O Alabê de JerusalémCoisa séria, muito séria, fez meu amigo Altay Veloso. Durante 20 anos ele acalentou um sonho: fazer uma ópera ecumênica, um musical que reunisse grandes artistas brasileiros ao redor de um tema: a tolerância religiosa. Criado nos terreiros de Umbanda, mas tendo católicos e protestantes na família, Altay quis mostrar que todas as crenças podem conviver harmonicamente, porque, no fundo, bem lá no cerne dos fundamentos, todas elas querem a mesma coisa.
Mas o projeto do Altay era ambicioso demais e ele não tinha patrocínio. Aí vendeu uma casa que tinha, pegou todo o dinheiro que acumulou com direitos autorais - estamos falando de alguém que tem músicas gravadas por Roberto Carlos, o que não é pouca coisa - e se mandou para a África e para o Oriente Médio. Foi na fonte: Daomé, Israel. Encontrou conexões históricas entre a mitologia dos continentes e a liturgia das religiões e fez com que um Alabê encontrasse Jesus e se tornasse seu braço direito. A história criada pelo compositor ficou tão real que ele próprio disse ter sentido a presença de Alabê durante as gravações do musical.
Alabê de Jerusalém é, na minha opinião, o que de mais importante se fez em matéria de espetáculo musical no Brasil. Mesmo que a ópera ainda não tenha sido encenada, por falta de verba - afinal, é tão grandiosa que só um patrocínio forte seria capaz de colocá-la num teatro mais de uma vez. Para a produção do livro, do CD e do DVD, Altay contou apenas com o próprio bolso e com a amizade dos artistas que apostaram no projeto e abriram mão do cachê. Tá todo mundo ali. A velha guarda do samba, os roqueiros, os bregas, os sertanejos, o povo do rap, da MPB comportadinha, os eruditos. Nunca um projeto conseguiu tal proeza. Só não estou eu!!! Que vontade de participar disso, minha gente!! O DVD - encontrando, compre imediatamente - é de deixar qualquer um desidratado de tanto chorar.
O meu pacote chegou, o pacote completo, que está aí embaixo na foto...
Minha gente, não copiem, comprem o original!! É um produto muito bom, maravilhoso mesmo, seja na qualidade sonora, na produção do vídeo, na mensagem espiritual! E o preço é justíssimo, super barato se analisarmos a quantidade e a qualidade do material enviado: um livro, um DVD, um cd duplo, chaveirinho, cartões postais, embalagens de primeira, tudo por 100 reais!!
O Altay merece vender muitos e muitos exemplares para que ele possa encenar a peça aqui em São Paulo e no Brasil inteiro. Se fosse lá fora, ele lotaria os teatros durante pelo menos 5 anos, sem se esforçar, mas aqui, uma obra deste quilate e ainda Umbandista, quem é que se interessa? Há muitos momentos emocionalmente impactantes, como a abertura, o tema de João Batista e do Menino Jesus, se não me engano com cantores evangélicos (!), sem problema nenhum!! As músicas são de uma complexidade intrincadíssima, os temas são tão belos e complexos que a atenção de alguém como eu que sou músico vai às raias da obsessão. Cláudio Infante arrasa na bateria e o tecladista toca com uma amor e alegria tão grandes que qualquer músico tem de tomar aquelas imagens como uma lição de ética, pois a galera foi gravar na boa, ajudando o Altay com o máximo de dedicação e postura.
Há ainda a interpretação absurdamente perfeita de Marcus Ribas, um dos papas do Samba rock, com um vozeirão simplesmente sobrenatural!! Há a resposta aos intolerantes - um rap sensacional, com a Sandra Sá e o Cláudio Zoli mostrando a munição que não mostram em suas carreiras-solo. E a resposta do Alabê às acusações, que faz qualquer adepto da banda se levantar do sofá a aplaudir de pé, com o punho em riste e o coração lavado!! Só de lembrar, dá arrepio, pessoal!!
Resumindo: Alabê é um africano que, por acaso, acaba cruzando o caminho de Jesus Cristo, de quem se torna grande amigo. Ele acompanha de perto a saga do filho de Javé e, ao seu lado, vive também a sua história e a sua fé. Passados muitos anos, Alabê baixa num terreiro, para contar o que viu e pregar o ecumenismo, mostrando que não há muita diferença entre a Bíblia e o Alcorão, entre a Umbanda e a Igreja Católica. O cavalo de Alabê é Altay Veloso, o pai-de-santo que o incorpora e narra a história entre uma música e outra. Encontrei um trecho no Youtube. É curtinho, mas emocionante. É o canto primeiro da ópera, gravado em estúdio, que antecede o momento da "descida" do Alabê. Baixem o vídeo, entrem no
site.