O Acervo do Templo da Estrela Verde foi criado como resgate das tradições musicais dos templos brasileiros,conhecidos como Umbandas,Encantarias e Nações. Inclui a recuperação de fonogramas antigos, que são salvos em arquivos digitais e o registro de todo tipo de manifestação musical desta origem. Aqui postamos comentários e exemplos dos discos já catalogados. Contatos: obashanan2@yahoo.com.br
Sunday, December 27, 2009
Saturday, October 17, 2009
Jim Doney (EUA) e Mestre Obashanan (Brasil)
Jim escutou nosso disco "Ayom Lonan" e ficou admirado com o fato de existirem ritmos de transe tão complexos no Brasil que lhe eram desconhecidos. Lhe dissemos que também somos estudiosos da "música das esferas" e depois de uma breve conversa, Jim nos convidou para uma "Jam" no espaço Kuikakali na Vila Madalena, onde fez algumas apresentações em sua visita ao Brasil. Foram quase oito horas de "viagens" intermináveis de improviso em percussão sacra e harmonias antigas e apesar da comunicação precária de ambos - conversávamos em "portunhol" e em "espaglês" - nos entendemos muito bem. Ficou o registro em vídeo e em áudio para no futuro compormos um disco juntos, quem sabe? Jim tornou-se nosso grande amigo e volta o ano que vem. Já marcamos mais um encontro de música e ritmos ancestrais!
Abaixo, em vídeo, alguns momentos da "Jam" de mais de oito horas:
Improviso 1:
Improviso 2:
Improviso 3:
Sunday, September 13, 2009
Pontos da Jurema - 2008
Pontos da Jurema - cd - Capitania das artes - 2008
A prática da Jurema nordestina, também conhecida como Catimbó, é parte de um longo processo de transformação e assmilações culturais que se difundem pela região, sendo encontrada nas comunidades indígenas e no interior de diferentes religiões afro-brasileiras. A Jurema compõe um complexo de concepções e representações em torno da planta Jurema e se fundamenta no culto de possessão aos mestres, cujo objetivo é curar os doentes e resolver os problemas práticos da vida cotidiana, como os infortúnios amorosos e profissionais. Além dos mestres, outra categoria de espíritos é significativa, o Caboclo, ao qual se atribui identificação indígena e conhecimento de ervas e raízes. Esse complexo inclui ainda a bebida preparada com a casca da Jurema e o uso da fumaça dos cachimbos nos rituais.
A organização interna do culto pod eser dirigida por homens ou mulheres. Os objetos litúrgicos, denominados de marcas, resumem-se no Maracá (uma espécie de chocalho), no cachimbo e na Princesa (uma bacia de louça com fumo). O acompanhamento faz-se por meio de instrumentos de percussão (Maracá e palmas), podendo ainda serem acrescidos os tambores Ilus. A cerimônia ritualística principal, do culto é a denominada mesa, realizadas em sessões reservadas de consulta ou durante as festas públicas de consagração dos juremeiros. A cerimônia mais frequente, no entanto é o Toque da Jurema, sessão pública destinada á consulta verbal ás entidades, por ocasião do transe mediúnico, para atender aos pedidos dos interessados. Em forma de roda, gira, os integrantes cantam e dançam, ao som dos Maracás e Ilus; bebem jurema, consomem bebida alcoólica e fumo, num continuum entre ordem e desordem, marcando o caráter lúdico e transgressor do ritual.
Este registro é belíssimo, trabalho ímpar de nosso mano, o mestre Luiz Assunção (veja a capacidade do homem aqui: http://lassuncao.blogspot.com/ ). Um disco muito bem produzido, com um cuidado poucas vezes visto na escolha de repertório, onde imperou principalmente o respeito incondicional à característica do canto e da interpretação ritual.
