestimado pelos estudiosos que não compreendem seu significado. O culto do antepassado é de fato a base da religião Vodu, e muitos Lowas como Agassu (um antigo rei do Daomé) por exemplo, são de facto, ancestrais que foram elevados ao grau de divindade.

Após um dia ou dois de preparação de altares, preparando ritualmente e cozinhando os alimentos rituais, um ritual de Vodu haitiano começa com uma série de preces e de cantigas católicas em francês, e então uma litania em Kreyol e no "langaj africano" que abrange todos os santos e Lowas honrados pela casa. Depois, uma série das invocações para todos os espíritos principais da casa. Isto é chamado o "Priyè Gine" ou prece africana. O ritual começa com a saudação ao espírito dos tambores chamado de Hounto (no Brasil a palavra designa um ritmo ou o chefe tocador dos atabaques nas nações Fon: Huntó). A seguir as cantigas para todos os espíritos individuais são entoadas, começando com a família de Legba com todos os espíritos de Rada. Segue-se um intervalo e a parte Petro do ritual começa, terminando com as cantigas para a família de Ghede. Ao serem entoadas as cantigas os espíritos virão visitar os presentes através da mediunidade, conversando e interagindo com eles. Cada espírito é saudado e cumprimentado pelos noviços presentes aos quais darão consultas, conselhos e curas àqueles que solicitarem por sua ajuda.

Muitas horas mais tarde nas primeiras horas da manhã, a última canção é entoada, despede-se os convidados, e todos os Hounsis, Houngans e Mambos esgotados podem ir dormir.

Individualmente, um voduista ou um "sevité"/"serviteur" pode ter um ou mais altares preparados para seus antepassados aos quais louvam com retratos ou estátuas, perfumes, alimentos, e outras coisas preferidas por eles. O altar mais básico é apenas uma vela branca e um copo de água e uma flor, configuração que lembra em muito os primeiros congás Umbandistas ligados à tradição de Zélio de Morais.

No dia de um espírito particular, acende-se uma vela e reza-se o Pai Nosso e Ave Maria, sauda-se Papa Legba e pede-lhe para abrir a porta, e então sauda-se ao espírito particular como um membro mais velho da família. Os antepassados são chamados diretamente, sem mediação de Papa Legba, já que são "do sangue".

Os valores culturais que o Vodu engloba giram em torno das idéias da honra e do respeito - a Deus, aos espíritos, à família, à sociedade, e a si mesmo. Há uma idéia particular de fundamentos próprios de cada Vodun, pois o que é apropriado a alguém que tenha como Vodun de cabeça um Dambala Wedo pode ser diferente de alguém com Ogou Feray, porque, por exemplo, um espírito está muito frio e outro está muito quente. O amor e a sustentação dentro da família da sociedade de Vodu parecem ser a consideração mais importante. A generosidade em dar à comunidade e aos pobres é também um valor importante. As dádivas vêm através da comunidade e há a idéia que deve-se estar disposto a retribuir por sua vez. Assim, não há "solitários" em Vodou, somente as pessoas separadas geograficamente de seus antepassados.

O Vodu Haitiano é antes uma tradição baseada na fertilidade e não discrimina homossexuais, ou pessoas de qualquer raça ou condição social. De fato, há hounfos, ou templos no Haiti cujo o clero é inteiramente de gays e lésbicas, etc. No Vodu Haitiano a orientação sexual de um praticante não é de nenhum interesse em um ambiente ritual. Entende-se apenas que aquela é a maneira em que o deus fez uma pessoa. Os Lowas ajudam a cada pessoa simplesmente a ser a pessoa que são.

Existe uma diversidade da prática no Vodu através do Haiti e da diáspora Haitiana. Por exemplo, no norte de Haiti o sèvis tèt ("lavagem de cabeça") ou o kanzwe pode ser a única iniciação, como na República Dominicana e em Cuba, enquanto que em Porto Príncipe e no sul praticam os ritos kanzo com três classes da iniciação – kanzo seltimo é a modalidade mais familiar da prática fora de Haiti. Algumas linhagens combinam ambos, como relata a Manbo Katherine Dunham de sua experiência pessoal em seu livro Island Possessed.

Ainda que a tendência geral de Vodu seja entendê-lo com suas raizes africanas, não há nenhuma forma definitiva de se praticá-lo, não há uma unidade ritualística, não codificação, só o que é certo em uma casa ou em uma linhagem particular. Os pequenos detalhes do serviço e dos espíritos servidos variarão da casa a casa, e a informação nos livros ou na Internet pode conseqüentemente parecer contraditória.

Não há nenhuma autoridade central ou "papa" no Vodu Haitiano já que "cada Mambo e Houngan são a cabeça de sua própria casa", como diz um provérbio popular no Haiti. Uma outra consideração importante é que existe no Haiti muitas seitas além do Sèvis Gine tal como o Makaya, Rara, e outras sociedades secretas, cada uma com seu próprio panteão distinto de espíritos.

