"Éyin omo onilù a fi àrán bantè sosán
Omo agbórí odó lù fún Eégún
Omo agbóríi odó lù fún òòsá
Orò Korin lò Ayan tundè l'Ayè!!!"
(Vocês, da linhagem do tambor, que embelezam seus instrumento com panos e cordas de veludo...
Descendentes daqueles que fizeram o fundamento para o primeiro tambor de Egun...
Descendentes daqueles que fizeram o fundamento para o primeiro tambor de Orixá...
Toquem e cantem, para Ayan voltar à Terra!!)
Primeiro verso dos cânticos sagrados de Ayom.
Hoje os Alabês constituem-se numa das classes mais interessantes dentro das comunidades-terreiros do Brasil.
O nome ALABÊ é de origem Yorubá. Designa, dependendo da entonação, uma cabaça coberta de búzios, um dos símbolos de Ayom/Ayan/Aña e por extensão dos músicos-sacerdotes. Pode significar ainda, num sentido mais profundo, ALÁ – O pano branco; ABÊ – profundidade, aqueles que conhecem a origem, uma alusão ao aspecto Funfun de Ayom.
O nome ALABÊ é de origem Yorubá. Designa, dependendo da entonação, uma cabaça coberta de búzios, um dos símbolos de Ayom/Ayan/Aña e por extensão dos músicos-sacerdotes. Pode significar ainda, num sentido mais profundo, ALÁ – O pano branco; ABÊ – profundidade, aqueles que conhecem a origem, uma alusão ao aspecto Funfun de Ayom.
Ainda que no Brasil erroneamente sejam chamados apenas de Ogãs, os músicos dos templos brasileiros (que podem ser também chamados de Tabaqueiros, Batuqueiros, Xicarangomas, Huntós e outras designações, segundo a tradição a que pertençam...) enfrentam uma posição no mínimo paradoxal dentro destes mesmos templos... É inegável que um dos fatores que mais chamam a atenção é a orquestra ritual e mesmo que o templo conduza os trabalhos apenas com cânticos, ainda assim a música é o ponto de partida mais eficaz e completo para estabelecer o contato com o mundo espiritual. E apesar de toda essa importância, os Alabês são considerados, na maior parte das casas, personagens secundários, no sistema.
Babalawôs da sociedade Oshogboni. Todos são músicos-sacerdotes.
E por que isso acontece? Há que se lembrar que os músicos dos templos raramente aprendem sua atividade com o Pai ou a Mãe de Santo. Aprendem, sim, com um músico mais velho da casa que são verdadeiras fontes vivas dos cânticos e dos toques sagrados. Tal procedimento se destaca de tal maneira que sugere uma espécie de iniciação paralela, onde os segredos rítmicos e as invocações, e a maior parte dos fundamentos muitos sacerdotes desconhecem.
E por que isso acontece? Há que se lembrar que os músicos dos templos raramente aprendem sua atividade com o Pai ou a Mãe de Santo. Aprendem, sim, com um músico mais velho da casa que são verdadeiras fontes vivas dos cânticos e dos toques sagrados. Tal procedimento se destaca de tal maneira que sugere uma espécie de iniciação paralela, onde os segredos rítmicos e as invocações, e a maior parte dos fundamentos muitos sacerdotes desconhecem.
Olubatás africanos com tambores consagrados a Ayan
Mas existe uma explicação: na antiguidade, quatro eram os tipos de sacerdotes: o Babalorixá, que detinha o segredo do culto às potestades; o Babalossain, senhor dos segredos da terra e das ervas, da medicina e da flora; o Babaojê, sacerdote responsável pelo culto aos mortos, ao renascimento e aos mistérios da morte e o Babalawô, o "pai do segredo", o único autorizado a movimentar os segredos de Ifá e os mistérios do Okpelê e do Opon, jogos oraculares de extrema complexidade.
Todos estes sacerdotes se completavam num único e sólido sistema. Assim, surgiram sociedades secretas que primavam pela manutenção e integridade do culto. Ora, na antiguidade (até mesmo entre os egípcios, indianos, gregos e chineses) a música era o termômetro e o aferidor da igualdade entre os diversos templos. Ela deveria ser basicamente a mesma em todas as casas de iniciação, com o mínimo de variações possíveis, para que pudesse haver uma estabilidade de culto. E esta estabilidade é que conferia coesão a todas as partes do estado, reino ou império.
Mas existe uma explicação: na antiguidade, quatro eram os tipos de sacerdotes: o Babalorixá, que detinha o segredo do culto às potestades; o Babalossain, senhor dos segredos da terra e das ervas, da medicina e da flora; o Babaojê, sacerdote responsável pelo culto aos mortos, ao renascimento e aos mistérios da morte e o Babalawô, o "pai do segredo", o único autorizado a movimentar os segredos de Ifá e os mistérios do Okpelê e do Opon, jogos oraculares de extrema complexidade.
Todos estes sacerdotes se completavam num único e sólido sistema. Assim, surgiram sociedades secretas que primavam pela manutenção e integridade do culto. Ora, na antiguidade (até mesmo entre os egípcios, indianos, gregos e chineses) a música era o termômetro e o aferidor da igualdade entre os diversos templos. Ela deveria ser basicamente a mesma em todas as casas de iniciação, com o mínimo de variações possíveis, para que pudesse haver uma estabilidade de culto. E esta estabilidade é que conferia coesão a todas as partes do estado, reino ou império.
A música e o mistério de Ayom estavam entre os últimos aprendizados dos Babalawôs de mais alto grau, fazendo do conhecimento do som e dos éteres como a quinta fase sacerdotal. Quando atingiam esse nível eles eram chamados de ALAGBÁS, os "Sacerdotes Anciões", aqueles que impõem respeito ou ocupam um lugar de honra. Ainda hoje, ALAGBÁS são os chefes do mistério dos cultos egungun (este culto possui uma relação muito estreita com os fundamentos dos tambores, nos sentidos invocatórios e de transe) e todos, Babalorixás, Babalossains, Babaojes e Babalorixás, quando em seu mais alto grau, detinham esse título.
Fundamento de Ayom/Ayan/Aña com os símbolos dos Guerreiros, Mães, Reis e dos Funfun, representados por Ayan, e os sete tambores de fundamento. No TEV - Templo da estrela verde - SJRP
Por motivos políticos, em determinada época, houve uma revolta entre aqueles que não queriam ser vistoriados e aferidos. Os Alagbás foram perseguidos – talvez levassem consigo a maldição contida nas lendas de Ayom, onde o músico deverá lidar para sempre com emoções, ambientes e sentimentos infernais. Estes foram torturados, mortos e/ou tornados escravos, muitos deles sendo vendidos para o tráfico, já em tempos mais recentes. A sua atividade foi reduzida ao status da submissão aos outros sacerdotes, que passaram a lhes chamar de ALAGBÊS – os mendigos (Alá – gbés: perder-se no pano branco, estar perdido para o céu, os decaídos). A lembrança deste título permanece até hoje, na iniciação de muitos Alabês no Brasil e em outros países das américas: o ritual da salva no chão, onde se coloca dinheiro nos pés do atabaque, além do hábito de muitos Alabês serem itinerantes, cobrando para tocar nos templos.
Maldição? Tradição? Talvez ambas. Onde uma começa e outra acaba?
Analisando esses fatores, percebemos que há raríssimos Babalawôs que são verdadeiros Alagbás, pois além de traduzirem o cargo de sacerdotes dos Orixás, conhecerem profundamente o mistério das ervas, atenderem as necessidades dos cultos dos ancestrais e serem profundos perscrutadores dos mistérios do Ifá, conhecem também os mistérios do Ayom, dos toques e ritmos sagrados.
Maldição? Tradição? Talvez ambas. Onde uma começa e outra acaba?
Analisando esses fatores, percebemos que há raríssimos Babalawôs que são verdadeiros Alagbás, pois além de traduzirem o cargo de sacerdotes dos Orixás, conhecerem profundamente o mistério das ervas, atenderem as necessidades dos cultos dos ancestrais e serem profundos perscrutadores dos mistérios do Ifá, conhecem também os mistérios do Ayom, dos toques e ritmos sagrados.
Ayom, do Eterno Retorno, aquela que sempre renasce com as canções de Oshupá Iwènumòó, a Lua Nova da Purificação.
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