Olha Luiz, cabra da peste, que venham mais trabalhos como este do vasto mundo da Encantaria (quem sabe sobre o Baião de Cura, a Barquinha, da Baía do Lençol, do Sebastianismo - origem de tudo - ou as inúmeras manifestações do Daime?), pois é gente como você que traz de volta a unidade perdida das legítimas manifestações religiosas brasileiras, cada vez mais à sombra dos edifícios do nazismo neopentecostal.
Para ouvir a faixa 26, "Jurema, pau de ciência", clique abaixo:
Agora, o especial do Fantástico sobre Jurema!!
Wednesday, September 09, 2009
Bezerra da Silva - O rei do Coco - 1975
01 - O Rei Do Côco; 02 - Língua Grega; 03 - Valente Na Boca Do Boi; 04 - Côco De Itambé; 05 - Rapa Cuia; 06 - Côco Do Tato; 07 - A Coisa Mudou; 08 - Côco Do B; 09 - O Catimbozeiro; 10 - Vai Chover Hoje, Urubu; 11 - Lei De Bahia; 12- Rima de doê;
Bezerra da Silva (Recife, Pernambuco, 23 de fevereiro de 1927 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 2005) foi o cantor, compositor, percussionista e violonista brasileiro, considerado o embaixador dos morros e favelas. Cantou sobre os problemas sociais encontrados dentro das comunidades, se apresentando no limite da marginalidade e da indústria musical, pois seus principais temas foram os problemas sociais dentro das comunidades. É considerado um dos principais expoentes do samba do estilo partido alto, embora em seu início de carreira tenha começado a cantar cocos e forrós - foi o primeiro zambubeiro da banda de Zé Ramalho.
Desde sua infância foi ligado à música e sempre “sentiu” que tinha o dom de tocar, causando atritos com a família, principalmente com seu pai, da Marinha Mercante que saiu de casa quando Bezerra era pequeno, vindo morar no Rio de Janeiro. Bezerra, depois de também ingressar - e ser expulso - da Marinha, descobriu o paradeiro do pai e veio atrás dele, com o qual foi morar. Após muitas brigas, foi morar sozinho, no Morro do Cantagalo, trabalhando como pintor na construção civil, trabalhando a noite como percussionista. Logo entrou em um bloco carnavalesco, onde um dos componentes o levou para a Rádio Clube do Brasil, em 1950.
Nos anos sessenta, ficou sem emprego e durante sete anos viveu como mendigo nas ruas de Copacabana, onde tentou suicídio e foi “salvo” por um caboclo da Umbanda de um terreiro onde se tornou seguidor. A partir daí passou a atuar como compositor, instrumentista e cantor, gravando seu primeiro compacto em 1969 e o primeiro LP seis anos depois.
Inicialmente gravou músicas sem sucesso, cocos e forrós. Mas a partir da série Partido Alto Nota 10 começou a encontrar seu público. O repertório de seus discos passou a ser abastecido por autores anônimos (alguns usando codinomes para preservar a clandestinidade) e Bezerra notabilizou-se por um estilo Sambandido (ou Gangsta Samba), precursor mesmo do Gangsta Rap norte-americano. Antes do Hip Hop brasileiro, ele passou a transmitir do outro lado da trincheira da guerra civil não declarada: “Malandragem Dá um Tempo“, “Seqüestraram Minha Sogra“, “Defunto Cagüete“, “Bicho Feroz“, “Overdose de Cocada“, “Malandro Não Vacila“, “Meu Pirão Primeiro“, “Lugar Macabro“, “Piranha“, “Pai Véio 171“, “Candidato Caô Caô". Gravou ainda alguns discos de Exu pela antiga gravadora Tapecar e Cáritas, mas sem serem creditados seus vocais.
Morreu em 2005 após virar evangélico (já não estava mais lúcido!), aos 77 anos de idade, perto de completar 78, eternizando-se no mundo do samba.
Para ouvir a faixa 09 "O Catimbozeiro" clique abaixo:
Tuesday, September 01, 2009
Raul Seixas - Krig-Ha, Bandolo! - 1973
01-Introdução_Good Rockin' Tonight; 2-Mosca Na Sopa; 03-Metamorfose Ambulante; 04-Dentadura Postiça; 05-As Minas do Rei Salomão; 06-A Hora Do Trem Passar; 07-Al Capone; 08-How Could I know; 09-Rockxixe; 10-Cachorro Urubu; 11-Ouro de Tolo;
O público que se acostumou a ouvir no rádio sucessos como "Lágrimas Nos Olhos", com José Roberto, "Ainda Queima A Esperança", com Diana, ou ainda "Playboy", com os Blue Caps e "Doce Doce Amor", com Jerry Adriani (seu grande amigo), nunca imaginaria que todos este hits eram da autoria daquele baiano magérrimo e torto que aparecia sem camisa, costelas à mostra, na capa daquele LP de título estranho (na verdade, "Krig-Ha-Bandolo" era uma frase dita por Tarzan, nos antigos gibis), cujo sucesso, "Ouro De Tolo", estava nos primeiros lugares de todas as rádios do país. A letra desta canção, além de muito inteligente, mostrava a realidade de um cidadão classe média que "devia estar alegre e satisfeito por morar em Ipanema depois de ter passado fome por dois anos na Cidade maravilhosa".
Influenciado por vários setores da cultura - dos quadrinhos a clássicos da filosofia e do ocultismo (Veja a presença constante da cruz ansata que aparece na capa do disco, na palma da mão direita de Raul, ícone que ganharia ainda mais destaque nos discos seguintes.). A letra de "Mosca na sopa" é Schopenhauer: "Se a mosca, que agora zumbe em torno de mim, morre à noite, e na primavera zumbe outra mosca nascida do seu ovo, isso é em si a mesma coisa", mas para não deixar dúvida sobre sua fonte mais rica, em 1983 pegou do filósofo um trecho do capítulo "Morte" - do livro "Dores do Mundo" - para usar na música Nuit: "Quão longa é a noite do tempo sem limites, comparada ao curto sonho da vida".
Para ouvir a faixa "Mosca na Sopa", clique abaixo:
Aqui, o raríssimo vídeo original, podraço e funhanhado, mas importante:
Thursday, August 27, 2009
Afrique Vol. 1 - Collection du musée de l'homme -1952
Afrique Vol. 1 - Collection du musée de l'homme - VOGUE - LP - 1952
01.Acclamation des femmes; 02.Acclamations des femmes & Tambour Ogbon; 03.Chants des Mariwo; 04.Choeurs et tambours Ogbon; 04.Discours du Revenant et Choeurs des Mariwo; 05.Iwi Engungun; 06.Souhaits des revenants;
Este disco é raríssimo. Tão raro que até dói o osso ilíaco!! Existem apenas umas 50 cópias dele no mundo inteiro (se é que ainda existem, pois a gravadora o lançou apenas por causa do trabalho de Verger, mas não acreditava que o produto fosse vender), o que leva os colecionadores a se estapearem quando descobrem algumas delas. Eu mesmo dei umas bofetadas em uns três prá conseguir esse. As gravações foram feitas em um gravador de rolo, em condições absolutamente livres de qualquer acústica, no ambiente natural do templo do Benin.
Só para ilustrar, um culto a Baba Egun na África, do "Povo "Zangbeto" os Guardiões da Noite, um Culto Ancestral, patriarcal beninense.
Aqui, um emocionante registro de um Baba Egun, filmado em Lauro de Freitas/Bahia no Ase Opo Aganju, onde o Bàbálàwòrìsà é Obaray (Balbino Daniel de Paula), filho de Alapini Pedro... reparem na alegria do pessoal ao receber seu ancestral, por sinal muito simpático e amoroso!!!
Monday, August 24, 2009
KANGOMA NA AVENIDA PAULISTA
Saturday, August 22, 2009
Notas sobre o Ayom - Parte II - A importância da música ritual nos cultos brasileiros
E é assim que se processa, dentro de um rito de Umbanda (seja ligado às nações, encantarias, ou mesmo a rituais onde não há o uso de atabaques), as tensões necessárias ao êxtase e instase ritual, pois o clímax é atingido pelo inconsciente que se liga à descrição ritual e se abre às possibilidades de conexão com as consciências de outras esferas. O ritmo está presente no canto (nos terreiros que só cantam) nas palmas, nos instrumentos de percussão e mesmo nas orações e em sua estrutura poética e sua construção invocativa e evocativa.
E é pela relação do som grave com o corpo, que o atabaque RUM, o maior dos três (Os outros são o Rumpi, médio e o Lê, pequeno - nomenclatura Gêge) – induz ao transe mediúnico ou anímico, independentemente do culto que se exerça.
Encerrando, diremos que a música e os pontos cantados são o único elo existente entre todos os templos do Brasil e do mundo (pensemos, por exemplo, nas Américas... os cultos cubanos, por exemplo, de Palo Monte, Arará e Regla de Ocha são muitíssimo similares aos nossos). Nada mais fala tão forte pela unidade ritualística e pela origem comum de todos os terreiros e é a música que abre as portas de conexão com os mundos hiperlativos.
Daí nossa preocupação com os ditos festivais de curimba. É preciso saber que há uma grande diferença entre o que é sagrado e profano, entre ritualizar dentro dos templos com parcimônia, seriedade e consciência de que invocamos potestades sutilíssimas, puras e sumamente poderosas e de que estamos lidando com o inconsciente e com a saúde física, emocional, mental e espiritual de quem acorre a nossos templos ou de levarmos à clubes, estádios e praças a nossa música e toques, simulando contatos mediúnicos em ambientes inadequados e objetivarmos as disputas, vaidades e concorrência em nome do espiritual.
A escolha entre essas duas opções mostra muito bem o estado espiritual de quem o faz. Pois como diz a lenda do Ayom:
Xangô não perdoa quem profana o tambor.
Ayan Irê Ö!!
Obashanan
Friday, August 21, 2009
Zumbi somos nós - 2008
Zumbi somos nós - CD - Frente 3 de fevereiro - Independente - 2008
01.Quem policia a polícia?; 02-Batuque nagô; 03-Linha de frente; 04-Pare e olhe para a base; 05-Estado de sítio; 06-Eu vou subir ao céu; 07-Reza prá caboclo; 8-Canto para Xangô; 9-Canto para Oxum; 10-Periafricania/Brasileiro 2; 11-Já é hora de lutar; 12-Groove Berlim; 13-Por todas as partes; 14-Vamos prá palmares; 15-Zumbi Requilombo; 16-Diáspora;
A Frente 3 de fevereiro é um grupo transdisciplinar de pesquisa e ação direta que discute o racismo na sociedade brasileira. Sua abordagem cria novas leituras e coloca em contexto dados que chegam à população de maneira fragmentada através dos meios de comunicação. As ações diretas criam novas formas de manifestação sobre as questões raciais. Para pensar e agir em uma realidade em constante transformação, permeada por mudançãs culturais de diversas escalas e sentidos, se fazem necessárias novas estratégias. A frente 3 de fevereiro associa o legado artístico de gerações que pensaram maneiras de interagir com o espaço urbano à histórica luta e resistência da cultura afro-brasileira.
Um disco muito bom, onde o rap, a música de terreiro e outras manifestações da música brasileira se encontram com uma inteligência e propriedade poucas vezes vista. Particularmente esse disco nos é importante pois conta com a participação de um grande músico, nosso grande amigo de Kangoma, o Cássio Martins. Para conhecer mais sobre o projeto, visite:
http://www.frente3defevereiro.com.br/
Para ouvir a faixa 08, "Canto para Xangô", clique abaixo:
Wednesday, August 12, 2009
Homapãni Ashaninka - 2000
As informações da historiografia regional fornecem poucas indicações sobre a presença desse povo em território brasileiro. O padre francês Tastevin realizou várias viagens ao Alto Juruá nas primeiras décadas do século XX e localizou grupos Ashaninka no pé das colinas de Contamana, nas cabeceiras do rio Juruá-Mirim, afluente da margem esquerda do Alto Juruá. Em seu mapeamento dos grupos indígenas do Acre, baseado em fontes de viajantes e cronistas, Castelo Branco (1950: 8) afirma que eles já perambulavam nessa região no final do século XVII e no início do XVIII.
Distantes dos centros urbanos e dos eixos rodoviários, os Ashaninka não sofreram diretamente e de maneira intensiva os efeitos da expansão com a economia agropecuária que caracterizou a “segunda conquista” do Acre na década de 1970. Se os “paulistas” (nome pelo qual eram qualificados os novos colonos vindo do sul do Brasil) também adquiriram vários seringais na região do Alto Juruá para transformá-los em fazendas destinadas à criação de gado, o rio Amônia ficou relativamente afastado dessa frente de expansão, apesar de suas margens também terem sofrido desmatamentos para esse tipo de economia.
Os Ashaninka referem-se a essa época como um período de penúria e de fome, contrapondo-a à situação de fartura que existia no Alto Amônia quando eles viviam mais isolados dos brancos. Durante a década da madeira, o ritual do piyarentsi era freqüentemente invadido pelos posseiros, acusados de embriagar os índios com cachaça e de abusar sexualmente das mulheres. A música e as danças indígenas eram desprezadas pelos brancos, que levavam seus gravadores e impunham suas preferências musicais.
Em razão da presença dos brancos, a freqüência do Piyarentsi e do Kamarãpi diminuiu; alguns Ashaninka também deixaram de usar a Kushma (roupas lindíssimas de pano longo - uma prova de que nossos índios possuíam a tecnologia do tear. Os próprios Tupi-Guarani usavam essas roupas na época do descobrimento) e passaram a vestir-se como os regionais; a língua nativa era discriminada e muitos homens, constantemente solicitados no corte de madeira ou em outras tarefas a serviço dos brancos, deixaram progressivamente de fazer seu artesanato, de tal forma que certas peças, exclusivamente produzidas por eles, como o arco, as flechas e o chapéu, quase desapareceram.
Além dessa redução da atividade cultural do povo, o período de exploração madeireira é também considerado pelos Ashaninka como o momento de mais doenças e mortes. O contato intensivo com os brancos caracterizou-se pela multiplicação das doenças: gripe, pneumonias, coqueluche, sarampo, hepatite, febre tifóide, cólera...
Entre os Ashaninka, encontramos as características que definem os sistemas cosmológicos xamânicos presentes nas terras baixas da Amazônia: universo dividido em vários níveis; a existência de um mundo invisível por trás do mundo visível, o papel do xamã como mediador entre esses mundos etc. Talvez a particularidade Ashaninka resida na sua concepção extremamente dualista do universo, definindo claramente as fronteiras entre o Bem e o Mal.
Embora esse mundo esteja associado à morte e tenha sido qualificado por alguns como o “Inferno”, ele não é sempre apresentado como tal. Segundo o relato de Shomõtse, atualmente o Ashaninka mais idoso da aldeia Apiwtxa, o “Inferno” não se situaria nesse nível subterrâneo, mas estaria localizado no céu ou, mais exatamente, “em cima” (Henoki), e não “embaixo” (Isawiki). Lá existe um “grande buraco com água fervendo numa grande panela”. O dono desse lugar é Totõtsi, cuja principal tarefa é cozinhar os Ashaninka pecadores. A presença do “Inferno” em cima também se encontra em outros relatos, enquanto alguns informantes acreditam que esse lugar esteja situado debaixo da Terra.
A visão do branco (wirakotxa) aparece com destaque na mitologia nativa. O primeiro wirakotxa de que os Ashaninka do rio Amônia afirmam ter conhecimento é o espanhol que surge de um lago, em decorrência de um ato de desobediência do Inka ao seu pai Pawa, e vem perturbar a ordem do universo.
Em quechua, tiqsi significa "fundamento, base, início"; enquanto que wiraqutra provém da fusão dos vocábulos: wira (gordo) e qutra (que contém água - lago, lagoa). Na simbologia dos antigos andinos, a gordura era um símbolo da energia, e a água o elemento capital do ciclo vital do universo. O Viracotxa dos Ashaninkas é o mal que surge do lago, como vimos.
Para ouvir a faixa 04, Ashowiri, clique abaixo:
Sunday, August 09, 2009
CEGO OLIVEIRA - 1988
Compositor. Instrumentista. Tocador de rabeca. Cantador. Uma lenda da música brasileira!
Cego Oliveira não era exatamente cego, mas portador da visão subnormal. Ao registrar o mundo ocorriam-lhe alterações oculares que produziam interferências na sua maneira de olhar. Uma outra visão de mundo. Em geral, via mais longe com sua criatividade do que os que olham apenas por suspeita.
Natural do Juazeiro do Norte, no Ceará, em 1929 teve o primeiro contato com a rabeca, ao receber de um tio um desses instrumentos (lembrando que nossa Rabeca pouco tem a ver com o Violino europeu. É, antes, um instrumento de origem árabe/judaica - o Nefer, ou Rebab árabe -, cruzado com as Maracás de nossos índios - Maracás eram o nome dado não só aos chocalhos, mas aos violões e violinos Tupis-Guaranis).
Aprendeu a tocar por conta própria e a decorar os versos das cantorias com a ajuda de um irmão quer lia para ele os versos dos romances. Aprendeu a viver duramente como muitos de nossos heróis que insistimos em não ver - cegos as avessas que somos com nossa cultura (só vemos o que desejamos) -, pois estes se apresentam com a roupa rota, com os pés e as mãos calejados e o olhar triste de séculos de opressão e agonia. São uma amostra clara do Brasil que insistimos em negar e esquecer. Enfim, nos envergonhamos do que nos faz ilustres. O seu jeito de cantar e tocar traz a valência de todo o mistério religioso do nordeste, em especial as litanias católicas em paralelo com os lamentos indígenas. Há muito do aboio, de origem árabe, ecos de um oriente furioso, revelando ao mundo moderno o poder da ancestralidade modal e sua voz é o exemplo fustigante das rezas dos verdadeiros encantados, além dos temas onde morte, sofrimento, alegria e amor se combinam nas doses exatas para o deslumbramento.
Há algo que une cantadores do Brasil como Cego Oliveira aos primitivos Bluesmen americanos como Robert Johnson e Blind Lemon Jefferson (este também cego) além do sentimento de "Banzo" (palavra Quibundo significando tristeza que foi relacionada pelos afro-americanos à palavra inglesa "Blues"), mas apesar disso, há um interesse muito maior dos brasileiros pelo Blues americano do que pelos cantadores de nossa terra, quase sempre desprezados e esquecidos. A verdade é que o público brasileiro não sabe lidar com os valores que possui. Se fosse americano, Cego Oliveira seria conhecido e repeitado no mundo inteiro.
O tocador de rabeca morreu em 1977 com 94 anos, pobre e desconhecido.
O igualmente impressionante e único vídeo de Cego Oliveira, finalzinho de "Na porta dos Cabarés":
Saturday, August 08, 2009
Tribo Massahi estrelando Embaixador - 1972
Tribo Massahi estrelando Embaixador - LP - Reverse - 1972
Lado A: 01. Timolô, Timodê (1 - Walk By Jungle, 2 - Fareua, 3 - Harmatan, 4 - Dandara)
Disco raríssimo com apenas duas longas faixas em estilo jam, com quatro temas cada uma. Um misto de soul, ritmos latinos e africanos, com um clima lisérgico tão comum à época.