O Vodu Haitiano influenciou o sul dos Estados Unidos, surgindo o sistema de mágica e religião popular conhecido como Voo Doo, que deriva primeiramente de práticas Congo e de Angola da África central. As melhores sobrevivências da religião possivelmente influenciada pelo Haiti no sul dos EUA, entretanto, se dá dentro das igrejas espirituais Africano-Americanas de Nova Orleans. Uma seita cristã fundada por Mae Leafy em meados do século XX que incorpora a iconografica católica, adoração extática derivada de formas pentecostais e espiritismo. Uma característica das igrejas espirituais de Nova Orleans é honrar o espírito americano nativo chamado falcão preto.

O Vodu veio ser associado na mente popular com os fenômenos como "Zumbis" e "bonecas do vodu". Enquanto há uma evidência etnobotânica que se relaciona à criação do zumbi", é um fenômeno menor dentro da cultura rural do Haiti e não uma parte da religião de Vodu em si. Tais coisas caem sob os auspícios do "Bokor" ou do feiticeiro antes que do sacerdote do Lowa Gine. A prática de furar com agulhas "em bonecas vodu" foi usada como um método de amaldiçoar um indivíduo por alguns seguidores do que veio a ser chamado "Nova Orleans Voodoo", que é um variante local do Vodu.

Esta prática não é original ao Vodu de Nova Orleans e tem base em dispositivos mágicos Europeus tais como as bonecas "poppet" e ainda nos nkisi ou o bocio da África ocidental e central.

Embora não sejam características da religião Hatiana, as bonecas feitas para turistas podem ser encontradas no Iron Market em Port-au-Prince, capital do Haiti. A prática tornou-se associada ao Vodu na mente popular através dos filmes de horror.

Disco urltra-raríssimo, aqui estão representadas algumas canções tradicionais do Vodu Haitiano. Percebe-se nitidamente a influência francesa na flauta e no mode de se tocá-la. A canção lembra, ainda, muitos grupos tradicionais do nordeste, talvez pela mesma mistura de influências musicais.


Para ou vir a faixa 10, "Contradanse - Avant simple and Meringue with flute", clique abaixo:





Abaixo, reportagem do Fantástico sobre o Vodu no Haiti:

Wednesday, June 04, 2008

Marku Ribas - Underground - 1972


Marku Ribas - Underground - LP - Philips - 1972
1. Zamba Ben; 2. 5 30 Schoelcher; 3. O Adeus Segundo Maria; 4. N'biri N'biri (Tradicional/Adpt. Marku Ribas) Música tradicional angolana; 5. Porto Seguro; 6. Pacutiguibê Iaô; 7. Madinina; 8. Tira Teima; 9. Matinic Moins; 10. Orange Lady;
Marku Antônio Ribas é gênio, além de mineiro de Pirapora. Dito isso, vale também lembrar que é músico de primeiríssima grandeza. Cantor. Compositor. Violonista. Percussionista. "É samba, é patchanga, é jazz, funk, reisado e batuque...", como descrito na biografia do seu site. Viveu sete anos na Martinica e na Jamaica, encontrando-se muitas vezes com Bob Marley.
Underground de 73, é um clássico pra quem entende da matéria. Com arranjos do maestro Erlon Chaves traz pérolas musicais como a maravilhosa “5,30 Schoelcher”, num arranjo impecável e letra memorável: “… raios solares entram na minha mente, iluminando o coração / e meu espírito contente me mostra a direção do mar…” Se você conhece a letra, só falta agora quebrar a moringa no chão e relaxar. “N’ Biri N’ Biri é nada menos que brilhante adaptação para música do folclore africano. “Pacutiguibê Iaô“ injeta percussão e suingue nos poros, num provável hit em homenagem à Umbanda… saravá! “Matinic Moins” mostra influências de sua estada de 7 anos na Martinica, com a verve latina em ação e guitarrinha a la Santana no final. “Orange Lady” é samba-fruit-rock (sic) com caldo e bagaço pra lá de dançantes e letra que narra um barraco no salão de baile às 3 da matina. Pegou geral!
Mas o destaque é mesmo a praieira “Zamba Ben”, clássico absoluto e verdadeiro hino do samba-rock. Gravada na época da ditadura militar, quase foi vetada pela impiedosa censura da época. Marku compôs a música original sem letra, a fim de usar sua voz como um instrumento. Um dos censores encasquetou com aqueles dialetos indecifráveis e pediu uma letra pra música ser aprovada. Marku escreveu a letra na hora e a música enfim foi liberada. No final, um drible aqui, uma pedalada lá e a música acabou sendo gravada da maneira original mesmo. É o craque a serviço dos bons sons.
Em 1978 gravou pela Philips o LP Barrankeiro, onde registrou de sua autoria "Quem sou eu?", "Maleme" e "A lua e o rio", entre outras, além de "Colcha de retalhos", clássico de Raul Torres, e "Kelé", parceria com João Donato e Djalma Correia. Em 1979 gravou pela Philips o Long Play "Cavalo das alegrias", com destaque para "Beira D'Água", com a participação vocal de Erasmo Carlos, co-autor da música "Maria Mariá", com Walter Queiroz, "Cirandando" e "Balaio da nega" com Armando Pittigliani e "Canção do sal" de Milton Nascimento.
Em 1980 gravou o LP "Mente e coração" pela Philips, com participação especial de João Donato, Ed Maciel, Jotinha e Bira Brasil. Destacam-se no disco as composições "Choro verde", de sua autoria, "Mente e coração", com Carlos Cao Jr, "As vozes não mentem" com Luizão Maia e "Novo dia" de Carlos Cao Jr. e Fatão Ribas. É uma das figuras principais na ópera Alabê de Jerusalém de Altay Veloso. Rodou o mundo sintonizado em novas sonoridades, lançou 12 discos no Brasil, e mais 2 na França. trabalhou com gente como Erlon chaves, Wilson das Neves, João Donato e Erasmo Carlos... abriu show do James Brown em barbados (!!!), gravou com os Stones no álbum "Dirty Work" (85)... viajou pela África, morou na França, no Caribe, tem história esse Marku, nesses 42 anos de carreira... No Brasil, não toca no rádio nem aparece na televisão; a mídia impressa lhe reserva duas ou 3 notinhas por ano. Uma pena. Iluminado, este homem transpira, por detrás de todo suingue, a atmosfera dos terreiros do Brasil numa alegria poucas vezes vista em nossa música...
Para ouvir a faixa 06, "Pacutiguibê Iaô", clique abaixo:


Maria Bethânia - Brasileirinho - 2003


Maria Bethânia - Brasileirinho - CD - Quitanda/Biscoito Fino - 2003

1.Salve As Folhas - Poema De Mário De Andrade; 2.Yáyá Massemba; 3.Capitão Do Mato; 4.Cabocla Jurema - Poema De Mário De Andrade; 5.Santo Antonio; 6.Padroeiro Do Brasil; 7.São João Xangô Menino - Ponto De Xangô; 8.Cigarro De Paia - Boiadeiro; 9. Sussuarana; 10. Senhor Da Floresta - Manuelzão E Miguilim; 11. Purificar O Subaé - Cantiga Para Janaína; 12. Melodia Sentimental;

Na convergência de suas diferenças e seus credos, o Brasil vê-se grandiosamente refletido sob o mais musical dos diminutivos. Neste disco, Bethânia alcança o ápice da expressividade. Sua voz, cristalina e dona de uma força única, chega a cortar o coração da gente, uma obra perfeita em todos os sentidos possíveis, chega a beirar o lendário e terá eco na memória de muitos num futuro onde o imaginário perdido das coisas de Umbanda provavelmente ainda terá lugar. Produzido por Maria Bethânia, com direção musical de Jaime Alem, Brasileirinho tem as participações especiais dos poetas Ferreira Gullar e Denise Stoklos, do grupo instrumental mineiro Uakti, do grupo de choro Tira Poeira e das cantoras Miúcha e Nana Caymmi.

Bethânia tem o dom de dar ao público a nítida e real sensação de viver ou ter vivido cada detalhe das letras. Cada canção, toda palavra, é uma passagem de sua vida e resume ou define suas emoções, sua evolução espiritual e seu amadurecimento profissional. Mergulhar em um texto, em uma canção exige sensibilidade, talento e doação. Maria Bethânia empresta seu corpo, sua voz e sua alma a tudo o que interpreta. Ela é toda, em cada parte. Ela parece cantar, tão e somente, a sua existência. É tão perceptível, palpável, como se ela mesma fosse autora e personagem de tudo, e, meu Deus, que clareza, que beleza, que doçura é essa que nos faz lembrar de tudo que há de mais puro nos terreiros do Brasil e, sim, não só com atabaques, mas com vários instrumentos nos levando para a atmosfera mais enigmáticas de nossos congás, tendas e ilês... Impossível de dizer qual a faixa mais perfeita, qual a a atmosfera alcançada mais legítima, quais os melhores arranjos. Todo o disco se complemente e se atrai, de uma faixa a outra, convidando-nos sempre para mais.

Um misto de dor e prazer que alimenta a alma e acalenta o coração. Bethânia é atemporal. Ela sobrevive aos modelos e padrões criados pela indústria fonográfica e pela mídia em geral, nesses dias estranhos de cantoras baianas de um timbre repetitivo em série e de cantoras que teimam em imitar os maneirismos evangélicos, levantando as mãozinhas prá cima e prá baixo, como se isso melhorasse a voz.

Sem dúvida, os orixás despertaram para vê-la e ouvi-la. Maravilharam-se com a limpidez de sua voz, inundaram o céu com as lágrimas de sua emoção. Aplaudiram e convocaram-se, mutuamente, para esse espetáculo inesquecível e receberam, finalmente, Maria Bethânia perante a plêiade de estrelas que a aguardavam para coroá-la como nossa cantora maior. Bethânia chega aos píncaros de um Olimpo já habitado por cantoras perfeitas como Clara Nunes e Clementina e torna-se uma deusa na terra, a cantar lembranças do céu entre os homens.

Para ouvir a faixa 03, "Capitão do Mato", clique abaixo:







Assista ao vídeo de "Ya Massemba" abaixo: