Wednesday, April 23, 2008

Fernando Santos - 1978


Fernando Santos - CBS - LP - 1978
01.Obaluaê; 02.O Caboclinho; 03.Iemanjá; 04.Negor Zumbi; 05.Modaruê; 06.Iansã; 07.Africano (Marabú do Senegal); 08.Omulu; 09.Ibeji; 10.Olorum; 11.Orum;

Foi nos longínquos anos 70, quando ainda era criança, me lembro como se fosse hoje: um sábado chuvoso, acordei tarde porque tinha saído de madrugada da gira no terreiro em que militava e liguei a tv na antiga TV Tupi, se não me engano. Lá estava o Carlos Imperial, comandando um novo programa só de Discoteque, o ritmo da época. Carlos Imperial teve um dos programas mais influentes da música pop brasileira na década de 70. Antes, nos anos 60, conduzia o Clube do Rock, que apresentou nomes então desconhecidos como Roberto e Erasmo Carlos, Tim Maia e Jorge Ben. Além de apresentador, ele foi produtor musical, ator, jurado do Chacrinha e até vereador no Rio de Janeiro. Faleceu em 1992.
Para quem viveu aqueles dias, a Disco invadiu como erva daninha praticamente todas as áreas da música: de Bach ao Jazz, do Rock ao Samba, do Cinema aos quadrinhos (havia até uma super-heroína disco, chamada Cristal. Uma bobagem...) até o grupo de rock Kiss e os Sex Pistols, os inventores da onda Punk que iria ajudar a destruir o movimento dançante se renderam à moda. Tudo, absolutamente tudo, era Discoteque e praticamente todos precisavam flertar um pouco com ela para não serem discriminados ou passarem ao largo da história.
Ora, caros irmãos, até mesmo a Umbanda foi envolvida e Fernando Santos se jogou de cabeça na onda, misturando temas e ritmos dos terreiros ao baticum dançante do movimento das minorias de Los Angeles surgido nos Estados Unidos no início dos anos 70. E foi com a mesma sensação estranha que tive quando vi, na minha infância, ao vivo, o Fernando Santos rebolando de branco na minha TV preta e branca (na verdade mais preta do que branca devido a algumas válvulas queimadas), que encontrei, no milagroso You Tube, essa raridade que agora trazemos até vocês.
Carlos Imperial inicia o programa com uma frase polêmica e provocativa: "De norte a sul discute-se, é válido ou não é válido a umbanda em ritmo de discothéque. Você em casa, acenda a sua vela". E começa a surreal "Omulú".
No disco, Fernando Santos até que canta bem, e é nítida a tentativa de aproximar seu timbre de voz à rouquidão característica de Ronnie Von, que anos antes emplacou o sucesso "Cavaleiro de Aruanda." A banda de Fernando era formada por músicos sensacionais , um absurdo de precisão e técnica, a produção de William Luna é de primeiro mundo e os arranjos, para o universo Disco da época, são primorosos.
E Fernando sabia muito bem o que estava fazendo, pois pelo encarte e pelos temas das letras, nota-se tratar-se de alguém que conhecia a fundo a doutrina e todo o sistema afro-brasileiro, com seus mitos e símbolos, e embora as letras, conceitualmente não digam muita coisa - característica básica da Dance Music - Fernando Santos tenta dar o seu recado espiritual. Mas mesmo assim, convenhamos, soa estranho. Assim como surgiu, a Disco desapareceu e junto com ela, o Fernando, pois ninguém mais aguentava a batida, as roupas, os bailes e toda a atmosfera da Discoteque, que era tida como extravagante e que hoje, convenhamos até que é inocente, beirando o ridículo. Mas julguem os irmãos: será que dava prá convencer??? Há outros discos do cantor, mas não tão clássicos. E por onde andará Fernando Santos?

Para ouvir a faixa 11, "Orum", clique abaixo:



Abaixo, Fernando Santos, aos olhos de hoje, inacreditável!

Tuesday, April 22, 2008

O Polêmico Nei Lopes


MARCELO BERABA

da Folha de S.Paulo, no Rio.

O escritor e compositor popular Nei Lopes critica o afastamento de setores da umbanda das raízes africanas. "Essa umbanda não usa tambores e se pretende esotérica", diz. "É como se seus praticantes dissessem: 'Essa coisa de tambor, sacrifícios de animais, isso é coisa de selvagens! Nós somos civilizados'. Nessa oposição entre 'selvagem' e 'civilizado' é que está o racismo". Nei Lopes é o autor da "Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana" (Selo Negro Edições).

Folha- Como analisa a formação da umbanda?

Nei Lopes - O mito de origem da umbanda, na versão que tem como protagonista o médium Zélio de Moraes, é exemplar. Ele evidencia a busca de inserção dos despossuídos da sociedade brasileira no espaço religioso.Todo mito tem um fundo de verdade, que os eruditos chamam de "mitologema"; e, na história da umbanda, esse fundo é o episódio do médium Zélio. Mas antes já havia, além dos calundus coloniais, que não tinham organização social, comunitária, os candomblés, organizados, como se sabe hoje, desde antes de 1850. Na virada para o século 19, a ialorixá baiana Mãe Aninha vinha de vez em quando ao Rio, onde inclusive fundou, por volta de 1906, uma filial de sua "roça", o Opô Afonjá, que funciona até hoje em Coelho da Rocha, São João de Meriti [Baixada Fluminense]. E a umbanda, herdeira direta de cultos bantos como o da cabula, cresceu certamente sob a influência desse prestígio do candomblé baiano, incorporando as figuras dos orixás jeje-nagôs e outros elementos. Mas o que fundamentalmente distingue a umbanda é o culto aos pretos-velhos, que não existem no candomblé. E esses pretos-velhos são representações de espíritos familiares bantos, da área de Angola, Congo e Moçambique (África centro-ocidental e oriental), daí seus nomes: Vovó Conga, Pai Joaquim de Angola, Tia Maria Rebolo, Pai Joaquim de Aruanda. O candomblé vem do Benin, da Nigéria, da África ocidental.
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Folha- Como o sr. se define sob o ponto de vista religioso?


Lopes - Minha mãe recebia uma preta-velha, mas não era umbandista. Nós tínhamos lá em casa nosso culto doméstico. Hoje eu cultuo orixás. Mas não sou candomblecista, como aliás já fui. Eu me dedico à forma de culto que em Cuba se conhece como santeria, que inclusive já tem muitos adeptos no Brasil. E cultuo esses orixás na minha casa. A definição, então, não é fácil. E por isso eu proponho que o IBGE inclua tudo na rubrica "religião africana", ou "religião de matriz africana", onde a umbanda, por ser cada vez mais sincrética, talvez já não caiba mais.
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Folha- Qual é a diferença que o sr. distingue entre o candomblé e a santeria cubana?


Lopes - As diferenças são poucas, mas significativas. Restringem-se quase exclusivamente a particularidades litúrgicas, uso de instrumentos (aqui atabaques daomeanos, percutidos entre as pernas do tocador; lá, batás nigerianos, levados a tiracolo); diferenças nos elementos que compõem os assentamentos dos orixás etc. E é tudo uma questão de procedência: o candomblé da Bahia é basicamente um produto de Quêto, um reino localizado no atual Benin, antigo Daomé; e a santería cubana vem de Oyó, um outro reino, de onde parece ter vindo, também, o xangô de Pernambuco, que guarda muito mais semelhanças com a santeria que com o candomblé, principalmente no destaque que dá ao culto de Orumilá ou Ifá, o grande orixá do saber, do conhecimento, dono do Oráculo, em torno do qual gravita todo o conhecimento sobre os outros orixás iorubanos (nagôs, lucumis, ijexás etc.), sua mitologia e a liturgia do seu culto.
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Folha- A umbanda aparentemente vem perdendo espaço para outras religiões. O sr. tem essa percepção?


Lopes - Todas as religiões de matriz africana vêm perdendo espaço para a truculência neopentecostal. Truculência que chega à agressão física, como na Bahia.
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Folha- Muita gente que freqüenta centros não se declara umbandista. Por que será? Por medo? Vergonha?


Lopes - Essa ocultação é conseqüência do racismo brasileiro. A maioria das pessoas tem vergonha de assumir alguma coisa que remeta à África, à escravidão. Cultura negra só se for desafricanizada... é aí que a gente chega a uma coisa interessante. Existe uma vertente da umbanda que inclusive nega a origem africana da religião, buscando suas raízes na Índia. Tentam até provar que o nome umbanda (que deriva do quimbundo mbanda, ritualista, curandeiro) vem do sânscrito. Essa umbanda não usa tambores e se pretende esotérica; e é ela que vem se expandindo pela América do Sul e pelo mundo. É como se seus praticantes dissessem: "Essa coisa de tambor, sacrifícios de animais, isso é coisa de selvagens! Nós somos civilizados". Nessa oposição entre "selvagem" e "civilizado" é que está o racismo. Então, a intenção dos espíritos acolhidos pelo médium Zélio Moraes há cem anos parece que está se frustrando.

Thursday, April 03, 2008

Atenção!!!


Algumas postagens foram sabotadas por uma pessoa que estava hospedando as músicas para nós em seu provedor. Infelizmente estamos cercados de vários indivíduos que são contra o resgate da música umbandista, que só estão na Umbanda pela vontade do lucro fácil e ao serem confrontados com o compromisso espiritual se vêem perdidos como cegos guias de cegos e tomam atitudes como essa. Em breve restauraremos os linques e voltaremos a postar normalmente. Peço um pouco de paciência a todos.

Saravá a todos!