Parece que a banda tenta repetir a sonoridade de Fela Kuti (importantíssimo músico africano criador do afro-beat) com pitacos de Soul estilo Stax (na verdade lembra muito o disco malucaço do esquecido cantor de soul Miguel de Deus, o igualmente raro "Black Soul Brothers") e macumba brasileira. Um disco mal gravado, improvisadíssimo (com a galera aparentemente muito louca!), a banda parece que nem ensaiou, mandando tudo de primeira, mas é um time de músicos que comparece, principalmente os alabês!
Na verdade tudo que se refere a este disco é um mistério!
Quem tiver maiores informações, por favor, me mande.
Para ouvir excerto da faixa 02 - Lido's Square - Pai João, clique abaixo:
Thursday, August 06, 2009
ACERVO AYOM NA REVISTA + SOMA!!
http://www.mediafire.com/download.php?mmtmhm3onid
Saturday, August 01, 2009
A Índia Negra e os paralelos de união entre os cultos brasileiros
E mesmo que se pense em termos históricos e/ou tempos míticos, onde algumas correntes entendem que a Umbanda é mais nova que os Cultos de Nação e outras acreditam que ela é origem de todas as religiões do mundo, ainda assim, em ambos os conceitos há convergência, há conexão entre saberes muito antigos usados por todos. Partem de uma mesma fonte, ou são rios que se encontram num mesmo mar que só os apegados ao não-diálogo, à diversidade voltada ao ódio e à disputa não conseguem ver. Chegará um dia em que, finalmente, poderemos discutir com felicidade sobre fundamentos católicos, esotéricos, kardecistas, africanos, indígenas e tantos outros que fazem a Umbanda ser tão rica e tão maravilhosamente necessária ao colorido das opiniões diversas mas nunca contrárias em si e nem contraditórias em sua fenomênica e doutrina? Quem sabe?
Mas vamos ao que interessa: até prova em contrário que seja admitida pela ciência (pois ela mesma assim afirma, embora hajam ainda provas incontestes que podem revolucionar este conceito - o da origem humana em solo sul-americano), por volta de 50 mil anos atrás, povos negros deixaram o continente africano, adentrando a Europa, Ásia, e o continente americano modificando seu fenótipo em função dos diferentes ambientes que encontravam. Assim, a pele tornou-se branca pela ausência de sol, os olhos tornaram-se oblíquos pela adaptação a locais de muito vento, etc. No século V a.C, Heródoto afirmava existirem duas “nações etíopes”, uma na África, outra em Sind, região correspondente aos atuais territórios da Índia e do Paquistão.
Mas muitos podem perguntar: o que este texto tem a ver com a introdução? Aqui talvez esteja o paralelo existente entre as “Umbandas Africanistas” e as Nações Africanas dos Candomblés brasileiros, com seus mistérios milenares de 10.000 anos atrás e a “Umbanda Esotérica” de muitos fundamentos indianos, remontando a datas bem anteriores, de períodos míticos e pré-históricos. As origens são as mesmas e as conexões evidentes. Por isso o atabaque, Ifá e Orixá, chacra e reencarnação pertencem tanto a uma corrente quanto à outra em suas questões metafísicas mais profundas. Basta saber olhar.
P.S. – Já ia esquecendo: é claro que não veremos nenhum negro indiano na novela da globo, assim como muitos não querem que a África exista dentro da Umbanda e que a Umbanda tenha raízes com a Índia.
Ayan Irê Ô!
Friday, July 31, 2009
Yukihiro Takahashi - SARAVAH - 1974
Yukihiro Takahashi - SARAVAH - Compacto duplo - King Records - 1974
Lado A - Moody Indigo;
Lado B - Saravah!
Para ouvir a faixa "Saravah", clique abaixo:
Thursday, July 30, 2009
Kangoma na Feira Preta - Pílula de Cultura
Show do Kangoma na Feira Preta - evento Pílula de Cultura