Pontos da Jurema - cd - Capitania das artes - 2008
A prática da Jurema nordestina, também conhecida como Catimbó, é parte de um longo processo de transformação e assmilações culturais que se difundem pela região, sendo encontrada nas comunidades indígenas e no interior de diferentes religiões afro-brasileiras. A Jurema compõe um complexo de concepções e representações em torno da planta Jurema e se fundamenta no culto de possessão aos mestres, cujo objetivo é curar os doentes e resolver os problemas práticos da vida cotidiana, como os infortúnios amorosos e profissionais. Além dos mestres, outra categoria de espíritos é significativa, o Caboclo, ao qual se atribui identificação indígena e conhecimento de ervas e raízes. Esse complexo inclui ainda a bebida preparada com a casca da Jurema e o uso da fumaça dos cachimbos nos rituais.
A organização interna do culto pod eser dirigida por homens ou mulheres. Os objetos litúrgicos, denominados de marcas, resumem-se no Maracá (uma espécie de chocalho), no cachimbo e na Princesa (uma bacia de louça com fumo). O acompanhamento faz-se por meio de instrumentos de percussão (Maracá e palmas), podendo ainda serem acrescidos os tambores Ilus. A cerimônia ritualística principal, do culto é a denominada mesa, realizadas em sessões reservadas de consulta ou durante as festas públicas de consagração dos juremeiros. A cerimônia mais frequente, no entanto é o Toque da Jurema, sessão pública destinada á consulta verbal ás entidades, por ocasião do transe mediúnico, para atender aos pedidos dos interessados. Em forma de roda, gira, os integrantes cantam e dançam, ao som dos Maracás e Ilus; bebem jurema, consomem bebida alcoólica e fumo, num continuum entre ordem e desordem, marcando o caráter lúdico e transgressor do ritual.
Este registro é belíssimo, trabalho ímpar de nosso mano, o mestre Luiz Assunção (veja a capacidade do homem aqui: http://lassuncao.blogspot.com/ ). Um disco muito bem produzido, com um cuidado poucas vezes visto na escolha de repertório, onde imperou principalmente o respeito incondicional à característica do canto e da interpretação ritual.
Olha Luiz, cabra da peste, que venham mais trabalhos como este do vasto mundo da Encantaria (quem sabe sobre o Baião de Cura, a Barquinha, da Baía do Lençol, do Sebastianismo - origem de tudo - ou as inúmeras manifestações do Daime?), pois é gente como você que traz de volta a unidade perdida das legítimas manifestações religiosas brasileiras, cada vez mais à sombra dos edifícios do nazismo neopentecostal.
Para ouvir a faixa 26, "Jurema, pau de ciência", clique abaixo:
Agora, o especial do Fantástico sobre Jurema!!